Estudo que associava maior risco de morte à cloroquina é 'despublicado'
Retirada da revista científica The Lancet aconteceu após questionamentos sobre dados usados
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Da Redação
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A revista científica The Lancet publicou uma nota de retratação que anula a validade do estudo com cloroquina e hidroxicloroquina para covid-19. A pesquisa tinha sido publicada no dia 22 de maio, pela própria The Lancet, e afirmava que quem havia tomado as substâncias apresentava maior risco de arritmia e morte em comparação com aqueles que não tinham as ingerido.
Os cientistas afirmaram que não podiam mais garantir a veracidade dos dados usados para o estudo, de 96 mil pessoas. Os mesmos dados vinham fazendo a pesquisa ser alvo de críticas. Eles foram obtidos através da Surgisphere, companhia desconhecida americana que tem, em seu quadro de funcionários, pessoas sem formação em dados ou ciência.
O estudo chegou a motivar a Organização Mundial da Saúde a suspender os testes com hidroxicloroquina nos ensaios clínicos da iniciativa internacional Solidariedade, coordenada pela entidade. Porém, na quarta-feira (3), a OMS decidiu retomar os testes com a substância, depois da publicação de uma "manifestação de preocupação" pela The Lancet sobre a pesquisa.
Com a retratação, o estudo não pode ser citado em futuras pesquisas científicas. A retirada, aliás, ocorreu após tentativa de auditoria externa sobre os dados. Mas isso não foi possível já que a Surgisphere se negou a transferir a base de dados completa usada, alegando que violaria acordos de confidencialidade com clientes.
"Não podemos esquecer nunca da responsabilidade que temos como pesquisadores de assegurar escrupulosamente que nos baseamos em fontes de dados que respeitam os mais elevados padrões de qualidade. (...) Nós não podemos atestar a veracidade das fontes primárias dos dados em questão", disseram três dos autores do estudo. O quarto, Sapan S Desai, está relacionado com a Surgisphere.
A equipe da pesquisa não fez qualquer tipo de ensaio clínico. O grupo analisou a base de dados da Surgisphere, com 671 hospitais de 6 continentes. Eles concluíram que não somente a cloroquina e a hidroxicloroquina não tinham benefícios no tratamento da covid-19, como constataram que as substâncias traziam, supostamente, maior risco de arritmia cardíaca aos pacientes.
Outros estudos sobre a hidroxicloroquina também foram feitos. Um deles, publicado na revista The New England Journal of Medicine, concluiu que a substância não é capaz de proteger pessoas recém-expostas ao novo coronavírus (profilaxia pós-exposição). Outro, publicado na mesma revista, não observou redução de mortalidade ou entubação em pessoas que recebem a droga.