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Imprensa espírita: O pioneirismo da Bahia


 

O periódico surgiu com o nome de O Ecco Além do Túmulo, com 56 páginas, impresso na tipografia do Diário da Bahia

  • Nelson Cadena

Publicado em 20/09/2024 às 05:00:00

A imprensa espírita nasceu na Bahia, em julho de 1869, por iniciativa de Luiz Olímpio de Menezes, no propósito de homenagear Alan Kardec, recém-falecido. No seu editorial de estreia destacou: “Há quatro anos que o espiritismo pronunciou na Bahia a sua primeira palavra. Nosso intuito é estudar os fenômenos que se nos apresentam por maneira tão extraordinária quanto admirável”. Referência, esta, ao Grupo Familiar do Espiritismo, fundado por ele, em 1865. O periódico surgiu com o nome de O Ecco Além do Túmulo, 56 páginas, impresso na tipografia do Diário da Bahia.

Enquanto o jornal circulou, seu fundador destinou mil reis de cada assinatura vendida “para dar liberdade a escravos, de qualquer cor, do sexo feminino, de 4 a 7 anos de idade, nascidos no Brasil”. O dinheiro arrecadado pretendia comprar cartas de alforria. A sua linha editorial constava de transcrições da Revue Spirite, que circulava na França desde 1858, dirigida por Allan Kardec e, no tempo em que Luiz Olímpio lançou o seu jornal, dirigido por Pierre Leymarie. A seção de “manifestações dos espíritos” era um dos destaques; repercutia mensagens de Santo Agostinho, Cristovão Colombo, João Evangelista, Galileu, Sócrates, Luiz Offenbach…

Seis anos transcorreram até o surgimento de outra publicação espírita no Brasil, a Revista Espírita (1875), redigida por Silva Neto, no Rio de Janeiro. Na Bahia transcorreram 24 anos antes de termos outra publicação do gênero: a Revista Spírita, (1895) dirigida pelo médico homeopata Silvino Moura. Homeopatia, maçonaria e espiritismo era um perfil das principais lideranças engajadas na doutrina de Kardec. O Dr. Alexandre de Mello Moraes, notável historiador, um dos grandes divulgadores da homeopatia no país – fundou um hospital homeopático no Cais Dourado para atender escravos - foi também propagador da maçonaria

O pioneirismo de Luiz Olímpio com o seu jornal provocou imediata reação da Igreja Católica que nesse mesmo ano de 1869 lançou A Crônica Religiosa, no propósito de combater a doutrina, redigida pelo Cônego Juliano José de Miranda. O jornalista não viveu para testemunhar, na década de 1880, a investida da imprensa católica e evangélica contra as publicações espíritas editadas a partir de 1883, quando surge na capital do país o Reformador, que se apresentava como “órgão evolucionista”.

E, na sequência, O Regenerador (1890), Religião Espírita (1898) e O Puritano (1900), no Rio de Janeiro; A Paz (1900), iniciativa de Manuel Maria da Boa Morte, e O Lápis (1903), na Bahia (em Caetité); Tribuna Espírita (1907), Reformador (1908); outro, no Rio - com o baiano Aristides Spínola como colaborador assíduo, na condição de vice-presidente da Federação Espírita Brasileira - e Verdade e Luz, de Silva Batuira, em São Paulo, dentre outros.

Luiz Olímpio, fluente em vários idiomas, funcionário da Assembleia Legislativa e da Biblioteca Pública, exerceu o jornalismo de opinião, sua paixão, em alguns periódicos da terrinha, incluindo o Diário da Bahia (Liberal) e o Jornal da Bahia (Conservador).

Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras