Salvador pode ficar sem leitos de UTI para covid-19 a partir de 20 de maio
Os leitos clínicos para esses pacientes vão acabar em dez dias
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Da Redação
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Nada está tão ruim que não possa piorar. A prefeitura de Salvador anunciou nesta segunda-feira (4) que se o número de contaminados com o novo coronavírus continuar crescendo como nas últimas semanas a cidade vai ficar sem leitos clínicos para pacientes com a covid-19 a partir do dia 14 de maio, e sem leitos nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) no dia 20 desse mês.
O prefeito ACM Neto divulgou essa informação durante a entrevista em que anunciou a prorrogação dos decretos de suspensão das aulas nas redes pública e privada, e do fechamento do comércio por mais 15 dias. Ele contou que Salvador tem, atualmente, 933 leitos para atender a pacientes com a covid-19. O número é a soma do que é ofertado pelo município, pelo estado e pela rede privada.
Desse total, 444 são leitos clínicos, mas 150 deles já estão ocupados (34%). O prefeito explicou que o tempo médio de ocupação desses leitos é de sete dias, e que o primeiro déficit será sentido no dia 14 de maio, quando 25 pessoas vão precisar desse atendimento e não encontrar.
Os outros 489 leitos são de UTI, mas 130 já têm pacientes (27%). O tempo médio de ocupação desses espaços é de 14 dias, por isso, a estimativa da prefeitura é de que no dia 20 de maio aconteça um déficit com seis pessoas precisando de atendimento sem ter para onde recorrer. Nesse mesmo dia, a capital vai registrar 26 mortes em 24 horas, atualmente a média é de sete casos, elevando o acumulado de óbitos para 329 desde o início da pandemia.
ACM Neto disse que município e estado estão trabalhando para criar novos leitos, mas que é preciso contar com a ajuda da população. Ele frisou a necessidade do isolamento social, do uso de máscaras, e pediu que as pessoas evitassem aglomerações.
“O grande desafio é aproximar o pico (de contaminação) da saturação do sistema, porque se o sistema satura muito antes do que o pico nós teremos uma quantidade de morte muito grande. Se chegarmos a 100% de ocupação dos leitos perto do pico, ou depois do pico, é possível evitar muitas mortes. Todo o esforço quem vem sendo feito é para jogar o pico para frente e garantir o funcionamento dos leitos”, disse.
As projeções são feitas através de um modelo SIR (Susceptível, Infectados e Recuperados), e leva em consideração o tamanho da população e o número de casos confirmados desde o primeiro dia. A velocidade da contaminação em Salvador está abaixo do esperado, o que tem dado mais tempo para as autoridades agirem, mas a expectativa é de que a quantidade de infectados passe de 30 mil em junho.
Em boletim divulgado na manhã desta segunda-feira (4), a Secretaria Estadual da Saúde (Sesab) informou foram confirmados 3.708 casos do novo coronavírus no estado, 784 pacientes se recuperaram, e 134 morreram vítimas da doença. Até o momento, 215 profissionais de saúde tiveram diagnóstico positivo para covid-19.
Os dados representam notificações oficiais compiladas pelo Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde da Bahia (Cievs-BA), em conjunto com os Cievs municipais. Um novo boletim será divulgado às 17h com os números por município.
Até o final da tarde de domingo (3), Salvador liderava o ranking das cidades com maior número de infectados na Bahia. Eram 2.247 casos confirmados da covid-19 na capital, e 80 mortes provocadas pelo novo coronavírus. Médicos e especialistas afirmam que sem o isolamento a quantidade de infectados e de mortos seria maior.
A prefeitura criou um grupo que vai monitorar o comportamento da população nos bairros e coibir aglomerações. A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) ficará responsável por coordenar a equipe que fará alterações na cidade para combater a pandemia, como a interdição de ruas, avenidas, praças ou outros espaços alvos de tumulto.
O lockdown, o isolamento total da população, é uma medida extrema que já foi adotada em outras cidades do Brasil, e que pode acontecer em Salvador. O prefeito afirmou que se for necessário vai implantar a medida, mas disse que uma ação como essa seria tomada em conjunto com o governo do estado.
Intertítulo
Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb-BA), Júlio César Vieira Braga, a cobrança maior do conselho diz respeito a contratação de profissionais e preparação das equipes para este momento. "A gente não viu ainda nenhum chamamento público para contratação destes profisisonais, assim como nada ligado a treinamento dos mesmos. A ideia de trazer médicos do Paraguai ou da Bolívia quando a gente tem mais de 250 médicos dispostos na lista do Ministério da Saúde aguardando serem chamados", pontua.
Já a diretora de comunicação e imprensa do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed-BA), Clarice saba, cobra tanto da gestão de saúde municipal, quanto estadual um relatório completo sobre a acupação desses leitos até o momento. "O sindicato vem institindo nesse pedido. O que observamos é que o número de leitos tem oscilado bastante, porém, o problema de falta de leitos não é novo no estado. A falta de UTI, com ou sem coronavírus é uma realidade. Precisamos desses dados oficiais para entender essa ocupação e a condição destes pacientes".
Em nota, o Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA) disse que encara com muita preocupação este cenário porque ele traz um contexto de pressão sobre o Sistema Único de Saúde (SUS) e também sobre o adoecimento dos profisisonais de enfermagem.
"Esta situação desencadeia uma cascata de preocupações. Por esta razão, o Coren-BA reforça as ações de isolamento social e reitera que as pessoas precisam ficar em casa para achatar essa curva de crescimento da Covid-19 e, consequentemente, evitar o estresse sobre o SUS. Somente um Sistema Único de Saúde fortalecido poderá continuar salvando vidas, através de diagnósticos rápidos e precisos", escreveu.