Jogador de beisebol dos EUA, Hank Aaron morreu de causas naturais e não por conta da vacina
O boato de que haveria relação entre a imunização e a morte do ex-jogador foi propagado por um conhecido ativista do movimento antivacina dos EUA
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Da Redação
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Conteúdo verificado: tuíte sugere que Hank Aaron, 86 anos, falecido 17 dias depois de tomar vacina, morreu em decorrência da vacina contra Covid-19 É falso que Hank Aaron, ex-jogador norte-americano de beisebol, morreu por um efeito adverso da vacinação contra a covid-19, conforme sugerem publicações no Twitter nos Estados Unidos e no Brasil. Aaron tomou a vacina da farmacêutica Moderna no dia 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia, e morreu 17 dias depois, de causas naturais, segundo verificações da imprensa dos Estados Unidos.
A vacinação de Aaron, um ícone do esporte, foi usada para estimular a imunização nos Estados Unidos. Após sua morte, postagens nas redes sociais começaram a ligar o acontecimento à vacinação e veículos do país fizeram a checagem. À rede NBC, a equipe de legistas que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Em um comunicado, o Atlanta Braves, time de beisebol pelo qual Hank jogou, disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.
Ao Comprova, o infectologista Evaldo Stanislau, da Universidade de São Paulo (USP), afirmou que, embora as vacinas possam apresentar efeitos adversos, como qualquer medicação, não há estudos que revelem relação de causa e efeito entre a vacinação e este tipo de morte
Como verificamos?
Pesquisamos sobre Hank Aaron, sua história, luta e os recordes conquistados. Buscamos matérias publicadas em portais de notícias para entender as circunstâncias de sua morte. Também buscamos o contato do local em Fulton County responsável pela autópsia, mas não encontramos as informações.
Conversamos com o professor-doutor Evaldo Stanislau, do Hospital das Clínicas, em São Paulo, para tirar dúvidas sobre reações adversas de vacinas e o tempo médio de resposta do corpo para a imunização após tomar a vacina.
Procuramos ainda a Moderna, farmacêutica responsável pela vacina aplicada em Aaron, por meio do seu e-mail internacional, mas não tivemos resposta até o fechamento da verificação.
O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de fevereiro de 2020.
Verificação Aaron morreu de “causas naturais”
Hank Aaron tomou a vacina da Moderna em 5 de janeiro no Morehouse School of Medicine, em Atlanta, na Geórgia. Dezessete dias depois, em 22 de janeiro, ele morreu, aos 86 anos.
Como aqui no Brasil, grupos antivacina começaram a levantar relações entre a vacinação e a morte do ex-jogador, visto que sua imagem foi utilizada para estimular a imunização no país. À NBC News, o grupo médico que examinou o corpo do ex-jogador afirmou que ele morreu de “causas naturais”. Da mesma forma, por meio de comunicado, o Atlanta Braves, seu time de beisebol, lamentou o ocorrido e disse que ele morreu “pacificamente, enquanto dormia”.
Ao jornal The New York Times, que também desmentiu a corrente, os responsáveis pela autópsia em Fulton County afirmaram que sua morte “não teve nada a ver” com a vacina. Segundo eles, não havia nenhum elemento que sugerisse que Aaron teve qualquer tipo de reação alérgica ou anafilática à vacina.
No dia em que foi vacinado, Aaron escreveu no Twitter: “Fiquei orgulhoso de receber a vacina COVID-19 hoje cedo na Morehouse School of Medicine”. “Espero que você faça o mesmo!” Em entrevista à Associated Press, ele afirmou se sentir maravilhoso ao ser vacinado.
Além dele, foram vacinados o ex-embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) e líder dos direitos civis Andrew Young e o ex-secretário de Saúde e Serviços Humanos dos EUA Louis Sullivan. A estratégia foi incentivar a vacinação das pessoas no estado da Geórgia.
“Causas naturais” não têm relação com vacinação
De acordo com o professor e infectologista Evaldo Stanislau, toda vacina tem uma quarta fase de testes que se dá exatamente no período de vacinação. O objetivo é acompanhar os vacinados e descobrir se eles apresentam alguma resposta padrão. Morrer de causas naturais, no entanto, não é uma delas.
“Nessa fase, a gente observa coisas que eventualmente não foram confirmadas nos estudos. Em teoria, se você vê algo que ocorre com muita frequência, pode analisar causa e efeito [entre a vacinação e a resposta]. Aí, nesse caso, me parece uma casualidade”, afirmou o médico.
