Show no Rio Vermelho: “eu quero que as pessoas se enxerguem em mim, mesmo eu sendo travesti”
Estreia na Varanda do SESI chama pra dançar e sentir o que nos coloca, a todos, no mesmo lugar
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Flavia Azevedo
flaviaazevedo.flcp@redebahia.com.br
Manuela Oliveira é uma cantora baiana de 23 anos. Canta desde os 17. Atualmente, estuda música popular na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Manuela escolheu Neo como nome artístico e também batizou assim esse show no qual se apresenta acompanhada por duas percussões, um baixo, um piano e um sax.
"Neo” também é esse prefixo de origem grega que, conforme todo mundo sabe, significa “novo”. Manuela fez a transição de gênero muito recentemente, em setembro do ano passado. Então, ser uma figura feminina é novo pra ela. Neo é uma travesti. Ouvir, pensar, falar a palavra “travesti” de forma natural, sem qualquer conotação pejorativa, é parte do novo pra muita gente.
(Travesti vem do latim “transvestire”, que significa "se vestir além". Durante muito tempo, o termo foi considerado pejorativo, mas o conceito tem sido ressignificado. No Brasil, o Dia da Visibilidade de Travestis e Transexuais é comemorado no dia 29 de janeiro, uma data criada pelo Ministério da Saúde em 2004.)
Nesse show, Manuela escolheu falar de amor e eu achei estranho quando escutei a ideia. É que, no meio de tanto “novo”, eu esperava uma coisa mais “nova” do que falar do que todo mundo vive. Contar o percurso do amor romântico me pareceu muito do mesmo, até que ela explicou o que eu não via:
“Meu show traz a minha perspectiva do afeto e do amor sendo uma travesti. O show tem a função de trazer a minha vivência e fazer com que as pessoas enxerguem a minha humanidade. O mecanismo em que a gente está destrói a nossa humanidade, faz com que a gente vire qualquer coisa menos que isso. Eu quero que as pessoas se enxerguem em mim, mesmo eu sendo travesti. Eu quero que elas pensem em como a gente é igual, mesmo elas sendo pessoas cis”.
Então, entendi: na história que ela quer contar, o “novo” é, justamente, a inclusão das experiências amorosas de uma travesti no conjunto “experiências de todos nós”, porque você sabe que ainda há quem não perceba assim. Isso, por meio de canções que fazem parte do nosso imaginário romântico e quem nunca se emocionou escutando alguma de Rita Lee, Djavan ou Gonzaguinha (que estão no repertório), por exemplo, já tá morto sem saber.
A direção musical transforma o roteiro emocional de Neo em um show dançante de canções consagradas, só que em versões baianas. No conjunto está presente a estética de várias fases da nossa música - do ijexá ao novíssimo groove arrastado - e muitas variações entre uma coisa e outra. Nova será, portanto, também a maneira de tocar, cantar e ouvir as músicas que você sabe de cor, seja você cis, trans, travesti, hetero, bi, homo ou qualquer outra letra da sigla.
Volúpia, Paixão, Intimidade, Desilusão e Superação são os blocos do show que traz delícias tradicionais e contemporâneas sob a direção musical de Reinaldo Maia, que também assume o piano. Na banda, ainda Daniel Becker (sax), Ito Araújo (percussão), Rayan Ribeiro (baixo) e Dario Pergentino (percussão). Eu, sendo tu, ia lá sentir amor e dançar um pouquinho.
Serviço
Data: 27 de novembro
Horário: 21h
Local: Varanda do SESI Rio Vermelho
Ingressos: R$ 30 (inteira) / R$ 15 (meia) – à venda pelo WhatsApp 71 99108 2024 ou na bilheteria da Varanda do SESI no dia do evento.
(O show conta com o apoio da Global Giving em parceria com a Ford Philanthropy e produção do Chama Pra Dançar.)
Flavia Azevedo é colunista do CORREIO, editora e mãe de Leo