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Presa há 50 anos, integrante de seita que matou estrela de cinema ganha liberdade


 

Leslie Van Houten integrava a "Família Manson", grupo que cometeu crime que marcou a cultura pop mundial

  • Flavio Oliveira

Publicado em 15/07/2023 às 05:07:42
‘A Família’ era liderada por Charles Manson, que dizia ser a reencarnação de Cristo e pregava uma guerra racial. Crédito: Departamento de Correção e Reabilitação da Califórnia

A americana Leslie Van Houten, presa há 50 anos por assassinato, ganhou direito à liberdade condicional pelo período de três anos, quando passará por uma revisão na terça (11). A sentença – debatida há anos - chocou os Estados Unidos tanto quanto os crimes cometidos pela seita à qual Leslie pertencia. “A Família Manson” – como o grupo se chamava e ficou conhecido – era formada por seguidores fanatizados do maníaco Charles Mason e, entre outros crimes, assassinou, em agosto de 1969, Sharon Tate atriz jovem, bela, talentosa e grávida de 8 meses. O grupo usou o sangue da vítima para escrever “porco” na parede da mansão onde a vítima morava, em Hollywood. O homicídio marcou a cultura pop como nenhum outro, virando tema de diversos filmes, livros, séries de TV.

Leslie, hoje com 73 anos, não participou do assassinato da atriz. Segundo relatos, ela demonstrou irritação por não ter participado do crime enquanto assistia as notícias do homicídio pela televisão. Seu comportamento chamou a tenção de Manson, que a convocou para um novo assassinato. O líder da seita também não estava entre aqueles que mataram Sharon Tate, e classificou o crime como uma “bagunça”. E ele mesmo resolveu mostrar como fazer um homicídio da maneira correta.

Manson, Leslie e dois outros membros da “Família” rodaram um bom tempo até encontrar o alvo. Eles invadiram a residência do comerciante Leno Labianca e sua esposa, Rosemary. Leslie participou ativamente da morte de Rosemary e, segundo testemunhas, relatou que depois que a vítima morreu, cada facada ficava mais divertida. Segundo um legista, Rosemary recebeu mais de 40 facadas. Em referência à morte de Sharon, na noite anterior, as paredes foram marcadas com as inscrições “morte aos porcos” e “Healter Skelter”, título de uma música dos Beatles. Nove assassinatos são atribuídos a "Família".

Leslie, Manson e outros membros da “Família” foram encontrados pela polícia e condenados à morte, depois transformada em prisão perpétua. Manson morreu encarcerado, em 2017. Uma de suas últimas imagens o mostra barbudo, grisalho e com uma suástica nazista tatuada na testa. Leslie é a primeira a ser solta. A irmã de Sharon Tate, Debra, se manifestou e se disse que assustada “com uma assassina à solta”.

Leslie ingressou na “Família” aos 19 anos. Antes da separação dos pais, quando tinha 14 anos, ela levava uma vida tradicional, estudava e frequentava igrejas. Na adolescência e em meio ao clima da revolução hippie, que teve a Califórnia com epicentro, ela usou drogas e se aventurou em viagens de carona pelos EUA. Foi numa dessas viagens que entrou no rancho de Manson.

Antes de criar sua seita, Manson fracassou como ator e cantor. Ele dizia ser a segunda vinda de Jesus Cristo à Terra. Teve uma estranha "revelação" ao ouvir a música dos Beatles, que acreditava trazer uma mensagem subliminar de que era preciso inverter a ordem e iniciar uma guerra racial apocalíptica. Autor da canção, Paul McCartney declarou que em nenhum momento falou em guerra racial ou apocalipse, apenas de momentos de altos e baixos que se sucedem na vida. Ainda assim, por muitas décadas, se recusou a tocar a música, que considerava ter sido “sequestrada” por Mason e seu grupo.

Inexpressivo artisticamente, Manson virou alvo de um estranho culto. O crime o transformou em um personagem de certa forma até mítico, citado em letras de canções e filmes que, de alguma maneira, fazem ecoar sua mensagem extremista. Mas para além do pop que não poupa ninguém, trata-se de uma personalidade que precisa ser estudada. Da mesma forma que as de seus seguidores. É importante entender – ainda mais nesses tempos de fake news, extremismos políticos e religiosos, de violentos ataques racistas, homofóbicos e machistas - os mecanismos da dominação psicológica, da fanatização, radicalização e do chamado comportamento de manada (quando as pessoas seguem o movimento das massas sem se questionar).

Ao buscar a liberdade, nas diversas vezes que recorreu, Leslie afirmou que Manson explorou suas vulnerabilidades e convenceu de ele era, de fato, a reencarnação de Jesus. O conselho de liberdade condicional justificou sua decisão dizendo que Leslie “demonstrou esforços extraordinários de reabilitação, percepção, remorso, planos realistas de liberdade condicional, apoio de familiares e amigos” e “relatórios institucionais favoráveis”. Debra Tate, ao justificar seu medo e inconformismo com a liberdade de Leslie, falou que teme que assassina volte a recorrer a “seus métodos de matar num piscar de olhos” e que quando uma pessoa segue no “caminho escuro” é difícil voltar. Mais um capítulo a ser acompanhado, registrado, analisado e debatido. Mas é bom ter em mente que casos particulares, particulares são e nem sempre representam o todo e são parâmetros para outros.

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O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, compareceu à CPMI de 8 de Janeiro na terça (11). Sua participação nos ataques aos poderes é investigada por causa de um plano visto em seu celular. Ao abusar do direito de ficar calado, acabou denunciado ao STF.

Crédito: Lula Marques/ Agência Brasil

Demorou, mas aconteceu: empresa recebe 1ª multa da LGPD

Implementada em setembro de 2020, a Lei Geral de Proteção aos Dados (LGPD) fundamentou a primeira multa no Brasil. A Telekall Infoservice, empresa do ramo de telefonia, sediada em Vila Velha (ES), foi punida em R$ 14.400 por comercializar dados pessoais ao oferecer uma lista de contatos de WhatsApp para disseminação de material de campanha eleitoral em 2020, e por não possuir profissional encarregado pelo tratamento de dados pessoais cadastrados pela empresa, conforme prevê a legislação.

A LGPD visa proteger os dados e os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade dos usuários da internet. Segundo a lei, um banco, por exemplo, não pode enviar mensagens pelo WhatsApp oferecendo serviços ou refinanciamentos. Só se tiver sido autorizado pelo consumidor. A LGPD, entre outros importantes avanços, impede o compartilhamento de dados pessoais (CPF, telefone, etc.) sem a expressa autorização dos consumidores.

Especialistas em marketing já anunciaram que os dados são o petróleo do futuro. E eles são gerados e recolhidos a todo momento durante a navegação na internet. A invasão de privacidade tem fim comercial – e também político, como demonstra o caso que gerou a multa inédita - e pode se tornar abusiva e criminosa, com uso indevido de CPFs.

Que não pare por aí e outras multas venham, para “tirar a LGPD” do papel e disciplinar as empresas e garantir, de fato, liberdade, privacidade e o direito à posse e uso de seus dados aos cidadãos brasileiros.

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