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Meninos Rei assina estampas da ala das baianas da Mangueira


 

Além da presença dos estilistas Céu e Júnior Rocha, Verde e Rosa tem samba enredo cantando por Margareth Menezes

  • Vinicius Nascimento

Publicado em 06/02/2023 às 06:00:00
Atualizado em 13/04/2023 às 20:31:29
. Crédito: Ana Albuquerque/CORREIO

"Toda mulher é flecha da evolução. Que Exu abra nossos caminhos e faça do quilombo verde e rosa um palácio de toda rainha preta. Mangueira, onde o Rio é mais baiano. Eparrey, Oyá!". Com a voz de Margareth Menezes, a Mangueira dá o tom de como vai entrar na Marquês de Sapucaí no Carnaval de 2023: com muita Bahia, em sua multiplicidade.

O tema da Mangueira para 2023 é As Áfricas que a Bahia Canta. Além da voz de Maga, atual Ministra da Cultura do Governo Federal, a Mangueira vai colocar a Bahia em sua ala mais importante - a das baianas - que terá estampa assinada por Céu e Júnior Rocha, fundadores da grife Meninos Rei. Oxum e o segredo das quartinhas foram inspirações da marca baiana para ala considerada o coração da escola.

Cerca de 80 senhoras da Estação Verde e Rosa estarão vestidas com a estampa desenhada pela dupla. Criado por volta de 1930, esse apelido para a escolao surgiu especialmente para homenagear as 'tias do samba', como forma de agradecimento às mulheres que abrigavam os sambistas em suas casas, quando o ritmo ainda era tido como marginal.

O desfile 2023 foi concebido esteticamente utilizando como referência a multiplicidade da arte baiana e, consequentemente, de seus artistas. Carnavalesco da Mangueira, Guilherme Estevão diz que a importância dessa parceria é conseguir prestar uma homenagem a esses artistas baianos e transcender a homenagem para além do âmbito do desfile, através da arte de Céu e Junior.

“A Meninos Rei representa uma visão contemporânea da moda baiana, sempre muito referenciada na ancestralidade e no legado artístico da Bahia. Rejuvenesceram a estética de estamparias da Bahia, característica muito forte da região, e dialogam perfeitamente com nosso carnaval, que busca construir uma narrativa que perpassa por diversos momentos da história afrobaiana”, aponta Guilherme, que assina a pesquisa do tema ao lado de Annik Salmon e Mauro Cordeiro.

O convite à Meninos Rei, no entanto, partiu de Gabriel Carvalho, um dos produtores Mangueira. "Na primeira ligação, eles falaram que tinham dois convites: primeiro, assinando a ala das baianas, e segundo para a gente desfilar. Foi uma emoção muito grande. Nós dois choramos muito. Ser responsável pela criação do figurino de 80 senhoras resgata nossa ancestralidade, lembrei muito de minha avó", recorda Júnior.

"É uma honra e emoção muito grande. O nosso maior trabalho, sem dúvida. Todos são especiais, mas esse fala muito do que somos, nossa ancestralidade, nossa família, o que a gente acredita. É um orgulho, amor, respeito. Eles conheciam nosso trabalho e deram essa responsabilidade de assinar a ala das baianas pra gente. Meu coração sempre foi Mangueira", confessa o estilista.

Mais do que fazer a estreia da primeira grife baiana no carnaval do Rio, a Meninos Rei é a primeira marca baiana a assinar a ala das baianas numa escola de samba. Esse convite, para Céu Rocha, sintetiza o reconhecimento pelo trabalho que é desenvolvido pelos irmãos há 8 anos: "Um trabalho que reverencia nossas matrizes africanas e ancestralidade. Receber o convite da Mangueira representa muito de nosso esforço. Esses voos são fruto da fidelidade que temos ao que acreditamos em nosso trabalho", afirma.

Foram duas estampas criadas e ambas tiveram como referência conceitual o poder feminino de reger o universo. "A primeira estampa foi inspirada em Oxum, mãe da fertilidade e da doçura, aquela que, com seus olhos de sabedoria, nos guia, nos alerta e nos encaminha na batalha do dia-a-dia", aponta Júnior Rocha. 

"Já a segunda é baseada no segredo das quartinhas, objeto sagrado que é essencial nos ritos e cerimônias do candomblé. A execução da ideia para o digital ficou por conta do designer Levi Cintra”, complementa Céu.

No desfile, a Mangueira promete reverenciar os blocos afros que reconstruíram a identidade do povo baiano, como o Ilê Aiyê, o Muzenza, o Olodum e o Badauê, além da Didá e do Malê Debalê.