Assine

Povo sem paz: facções criminosas e narcoterrorismo impõem o medo ao baiano


 

Mero uso de certas cores em camisas ou bonés, o tipo de corte ou de tingimento de cabelos, os cumprimentos entre pessoas ou as poses em fotografias servem como motivo para assassinatos, escreve delegado Jesus Pablo Barbosa

Publicado em 26/10/2024 às 18:31:25
BDM tomou conta do Pelô: o que faz a facção manter o domínio do maior cartão-postal da Bahia . Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Narcoterrorismo. Uma palavra forte, que assusta. Só ouvi-la já traz tamanha apreensão, mas, em verdade, essa abominação já não é novidade e há algum tempo promove o medo aqui em nossa Bahia.

De início, compete apresentar o Narcoterrorismo como as práticas de indivíduos ou facções criminosas, que explorem o tráfico de drogas ilícitas e que tenham por finalidade direta provocar um terror social generalizado, ao expor a perigo pessoas, a paz ou a incolumidade públicas, ou ainda levar dano a bens, sejam públicos ou privados, mediante intimidações, coações e constrangimentos diversos, com a utilização, em regra, de forte poderio bélico.

É o que vem ocorrendo, infelizmente, em nosso Estado, nos últimos anos.

Temos um "nonsense" em que o mero uso de certas cores em camisas ou bonés, o tipo de corte ou de tingimento de cabelos, os cumprimentos entre pessoas ou as poses em fotografias servem como motivo para assassinatos. Parece banalidade, mas faz parte de uma tática de dominação pelo terror. 

Execuções cruentas, depredação de patrimônio, como queimas de imóveis e veículos, bloqueio de vias públicas, atentados contra instituições, justiçamentos com requintes sádicos, como esquartejamentos e decapitações, degredo e expropriações sumárias de indivíduos e famílias inteiras de sua moradia e de sua comunidade, são ações promovidas por esses malfeitores, que têm subjugado a população baiana, que se vê acuada, diante da ausência de respostas efetivas. O estado mostra-se, pois, incapaz de combater essa criminalidade.

Muitas vezes determinam que cessem as atividades de localidades inteiras, impondo toques de recolher, exigindo o fechamento de escolas, comércios, unidades de saúde. Os que se opuserem, se sujeitam à barbárie como reprimenda.   

Com tamanha violência, os narcoterroristas buscam controlar os seus territórios de atuação, para consolidar a sua hegemonia no comércio de drogas ilícitas, seja no atacado, fornecendo esse veneno para outros traficantes, seja no varejo, atendendo diretamente à demanda dos usuários de drogas.

O narcoterrorismo opera na Bahia com o emprego sistemático de armas de fogo de grosso calibre, de incêndios e até de explosivos em seus meios de execução, tudo isso, muitas vezes, devidamente filmado e lançado às redes sociais, exatamente para fomentar o terror e nutrir o medo absoluto no nosso povo. A intenção dos narcoterroristas é a de dissuadir o estado de reprimir o tráfico de drogas, de dar maior liberdade de ação às facções criminais, de exercer de maneira irrestrita o domínio territorial, de burlar e de inibir a atuação policial e de obstruir a justiça criminal, dificultando a aplicação da lei, seja por suas ameaças sistemáticas ou pelo uso direto dessa violência terrificante que temos visto. 

Por certo, os narcoterroristas agem apenas diante da fraqueza de um estado titubeante em suas ações e fraco em suas respostas. Um exemplo claro disso é a incapacidade de segregar efetivamente indivíduos que exercem a liderança de facções criminosas, mesmo estando presos no sistema penitenciário. 

A nossa sociedade se vê assim sitiada por um estado paralelo, que, agora, não apenas tem flertado com a política, mas passou a se infiltrar diretamente em seus jogos de poder. Traficantes passaram a ditar diretamente em quem se deve votar: óbvio que naqueles que não lhes enfrentem. É o fim da democracia.

Assim, é por demais importante que a nossa sociedade saiba empoderar o aparelho repressivo do estado, pois, diante do narcoterrorismo e dessas tantas tentativas do narcotráfico de influenciar as políticas de governo, podemos involuir ainda mais e descambar para algo ainda pior, que seria a constituição de um narcoestado. Mas aí já é outra temática...

Jesus Pablo Barbosa é delegado