Marta, a rainha do futebol que superou dificuldades desde cedo
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Miro Palma
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Marta venceu pela sexta vez. Para mim foram mais vezes. Sua primeira vitória foi quando, ainda em Dois Riachos, interior de Alagoas, escolheu jogar futebol. Se, atualmente, o esporte é dominado pelos homens, no início da década de 1990 e em uma cidadezinha do Nordeste, era ainda mais. Mas ela superou esse obstáculo e o fez mesmo depois de ter sido abandonada, junto com a mãe e as irmãs, pelo homem que deveria ser o seu exemplo: o pai.
Ela seguiu vencendo quando insistiu em jogar futebol na rua, mesmo sendo constantemente evitada pelos meninos, como contou em entrevistas. E venceu mais uma vez quando, em 1999, entrou para o juvenil do CSA. Daí em diante, somou inúmeras vitórias: sua contratação como profissional pelo Vasco em 2000; a chegada na seleção brasileira, em 2003, quando ainda conquistou ao lado de sua equipe a medalha de ouro dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo; a ida para a Europa em 2004, ao assinar com o Umëa, da Suécia; a marca de 103 gols pela seleção – registro oficial até 2017 – que a fez passar à frente de Pelé como maior goleadora da equipe verde e amarela; e, claro, os seis títulos de melhor jogadora do mundo pela Fifa, feito inédito da premiação The Best.
Marta já era uma vencedora muito antes de ter seu nome ecoado na cerimônia de anteontem, em Londres. Ainda assim, apesar de todo seu gigantismo no esporte, ela só ganha atenção – dos torcedores, imprensa e mercado – em momentos como esse. Marta não é venerada o ano inteiro. Assim como a modalidade feminina aqui no Brasil, a alagoana vê sua carreira ser lembrada de forma sazonal. Depois que o evento acaba, o feito ganha um lugar em sua prateleira e todos voltam à programação normal de só pensar em Neymar. Ah, e só para lembrar, no próximo ano tem Copa do Mundo de futebol feminino, na França. No próximo dia 6 de outubro faremos um amistoso de preparação diante da Inglaterra.
Nos falta, enquanto brasileiros, entre tantas coisas, a capacidade de valorizar os verdadeiros ídolos. Não só no esporte, mas especialmente nele. Porque o esporte – seja ele qual for – é o que é, justamente, por causa de pessoas como Marta, que estão fora da curva. Não somente na habilidade, no caso dela com a bola. Mas, também, na vida. Pessoas como a brasileira que passou por cima de todas as probabilidades comuns às meninas de cidadezinhas no interior do Nordeste e às mulheres no futebol. Pessoas que são exemplos a serem seguidos, que inspiram genuinamente. Não estou falando de um produto de marketing feito para vender camisas, lâminas de barbear e xampus anti-caspa. Estou falando de ídolos.
Decepção Quem deu um péssimo exemplo no futebol foram Messi e Cristiano Ronaldo. Os dois, que juntos somam dez títulos de melhor jogador do mundo pela Fifa, não compareceram à premiação que, além de eleger Marta, deu a Luka Modric o primeiro título de The Best de sua carreira. Cristiano ainda concorreu na categoria ao lado do ex-companheiro de time. E tanto ele quanto o argentino foram eleitos para a seleção do ano. Talvez, tenha faltado aos dois entender que um ídolo de verdade se mede muito mais nas derrotas do que nas vitórias. É nesse momento que podemos ver quem só quer aplausos e quem, independentemente de qualquer revés, está disposto a dar o seu melhor.
*Miro Palma é subeditor do Esporte e escreve às quartas-feiras