Segundo Stanislau, o tempo médio para que um imunizante faça efeito é de 15 dias. Neste período, uma pessoa pode, sim, contrair a doença e sofrer suas enfermidades – mas não foi o caso do ex-jogador.
“Qual a função da vacina? Induzir nosso sistema imunológico a produzir uma defesa contra o agente. O efeito de uma vacina é ensinar o sistema imunológico e produzir defesas. São como patrulhas que ficam no nosso corpo. Se o vírus entra em contato com o organismo, essa patrulha vai crescer, proliferar e impedir, mas perceba que isso leva um tempo para se consolidar, não é imediato. Demora, em média, pelo menos duas semanas”, explicou o especialista.
Ele alerta que é preciso seguir tomando precauções mesmo após a vacinação. “Tomar vacina e ser infectado pouco depois é possível, sim, porque o corpo ainda não está imune. Por isso, é importante que a pessoa, quando tomar vacina, continue se protegendo”, alertou o infectologista.
Quem foi Hank Aaron?
Henry Louis Aaron, nome completo de Hank Aaron, nasceu no dia 5 de fevereiro de 1934, em uma região pobre de Mobile, no Alabama. Terceiro de oito filhos de Estella e Herbert Aaron, um assistente de caldeireiro, estudou o ensino médio no Central High School. Além de jogador, Hank Aaron foi empresário e filantropo.
Desde a infância, Aaron desenvolveu uma habilidade e gosto para o beisebol. Aaron foi um dos principais esportistas das Ligas Negras e se tornou um ícone da Liga Principal do Beisebol. Começou na carreira aos 20 anos, em 1954, sendo rebatedor ativo no Milwaukee e Atlanta Braves até 1976. Aaron bateu recorde de 755 home runs (uma rebatida que permite ao autor marcar um ponto e, potencialmente, fazer com que outros companheiros marquem); foi eleito para o Hall da Fama do Beisebol em 1982.
Quem é Robert F. Kennedy Jr.
O tuíte é de autoria de Robert F. Kennedy Jr. e foi reproduzido no Brasil por grupos que também costumam questionar as vacinas. Kennedy é um advogado e ambientalista norte-americano, filho do senador Robert F. Kennedy e sobrinho do presidente John F. Kennedy, ambos já falecidos.
Apesar de não ser um profissional da saúde, Kennedy é conhecido pelo ativismo contra as vacinas nos Estados Unidos. Em suas redes sociais, como Instagram e Twitter, há postagens criticando as vacinas em fase de desenvolvimento e sua utilização contra o novo coronavírus. Em sua própria família, uma das mais influentes na política norte-americana, sua postura já foi criticada.
Kennedy foi verificado em agosto de 2020 pelo Comprova após um post do blog católico Mater Salutis viralizar nas redes alegando que as vacinas contra a covid-19 podem provocar dano genético irreversível e são um crime contra a humanidade. O advogado foi investigado, pois o texto seria uma mensagem assinada por ele. Dias depois o post foi retirado do ar por não ser possível comprovar a autoria, segundo um administrador do blog católico.
Na verificação feita em 2020, o Comprova mostrou que antes do início da pandemia, uma reportagem afirmava que Robert F. Kennedy Jr. era um dos dois maiores patrocinadores de anúncios com desinformação sobre vacinas no Facebook.
O tuíte do advogado foi compartilhado por diversas páginas no Brasil, inclusive por páginas já verificadas anteriormente pelo Comprova.
Por que investigamos?
Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. É importante investigar conteúdos duvidosos sobre vacinação e pandemia, pois é justamente o trabalho da ciência que garante a erradicação de doenças e a preservação da vida.
Compartilhamentos como este visam descredibilizar a vacinação ao redor do mundo colocando em xeque a eficácia das vacinas, dados cientificamente comprovados no caso de Moderna, Pfizer/BioNTech, AstraZeneca/Oxford e CoronaVac. Até o fechamento da publicação, as duas contas de Twitter que tuitaram sobre o conteúdo falso tiveram 27 mil interações.
Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
*Esta checagem foi postada originalmente pelo Projeto Comprova, uma coalizão formada por 28 veículos de mídia, incluindo o CORREIO, a fim de identificar e enfraquecer as sofisticadas técnicas de manipulação e disseminação de conteúdo enganoso que surgem em sites, aplicativos de mensagens e redes sociais. Esta investigação foi conduzida por jornalistas da Rádio Noroeste, Niara e UOL, e validada, através do processo de crosscheck, por quatro veículos: CORREIO, Marco Zero, Jornal do Commércio e NSC.