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Vanessa Brunt
Publicado em 30 de setembro de 2020 às 11:14
- Atualizado há 2 anos
1. Cuide das palavras utilizadas e da construção das suas frases para que o outro sinta que tem opções, clarezas e que pode exibir a própria opinião também (veja exemplos abaixo) • Dê espaço para opiniões: Ao invés de falar "Vamos fazer desse jeito.", diga: "Imagino que possa ser melhor assim, o que acha?" • Comece pelo interesse do outro (assim poderá mesclar melhor ambos os interesses): Ao invés de falar "Quero ir a um restaurante.", diga: "Encontrei um restaurante que tem o que você gosta." • Dê opções ao questionar e deixe claro o que pode oferecer: Ao invés de falar "O que você quer encontrar?", diga: "Posso oferecer maiôs e biquínis. O que deseja olhar primeiro?" (maiôs e biquínis podem ser metáforas aqui para diversas questões. A frase poderia ser, por exemplo: 'Posso oferecer meu tempo, mas não meu dinheiro'; é importante deixar os termos claros desde o início). • Mantenha-se disponível: Ao invés de falar "Espero que tenha entendido.", diga: "Tem alguma dúvida? Estou disponível para ajudar." • Agradeça ao invés de se desculpar. É óbvio que se desculpar é fundamental, principalmente em casos de erros que magoaram o outro, mas se for possível focar no agradecimento, mostre ao outro o bem que ele fez e dê destaque a isso: Ao invés de falar "Desculpe pelo atraso.", diga: "Obrigada por esperar." • Fale do problema já com soluções (isso evita desgaste ao outro): Ao invés de falar "O problema é esse.", diga: "Aconteceu isso e acho que podemos fazer tal coisa." • Exemplifique bem (isso evita que o outro faça algo que não te satisfaça e que desgaste ambos): Ao invés de falar "Estou com sede.", diga: "Preciso de uma água bem gelada." • Comece pelas provas, por dados/cases (isso evita conversas desgastantes para ambos, porque pontos já estarão sendo provados): Ao invés de falar "Nossa marca precisa disso.", diga: "Viu o que aconteceu com a marca que não teve isso?" Saiba que "nem sempre é pessoal": o outro não responde da maneira X só por nossa causa, mas também pelas bagagens que o fazem agir assim. Isso só é melhorado quando mostramos outra forma de comunicação.2. Busque entender o autoconhecimento do outro e respeite os limites que ele precisa seguir para ser feliz Entenda quando a pessoa estiver em uma fase de vida diferente da sua – e não force a barra para que ela continue sempre te acompanhando em tudo. Todos passam por fases da vida onde precisam estabelecer algumas prioridades a fim de atingir um certo objetivo ou para não perder o que já conquistaram. Seu papel em um relacionamento é compreender isso o máximo possível e respeitar a decisão. Por exemplo, se você sabe que seu amigo agora precisa focar nos estudos, não coloque algum tipo de pressão para que ele vá a uma balada durante essa fase. Também não insista para que ele faça uma viagem se ele estiver juntando dinheiro para realizar um sonho. Ou seja, não faça algo que acabe sendo prejudicial ou que é contradizente ao que ele precisa naquele momento. Não cobre felicidade e animação se o outro estiver de luto, assim como não é bacana pedir para que ele faça algo que fira o relacionamento amoroso dele em prol de uma amizade – mas, claro, também fique atento para aconselhar se sentir que a pessoa está passando por uma relação abusiva. Ajude nas descobertas, prioridades e no bem-estar mental do outro: se ele descobriu que é importante para ela dormir cedo, deixe de lado as conversas pela madrugada, mesmo que isso faça você feliz. Faça pequenos sacrifícios que façam bem a ele. Isso vale para essas pequenas coisas e também para diversas outras que envolvam os limites combinados dentro da relação de amizade em si. Por exemplo, se perceber que é fundamental para ele saber quando você vai sair com outros amigos, não custa nada contar. Também não é doloroso deixar de fazer algum tipo de brincadeira com ela caso a pessoa demonstre que se incomoda com isso. Cumpra o que for combinado como básico na relação de vocês. Inclusive, um bom ouvinte e/ou bom amigo não é apenas aquele que ajuda nas horas complicadas, mas também aquele que vibra nas vitórias e que ajuda o outro a chegar até elas.3. Estude! Pesquise termos que explicam relações abusivas (como o gaslighting) e analise perigos da nossa cultura, como é o caso do pornô machista Segundo o último levantamento feito pelo Pornhub, em 2019, o site recebeu 42 bilhões de visitas no ano, o que dá uma média de 115 milhões por dia. O Brasil está entre os 20 países que mais acessaram a plataforma. Mas esse crescimento e suas consequências precisam ser analisados com cautela.
