À procura de médicos para UTI: estado e município têm 988 vagas abertas
Salários vão até R$ 36 mil. Apesar de chamamento, poucos profissionais se inscreveram
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Gabriel Amorim
gabriel.amorim@redebahia.com.br
Com leitos extras sendo instalados pelos governos do estado e do município para tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus, a procura pelos profissionais aumentou. Ao todo, 988 vagas estão abertas para médicos de diversas especialidades, e salários que podem chegar a R$ 36 mil reais. Apesar do número de vagas, o chamamento realizado pela governo do estado, com a abertura de 400 dessas vagas, só recebeu o cadastro de 130 profissionais interessados até esta quinta-feira.
“A única situação que a gente não vai permitir é ter o leito físico, ter o equipamento e não ter o médico”, afirma o secretário de saúde do estado da Bahia Fábio Vilas-Boas. No total, ao final de todo processo de contratação, serão 900 médicos extras trabalhando no estado, Destes, pouco mais de 400 já foram contratados e estão trabalhando enquanto outros profissionais já selecionados estão finalizando os processos para iniciar nas funções. O chamamento com as 400 vagas que sobram está aberto até o dia 18 e apresentou, em menos de 24 horas, crescimento de 62.5% na procura dos profissionais.
A demanda extra é resultado da abertura de mil novos leitos de UTI pelo estado, para tratamento da covid-19. No município, novos 300 leitos serão instalados. Hoje, a Bahia conta, ao todo, com 1.194 leitos exclusivos para covid-19 no seu sistema público de saúde, sendo que 530 pacientes estão internados, o que representa uma taxa de ocupação de 44%. Em relação aos leitos de UTI adulto e pediátrico, dos 496 exclusivos para o coronavírus, 280 possuem pacientes internados, compreendendo uma taxa de ocupação de 56,5%.
Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), no total, quase 1.809 trabalhadores estarão desenvolvendo atividades para o enfrentamento do coronavírus. A gestão municipal realiza seleção para contratação temporária de profissionais que trabalharão em postos montados no Wet’n Wild e no Itaigara Memorial que gerarão cerca de 940 outras vagas para profissionais de saúde em geral. Além das vagas abertas diretamente pela prefeitura, novos postos de trabalho serão gerados pelo Hospital Sagrada Família que serão geridas pelas Obras Sociais Irmã Dulce.
Dificuldades - Para o secretário de saúde do estado, a baixa procura dos profissionais está associada à baixa disponibilidade destes no mercado. “Acredito que não existem médicos com experiência em terapia intensiva em número suficiente que estejam disponíveis. As pessoas estão com suas vidas já organizadas e fica realmente difícil conseguir 400 médicos de uma vez para montar os leitos”, diz Vilas-Boas. O secretário municipal de saúde, Léo Prates, confirma: “Temos dificuldade com algumas especialidades, como os intensivistas”.
As entidades médicas, no entanto, alegam que as vagas e suas respectivas condições não foram publicizadas da maneira devida. “A possibilidade real e prática de encontrar pessoas para trabalhar é trazer pessoas que estejam fora das suas rotinas de trabalho, para voltar aos plantões e para isso tem que ter uma publicidade clara do que está sendo oferecido”, acredita Julio Braga, vice-presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb) e conselheiro federal pelo estado.
O representante esclarece, ainda, que os médicos que poderiam preencher vagas de UTI em razão da experiência são geralmente mais velhos e não voltariam a rotina de plantões sem uma segurança maior. “Faltam informações dos valores, segurança jurídica do vínculo e do seguro para a saúde dos médicos”, completa.
A contratação via vínculo de pessoa jurídica, que está sendo ofertada pelo estado, segundo as entidades, não traz segurança para o profissional em caso de eventual contaminação. “Na modalidade de contratação de pessoa jurídica, se eu adoeço eu deixo de receber e sou substituído por outro profissional”, acrescenta Robson Mendes, presidente da Associação Bahiana de Medicina (ABM).
Questionado pelo CORREIO, o titular da pasta estadual garantiu que um seguro para os profissionais está nos planos do governo. “A criação do seguro está sendo ainda formatado pela procuradoria geral”, afirmou. Sobre a falta de publicização das vagas, o secretário afirma ter conversado com todas as entidades, mas não descarta ampliação da data limite: “Eu apresentei o problema e pedi ajuda para a contratação de médicos. De qualquer forma, se no final do prazo não preencher, a gente prorroga”.
EPI - Outro ponto levantado pelas entidades, diz respeito às próprias condições de trabalho dos novos contratados. “Além das próprias condições de contratação, recebemos também várias queixas de falta de equipamentos de proteção individual, que são condições mínimas de segurança de trabalho que o profissional precisa”, diz Moura. Fábio Vilas-Boas afirma que a falta de equipamentos não é uma realidade. “Nós temos EPI de sobra. Quem trabalha na emergência tem os mesmos EPIs de quem está na UTI, a diferença é na quantidade. Na UTI, o uso dos equipamentos é em maior quantidade porque nela o vírus fica no ar”, explica.
Não precisa ser intensivista para atuar em UTI
As novas vagas oferecidas para médicos colocarão os profissionais para trabalhar diretamente com os casos sérios da covid-19. Os quase mil novos leitos abertos pelo estado e mais 300 pelo município trazem a necessidade de médicos capacitados para atendimentos mais graves.
Segundo dados obtidos pelo Cremeb, os novos leitos se unirão aos cerca de 3.100 que já compõe o sistema de saúde na Bahia, estando eles divididos em aproximadamente 1.200 leitos privados e 1.900 públicos. No lado dos profissionais, dos 24 mil médicos ativos no estado apenas 225 (menos de 10%) têm o título de intensivista, que seria o profissional especializado em UTIs.
O baixo número, no entanto, não necessariamente representa falta de profissionais para ocupar as novas vagas. É que, segundo esclarecem as entidades médicas, a titulação é necessária apenas para que o profissional tenha cargos de coordenação na unidade, mas não para que realize atendimentos. “O que é preciso é que o médico tenha experiência em atender paciente grave”, explica o vice-presidente do Cremeb Julio Braga. Segundo ele, para atuar em UTI, é necessário que o profissional apenas tenha experiência prática no atendimento em casos mais graves: “Muitas vezes, é uma experiência que se adquire durante a vida, dando plantões e sendo treinado por quem tem a especialização”.
*Sob orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro