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Sabia que a Bahia já representou o Brasil em campo? Foi em 1957


 

Jogadores da Seleção Baiana disputaram dois jogos contra o Chile, pela extinta Taça O'Higgins

  • Da Redação

Publicado em 27/04/2018 às 08:34:00
Atualizado em 18/04/2023 às 08:30:09
. Crédito: Arquivo de Djalma Leal

Poucos lembram, mas há pouco mais de 60 anos a seleção baiana representou o futebol brasileiro, em duas partidas contra o Chile, em Santiago, na disputa pela Taça O’Higgins de 1957. Não fez feio, apesar do pouco tempo para treinamento. Perdeu um jogo, ganhou outro e foi derrotada numa prorrogação tumultuada e com um gol polêmico.

A então Confederação Brasileira de Desportos (CBD, depois substutuída pela CBF) estava focada exclusivamente nos preparativos para a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, e por isso escolheu a Seleção Baiana para representá-la - repetindo o que havia feito em 1956, quando indicou os gaúchos para jogar o Pan-Americano, no México. E assim o técnico Pedrinho Rodrigues colocou em campo, naquela tarde fria de um domingo em Santiago, um time competitivo e, sobretudo, experiente. Matreiro, utilizou o Vitória, cujo elenco conhecia a fundo porque o dirigia durante o estadual, como base da Seleção Brasileira.

A antiga linha média, formada pelo volante, um dos zagueiros de área e o lateral esquerdo, era rubro-negra: Pinguela, Nelinho e Boquinha. No ataque, a ala direita, Teotônio e Ceninho, também pertencia ao Vitória, assim como o camisa 9, o elegante e eficiente centroavante Mattos. O então chamado trio final, o goleiro, o lateral direito e o outro zagueiro de área, Periperi, Pequeno e Walder, já tinha entrosamento. Periperi e Walder jogavam no Fluminense de Feira, enquanto Pequeno fora companheiro de Walder no Ypiranga. No meio de campo, o clássico Otoney, do Bahia, e na ponta esquerda, o rápido Raimundinho, do Fluminense.   O que Pedrinho não esperava era perder, ainda no primeiro tempo, o zagueiro Walder, com uma entorse no tornozelo provocada por uma disputa de bola com o atacante Fernández. Henrique entrou em seu lugar.

As equipes atuavam de maneira semelhante, num rígido sistema 4-2-4, o que deixava a partida equilibrada. Os brasileiros demonstravam espírito de luta, enquanto o Chile, sob o comando do técnico polonês Lászió Pákozdi, procurava insistentemente, em bolas aéreas, o gol de Periperi.

No primeiro tempo, a melhor chance foi chilena, com um chute cruzado de Díaz, que passou perto da meta brasileira, após uma troca de passes entre Astorga e Fernández. O Brasil também criou oportunidades e, numa delas, o goleiro Quitral, ao defender uma cabeçada de Otoney, se chocou com a trave, tomou cinco pontos na testa e acabou substituído pelo jovem Mário Ojeda.

Excessivamente precavida após o intervalo, a Seleção permitiu o crescimento do Chile, que marcou aos 14 minutos, através de Meléndez, com um chute forte da meia-lua em que a bola bateu no poste antes de chegar ao fundo das redes. Animados, os chilenos quase ampliaram o marcador, que insistiu em permanecer em 1x0 até o final.  Brasil vence a segunda partida Setenta e duas horas depois, feriado de 18 de setembro, data comemorativa da Independência do Chile, uma tarde de quarta-feira, brasileiros e chilenos voltavam ao Estádio Nacional para a decisão da II Taça O’Higgins - o nome do torneio é uma homenagem ao general Bernardo O'Higgins, líder da Independência chilena.

Sem Walder, ainda machucado, Pedrinho Rodrigues manteve Henrique na zaga central, trocou o inseguro Boquinha pelo volante Jota Alves, improvisando-o na lateral esquerda, e escalou Hamílton no ataque, em substituição a Ceninho, que errara muito nas finalizações no jogo de domingo.