Acontece que a pornografia (da forma com que ainda é feita) ajuda a consolidar diversos estigmas que reforçam continuamente aspectos da cultura patriarcal e de outras problemáticas. Você já se sentiu mal assistindo alguma produção do gênero? Não se preocupe: não é só você. O mercado pornográfico machista consegue afetar negativamente mulheres e homens e os motivos são diversos. A ideia da 'jovem pura', por exemplo, reforça a cultura da pedofilia. Pureza da mulher, passividade e submissão do sexo feminino acabam sendo pontos esperados socialmente. Desta forma, o homem mantém seu status dominante dentro e fora das telas. Em consequência, as mulheres incorporam os padrões opressores, retardando o aparecimento de rugas, pêlos e cabelos brancos, correndo o risco de uma autoestima cada vez mais baixa e problemas psicológicos diversos. Um relatório do site Reserarch and Markets mostra que o faturamento do mercado antienvelhecimento deve aumentar mais 6,5% até 2024. Tudo isso alimenta também o discurso social de que homens têm mais necessidades sexuais do que mulheres, o que não é verdade. Fisiologicamente, ambos podem ter o mesmo desejo (logo: "as mesmas necessidades"). A única questão do impulso para o sexo é que as mulheres são culturamente mais reprimidas. Aspectos assim, que estão enraizados na nossa sociedade patriarcal (e que nos levam a atitudes e procuras que muitas vezes não são realmente compreendidas no nosso dia a dia), são motivos para que o outro possa se sentir cada vez mais oprimido em uma relação. Você pode acabar sendo tóxico ao demandar fatores de alguém sem perceber que está buscando coisas inatingíveis ou implantadas por uma cultura que já opressora por si só. Para melhorar nesses sentidos e ajudar o outro a buscar mais do próprio autoconhecimento, estude aspectos como as consequências da cultura do pornô machista. Veja mais sobre o tema no perfil de Instagram do meu site Não Óbvio (clique aqui). Estude também termos que explicam mais sobre o que é um relacionamento tóxico/abusivo. Veja relatos de pessoas que passaram por relações assim e tente entender o que elas sentiram para que nunca esteja no papel do abusador. O gaslighting, por exemplo, é um termo fundamental. Ele é uma forma de abuso psicológico no qual informações são distorcidas, seletivamente omitidas para favorecer o abusador ou simplesmente inventadas com a intenção de fazer a vítima duvidar de sua própria memória, percepção e sanidade.4. Não confunda intimidade ou a empatia do outro com brecha para o seu desrespeito Intimidade é sobre não sentir agonias. A intimidade abre alas para que coisas sejam ditas com menos filtros, principalmente por conta do conhecimento profundo que o emissor tem sobre a vida do receptor, sobre as qualidades e defeitos do outro, e sobre a maior liberdade para compartilhar pensamentos, ideias e planos. Mas intimidade nunca deve ser confundida com desrespeito: apelidos e falas preconceituosas sobre as aparências físicas e críticas sobre a pessoa à terceiros não devem ser feitas nem em tom de brincadeira. É importante, também, respeitar o espaço e a privacidade do outro. Jamais verbalize frases como “você ficaria ainda melhor se alisasse o cabelo”, “não acha que deveria emagrecer?”, “você veste cada roupa estranha”, “ela é minha amiga, mas é muito dramática, não tenho paciência pra ela”. Pense se o que você quer dizer vai resultar em um bem real para o ouvinte e para os terceiros que escutam, e reflita se você ficaria feliz e/ou grato se recebesse este tipo de mensagem. Mesmo que algumas pessoas pareçam não se importar, lá no fundo muitas não se sentem bem em situações do tipo. Ainda que o outro demonstre grande empatia e capacidade de perdoar, não brinque com isso usando chances à toa. Se não pode prometer algo e se vai continuar fazendo o que a pessoa pode considerar como desrespeitoso, deixe isso claro e busque um meio termo entre vocês – ou então se afaste e deixe o outro ser feliz sem esse peso por perto, porque isso tudo gera um desgaste emocional absurdo.5. Fale o que incomodar você e vá além da empatia: coloque a alteridade em prática No dicionário, ter empatia significa saber se colocar no lugar do outro para sentir, pensar ou agir da forma como ela faria. É importante sempre estar praticando o termo durante a vida, principalmente em seus relacionamentos.
Prezar pela saúde mental dos seus amigos tanto quanto a sua é fundamental para entender os seus limites e respeitar as suas decisões. Jamais use chantagem emocional para fazer com que façam o que você quer e do jeito que deseja, e nem use algum dos seus pontos fracos contra eles mesmos.
A alteridade é ainda mais importante. É o lembrete de que a sua realidade e a do seu amigo são diferentes. A criação dele, os gostos, a vida financeira: todos esses pontos e muitos outros podem ter aspectos que sejam divergentes dos que ocorrem na sua história, e isso já pode mudar toda a percepção de vida do seu amigo. Assim, é fundamental, não somente fazer por ele o que gostaria que ele fizesse por você, mas também lembrar que ele pode não agir de certas maneiras (ou agir de certas maneiras) por conta de bagagens que ele carrega. A melhor opção é sempre dialogar e deixar claro o que você acha correto, buscando, a partir disso, criar novos limites combinados e deixando claro o que você espera caso situações semelhantes ocorram. Para que tudo isso seja posto em prática, o diálogo é sempre fundamental. Alguma coisa está te incomodando? Converse e exponha os seus sentimentos. Esteja aberto para ouvir e deixe o outro sempre ciente de que pode fazer o mesmo com você.