Com a flexibilização, o que posso e o que não posso fazer para diminuir o contágio?
CORREIO ouviu especialistas e montou um guia com respostas para 15 situações comuns na pandemia
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Priscila Natividade
priscila.oliveira@redebahia.com.br
Após mais de cinco meses em isolamento social, se tem alguma coisa que acabou é a ilusão de que a pandemia seria uma coisa passageira. As pessoas vão ter que conviver — não se sabe até quando — com a presença nada agradável do coronavírus. Para que isso aconteça com menos risco de contágio durante a flexibilização, infectologistas montaram um guia sobre o que pode e o que ainda não pode fazer enquanto a vacina não chega (veja abaixo).
Entre esses cuidados estão o uso indispensável da máscara e o hábito de evitar as aglomerações como sinaliza a professora da Escola Bahiana de Medicina, pós-doutora em Imunologia pela Fundação Oswaldo Cruz e pesquisadora da Rede CoVida, Fernanda Grassi.
“O momento exige cautela. É lavar as mãos, usar o álcool em gel. Tenho visto muita gente retirando a máscara para falar e isso não pode acontecer”.
Também vai ser preciso se preocupar não só com seu comportamento, mas também com o do outro. É o que considera o especialista em Infectologia, professor da Unifacs, médico e preceptor da residência médica e internato em Infectologia do Instituto Couto Maia, Fernando Badaró.“Todo mundo já sabe qual é a maneira de se proteger. Não pode haver a quebra dos procedimentos, porque isso, consequentemente, vai voltar a elevar os casos”.Segundo informações do boletim divulgado pela Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) na sexta-feira, a Bahia soma 250.977 casos e 5.243 mortes desde o início da pandemia. A ocupação dos leitos de UTI para tratamento da covid-19 está em 57%. Em Salvador, a mesma taxa de ocupação está em 52% e a capital concentra 30,71% das infecções.
Os dados confirmam que não há mais espaço para a falsa sensação de segurança e a exposição desnecessária. A infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Melissa Falcão, concorda: “O risco ainda é real. Cada um se torna ainda mais importante para a redução da transmissão”.
PODE OU NÃO PODE? CONFIRA AS RESPOSTAS PARA 15 SITUAÇÕES COMUNS NA PANDEMIA
a) Ida a bares e restaurantes O comportamento individual mais importante é a consciência de não sair de casa se tem sintomas respiratórios ou se teve contato com algum caso positivo para covid-19. A infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Melissa Falcão, reforça que, quem decidir ir a um bar ou restaurante, não deixe de usar a máscara e dê preferência a mesas externas e lugares arejados. “Não deixe de obedecer a distância padronizada pelos estabelecimentos”. Bares e restaurantes só com máscara e distanciamento (Foto: Daniel Aloisio/ Arquivo CORREIO) b) Pegar táxi ou Uber O álcool em gel também é um companheiro indispensável nas viagens em táxis ou por aplicativos como o Uber. A professora da Escola Bahiana de Medicina, pós-doutora em Imunologia pela Fundação Oswaldo Cruz e pesquisadora da Rede CoVida, Fernanda Grassi, aconselha que o passageiro sente no banco de trás, use o álcool nas mãos ao entrar, tocar em qualquer parte do carro e também ao sair do veículo, além da máscara. “Evite conversar muito com o motorista. É importante ter esse distanciamento”, observa.
c) Visitar parentes, pais e avós que fazem parte do grupo de risco Para a Fernanda Grassi, o distanciamento deve ser mantido. “Evite o contato próximo porque a epidemia ainda não passou. Se tiver que ver, é melhor fazer isso ao ar livre. Festas e grandes reencontros devem esperar”.
d) Rever amigos Quem não está com saudade de juntar sua panelinha? A recomendação do especialista em Infectologia, professor de da Unifacs, médico e preceptor da residência médica e internato em Infectologia do Instituto Couto Maia, Fernando Badaró, é não se encontrar com pessoas que estão em casas diferentes e adiar por mais um tempo aquela saidinha com os amigos para o barzinho mais próximo. “Não se sabe como aquela pessoa está vivendo o isolamento social ou o tipo de risco que está se expondo com a flexibilização. Não podemos esquecer que temos os assintomáticos, que acabam saindo de casa sem saber que estão contaminados”, aconselha.