Já o treinador Lászió Pákozdi foi mais radical nas mudanças. Precisava testar todo o elenco, que se preparava para as eliminatórias da Copa de 1958, e aquela era a oportunidade para promover o laboratório: fez retornar o goleiro titular Quitral, recuperado do corte na testa, e manteve no time apenas o atacante Meléndez.

Precisando vencer, sem a carga emocional da estreia e aproveitando-se do desentrosamento do adversário, o Brasil se apresentava bem melhor do que no compromisso anterior. Aos 15 minutos, Mattos recebeu um lançamento em profundidade de Otoney, conseguiu se livrar da marcação de Ortiz e Bello e chutou baixo e cruzado no canto direito da meta chilena para fazer 1x0. O resultado se manteve e levou o jogo para a prorrogação.

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Confusão e gol polêmico O período complementar ficou caracterizado pela tensão. Empurrados pela torcida, os chilenos partiram para definir o jogo nos primeiros minutos, diante de um Brasil com cuidados defensivos, próprios de quem sabia que o empate lhe garantiria a posse transitória da taça - como não havia data disponível para a “negra”, ficou acordado entre as equipes que o empate na prorrogação daria o título ao visitante.

Enquanto o Chile fizera as três modificações a que tinha direito – Torres em lugar de Bello, Fernández no de Hormazábal e Ramírez no de Leonel Sánchez, apontado hoje, ao lado do zagueiro Figueiroa, do meia Francisco Valdés e dos atacantes Zamorano e Salas como um dos maiores ídolos do futebol chileno –, a Seleção Brasileira se limitara a trocar Raimundinho por Wassil.

O jogo, que já era tenso, ficou complicado com a entrada desleal do atacante chileno Fernández no goleiro Periperi. Este episódio, que provocou confusão, invasão de campo, intervenção policial e substituição de Periperi por Albertino, terminou por desestabilizar o Brasil.

Danor Morales, o juiz que prejudicou o Chile não permitindo que fosse cobrado um escanteio no último minuto do tempo normal de jogo, compensou o erro ao deixar de expulsar Fernández. Atordoada, a Seleção Brasileira ainda viu o Chile marcar um gol polêmico no final da prorrogação, feito de cabeça pelo controvertido Fernández, depois de um cruzamento de Meléndez. Morales não teria visto um toque de mão de Musso, que também participara do lance.

Fichas técnicas:

15/9/1957- Chile 1x0 BrasilChile: Quitral (Ojeda), Peña, Salazar, Morales e Vera; Astorga e Robledo; Ramírez, Meléndez, Fernández e Guillermo Díaz. Técnico: Lászió Pákozdi.Brasil: Periperi, Pequeno, Walder (Henrique), Nelinho e Boquinha; Pinguela e Otoney; Teotônio (Wassil), Ceninho, Mattos e Raimundinho. Técnico: Pedrinho Rodrigues.

Estádio: Nacional, em Santiago.Gol: Meléndez, aos 14 minutos do 2º tempo.Público: 32.203 espectadores.Árbitro: Walter Manning (inglês naturalizado chileno)

18/9/1957 - Chile 0x1 Brasil, e na prorrogação Chile 1x0 Brasil

Chile: Quitral, Navarro, Bello (Mário Torres), Ortiz e Rojas; Arenas e Jorge Díaz; Musso, Meléndez, Hormazábal (Fernández) e Leonel Sánchez (Ramírez) Técnico: Lászió Pákozdi.Brasil: Periperi (Albertino), Pequeno, Henrique, Nelinho e Jota Alves; Pinguela e Otoney; Teotônio, Hamílton, Mattos e Raimundinho (Wassil). Técnico: Pedrinho Rodrigues.

Estádio: Nacional, em Santiago.Gols: Mattos, aos 15 minutos do 1º tempo; e Fernández, aos 14 minutos do 2º tempo da prorrogação.Público: 24.163 espectadores.Árbitro: Danor Morales (chileno)