Disco confirma Céu como a cantora mais influente de sua geração
Artista brilha em novo trabalho que tem canção inédita de Caetano e cujo show de lançamento em SSA será no Festival Radioca, dia 10/11
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Hagamenon Brito
hagamenon.brito@redebahia.com.br
Quando a cantora paulista Céu lançou seu primeiro e homônimo álbum, em 2005, não existiam muitas novas mulheres pop pós-Marisa Monte compondo no Brasil. "Era apenas eu, Vanessa da Mata e Cibelle, que hoje é artista plástica e mora em Berlim", afirma a artista, que lança seu 5º e ótimo álbum de estúdio: APKÁ! (Slap). APKÁ! é o quinto álbum de estúdio da cantora e compositora Céu, com produção de Pupillo e do francês Hervé Salters (Foto/Fábio Audi/Div.) Sorrindo, ela afirma: "É muito legal, depois de cinco discos, sentir que a minha música e trajetória inspiraram meninas a compor. Eu abri a porta para elas". E tal trajetória, com suas nuances e coerentes passos entre um álbum e outro, alcança um novo momento de brilho em APKÁ!, que olha para o passado e o futuro de Céu.
Esse pioneirismo aliado ao seu estilo de cantar (sensual e com vocais sussurados), e sonoridade que brinca com beats e atmosferas jamaicanas e pop internacionais (como o trip hop), transformaram Maria do Céu Whitaker Poças, 39 anos, na cantora brasileira mais influente de sua geração.
Produzido por Pupillo (Nação Zumbi) e o francês Hervé Salters (General Elektriks), os mesmos do discaço Tropix (2016), o álbum equilibra timbres orgânicos e sintéticos com felicidade em canções como Coreto (composta com a diva Gal Costa na cabeça), Forçar o Verão e Fênix do Amor.
Contrastes - Os vocais da cantora soam mais naturais do que no trabalho anterior. "Tropix foi um disco em que eu pensei e almejei um conceito, com muitos elementos sintéticos e artificiais. Em APKÁ! não almejei nenhum lugar, nada, veio de dentro para fora", revela.
"Eu queria que esse disco falasse também da ideia de contrastes, tanto sobre um futuro com coisas orgânicas e eletrônicas como da polarização que vivemos no Brasil e no mundo atualmente. É um tempo de muitos contrastes".
Céu acha que a situação política brasileira atual é de tirar o fôlego, assustadora, o pior momento do país desde a redemocratização, incluindo a acelerada devastação da Amazônia. Mas ela acredita que vamos tirar um "aprendizado disso tudo, pois o ser humano vive historicamente em espirais".
O filho Antonino e inédita de Caetano - APKÁ! reafirma Céu como uma compositora dona de um universo muito particular, como mostra a faixa Ocitocina (Charged), que fala do parto do seu segundo filho, Antonino, 1 e sete meses, fruto da sua união de sete anos com Pupillo. "Foi a partir do parto de Antonino que comecei a formatar as canções. O parto foi natural e assim pude vivenciar a plenitude de ser mulher, sem nada que tirasse esse poder feminino de mim, pois a cesariana tira isso da mulher. É algo que virou uma indústria no Brasil", afirma. O próprio nome do álbum veio de uma expressão de satisfação plena gritada pelo bebê.
Apenas duas das 11 músicas de APKÁ! não foram compostas por Céu: as belas Make Sure Your Head Is Above, de Dinho Almeida (Boogarins), com um quê sutil de Lou Reed; e Pardo, de Caetano Veloso ("Nêgo/ Teu rosa é mais rosa que o rosa da mais rosa rosa/ Veio um beijo preto/ Sangue sob a pétala/ Veio um papo reto/ Língua sobre a úvula.../ Sou pardo e não tardo a sentir me crescer o pretume/ Sou pardo e me ardo de amores por ti sem ciúme").
"Tive a cara de pau de pedir uma inédita a Caetano. Engraçado é que ele demorou a responder e eu fiquei aflita e mandei mensagem para Paulinha (Lavigne) perguntando sobre a música. Ele tinha esquecido de me responder e mandou a canção de Paris, onde estava com a turnê de Ofertório".
Céu vai apresentar o seu novo show em Salvador no Festival Radioca, dia 10 de novembro. "Amo a musicalidade de Salvador e do público baiano. É uma energia que a gente sente no palco", elogia. Veja o videoclipe de Coreto
* CÉU LISTA 5 ÁLBUNS QUE FIZERAM A SUA CABEÇA * Bob Marley - Catch a Fire De 1973, trouxe fama internacional para Bob, com tom político e a amorosa Stir it Up. * The Velvet Underground Tem ótimas canções de rock avant-garde da banda de Lou Reed, como Candy Says. De 1969. * Martinho da Vila - Canta Canta, Minha Gente Clássico da MPB, de 1974, traz sambas como Disritmia e a faixa-título. * Moacir Santos - Coisas Obra-prima afro-jazz de 1965, é o disco de música instrumental mais importante do Brasil. * Miles Davis - Kind of Blue Obra-prima de 1959, é o álbum mais vendido da história do jazz: 5 milhões de cópias.