e) Circulação em shoppings Apesar de shoppings seguirem protocolos rígidos de prevenção, Melissa Falcão, pede que as pessoas analisem a real necessidade de frequentarem o local, por se tratar de um ambiente fechado que costuma ter uma grande circulação de pessoas. “Se for, faça uma lista dos itens que deseja comprar para otimizar o tempo de permanência no local, que deve ser o mais breve possível. Evite entrar em lojas visualmente cheias, dando preferência para horários de menor circulação de pessoas”, alerta. A recomendação é evitar ir aos shoppings sem necessidade, já que são ambientes fechados que favorecem a contaminação (Foto: Marina Silva/ Arquivo CORREIO) f) Domésticas e babás em casa Caso a doméstica ou a babá durma na residência, não há problema em manter o serviço. Porém, se ela precisar pegar algum transporte público, vale segurar esse retorno, como explica Fernando Badaró. “Por mais que a doméstica ou a babá se proteja na casa dela, a exposição no transporte público, sobretudo em um ônibus superlotado, aumenta todos os riscos de contaminação”. Outras medidas de segurança que não devem ser deixadas de lado são o banho ao chegar e o uso de máscara o tempo todo.
g) Prática de exercícios físicos ao ar livre O exercício físico é bom para a saúde e faz bem. Quanto mais aberto o local, menor o risco, como orienta Melissa Falcão. “Para que a flexibilização possa continuar sem retrocesso, é preciso ser utilizada com responsabilidade. Para autoproteção e proteção do próximo, a atividade deve ser realizada com uso de máscara facial e deve-se optar pelos horários com menor movimento. O importante é que as medidas de distanciamento social sejam mantidas, regras que devem nos acompanhar ainda por um longo período”, afirma.
h) Academias e piscinas Fernanda Grassi não recomenda o retorno às academias e piscinas agora. “As academias são locais com pouca ventilação e as piscinas também podem esperar. Não estamos ainda em um momento de abertura total. Embora tenha diminuído o número de casos na Bahia, ainda temos que manter a cautela e evitar esses locais por enquanto, principalmente quando têm pessoas idosas na família. A gente tem que proteger essas pessoas. Sabemos que os jovens têm uma possibilidade de estarem infectados e não apresentarem sintomas”, defende.
i) Reencontrar o namorado (a) ou ‘crush’? Só com testagem do casal. Para Fernando Badaró, não dá para abrir mão do exame. “Se não tem como fazer o teste para a covid-19, não se encontre”.
j) Dentista, exames e consultas de rotina Não dá para adiar os cuidados com a saúde. Fernanda Grassi reforça que não é preciso chegar cedo demais aos consultórios e, com isso, acabar colaborando na geração de algum tipo de aglomeração na sala de espera. “Os profissionais devem usar máscaras de proteção, face shield e avental descartável. O que é importante é marcar o horário e respeitá-lo para que não haja muitas pessoas aguardando no mesmo momento. Lave sempre as mãos ou use o álcool em gel”. Clínicas estão adotando diversas medidas de segurança para receber os pacientes (Foto: Divulgação) k) Transporte público (ônibus/ metrô) O transporte público é um dos locais onde pode acontecer o maior risco de transmissão por conta do contato muito próximo. Ainda de acordo com Grassi, é aconselhável utilizar os transportes públicos em horários alternativos. Se isso não for possível, redobre a atenção. “Máscara e o álcool em gel ao entrar, sair e tocar as barras”.
l) Retorno ao trabalho presencial Muita gente saiu do isolamento social nas últimas semanas para retornar ao trabalho presencial. Além dos cuidados que passaram a fazer parte da rotina durante a pandemia, Badaró lembra o quanto é fundamental fazer a troca de máscaras a cada quatro horas. Álcool nos equipamentos e maçanetas, também. Outra orientação é envolver o celular em um plástico filme toda vez que sair de casa, descartar o plástico e fazer a higienização. “O rigor tem que ser muito maior”.
m) Visitas a bebês menores de 1 ano e recém-nascidos Não tocar, não abraçar, não beijar. É o que diz a pesquisadora Fernanda Grassi. “O vírus continua circulando, embora que em taxas menores do que antes. Use a máscara, lave as mãos e mantenha uma distância de dois metros”.
n) Crianças podem voltar a brincar no parquinho? Ainda é necessário evitar aquela bagunça boa no parquinho ou no play do prédio com crianças de famílias diferentes. Melissa Falcão orienta que só dá para voltar a brincar se for em um espaço ao ar livre, com distanciamento, uso de máscara para os maiores de 2 anos e supervisão extremamente atenta de adultos. “Muito monitoramento de quem for acompanhar e álcool em gel para evitar que as crianças coloquem brinquedos ou as mãos sujas na boca e olhos, o que pode ser uma fonte de infecção”.
o) Guarda compartilhada Cada situação deve ser avaliada com muito cuidado com relação a este assunto. Fernando Badaró destaca que a decisão vai depender do comportamento dos pais: “se um deles quebra rotineiramente esses cuidados, o compartilhamento não deve ser retomado. É um risco muito grande que se corre. Tem que estar em quarentena igual”, enfatiza o médico.
ENTREVISTA/ IGOR BRANDÃO: 'AINDA NÃO HÁ NENHUMA ATIVIDADE SEM RISCO'
A flexibilização das atividades está acontecendo, mas isso não quer dizer que é hora de abrir mão do uso de máscaras ou que a campanha de vacinação contra o coronavírus já vai começar no mês que vem. Na verdade, a vacina nem chegou ainda e nem se sabe ao certo quando ela vai estar disponível.
A retomada das atividades só aumenta a cautela na hora de adotar comportamentos para evitar os riscos ou, ao menos, tentar reduzi-los como assegura o infectologista referência do Hospital Aliança e Coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital da Bahia, Igor Brandão . 'Devemos nos cuidar e cuidar do próximo agora', destaca o infectologista (Foto: Divulagação) “No momento atual, no contexto pandêmico da covid-19, não existe nenhuma atividade (com ou sem isolamento domiciliar) que podemos fazer ‘sem risco’. Até mesmo para indivíduos que já tiveram a doença, confirmada com exames, existe risco em menor taxa”, destaca.
Em entrevista ao CORREIO, o infectologista reforça que a queda no número de casos de contaminação não é o fim da pandemia e aconselha que as pessoas continuem cuidando uma das outras. Veja a seguir.
Já passou aquele momento de ilusão de que a pandemia seria uma coisa breve. Como as pessoas podem se adaptar a esta realidade até que haja uma vacina?
Na vida de todos, qualquer mudança é difícil. O que aconteceu no Brasil está acontecendo em todo mundo. Precisamos nos adaptar ao novo cenário como forma de sobrevivência. Para isso, é necessário disciplina na higiene das mãos, distanciamento social e uso das máscaras. Tendo estes quesitos como base, devemos desenvolver barreiras de acordo com nossa atividade: uso de tecnologias, sinalização visual do ambiente, proteção facial, por exemplo.
Essa esperança da vacina tem feito com que muitas pessoas relaxem nas regras de isolamento e de auto cuidado, inclusive, abrindo mão da máscara. O que isso pode ocasionar, não só a curto prazo, mas a longo prazo também?
Não é só a esperança na vacina que faz com que a população relaxe, mas sim, a falsa sensação de segurança pelos diversos meios que utilizamos para redução da transmissão do vírus, associado a percepção distorcida ou negação desta grave doença no nosso subconsciente.Quem não conhece uma pessoa que já teve a covid-19 e não teve sequer uma febre? Por este motivo, acabamos subestimando o potencial da infecção, levando estas pessoas a se exporem. Com o passar do tempo, a população vai se adaptar as medidas de cuidado e banalizá-las, como já aconteceu com outras doenças.Mas o futuro é algo incerto. O vírus pode passar por mudanças e, com isso, provocar mais infecções/reinfecções. Na dúvida, devemos pecar pelo excesso.
Que cuidados devem ser tomados ao sair de casa?
Não devemos esquecer que as principais medidas para prevenção desta doença são a higiene correta das mãos, distanciamento social e uso correto das máscaras, cobrindo o nariz e o pescoço. É opcional o uso de proteção facial.Se a pessoa tiver no grupo de risco deve evitar ao máximo se expor. Quero enfatizar, inclusive, que devemos ter um saco para máscaras sujas e outro para máscaras limpas. E, de preferência, manter o ambiente sempre bem ventilado naturalmente e iluminado.Quais são os cuidados para quem mora com pessoas do grupo de risco e já retornou ao trabalho presencial ou, ainda, voltou a frequentar locais como shoppings, bares ou restaurantes, por exemplo?
O ideal seria evitar muito contato direto/físico com as pessoas do grupo de risco. Dormir em quartos separados, não fazer as refeições com muita proximidade. É fundamental conter a qualquer custo qualquer exposição sem necessidade. Devemos nos cuidar e cuidar do próximo agora.