Jogo do tigrinho: influencers participam de golpe de R$ 38 milhões
Operação da Polícia Civil de Alagoas revela como fraude funciona; mulher diz que família perdeu R$ 400 mil com apostas
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Flavio Oliveira
flavio.oliveira@redebahia.com.br
Quase que simultaneamente ao avanço no Congresso do projeto de lei que legaliza cassinos e alguns tipo de jogos de azar no Brasil, a Polícia Civil de Alagoas desbaratou um esquema envolvendo influencers e a máfia de jogos de azar online. Nem tudo foi divulgado, seja em obediência à Lei de Abuso de Poder, seja para não atrapalhar a continuidade das investigações. Espera-se, contudo, que uma cifra de pelo menos R$ 38 milhões acorde sociedade, deputados e senadores tanto para os riscos da legalização dos cassinos quanto para a necessidade de regulação (diga-se responsabilização) das redes sociais.
A quantia é o que os investigadores estimam ser o fruto financeiro dos golpes em apenas 9 meses. A Operação Game Over foi deflagrada na segunda (17) contra 12 alvos, entre influenciadores, agenciadores e intermediárias da fraude. Os nomes não foram revelados, mas a imprensa local levantou dois deles: as influenciadoras Paulinha Ferreira e Mylena Verolayne. Só nesse primeiro dia, foram apreendidos carros de luxo que valem R$ 5 milhões.
A polícia alagoana mapeou o funcionamento do esquema criminoso. O primeiro passo é dado pelas plataformas de jogos online - sediadas fora do Brasil para fugir da legislação do país - que identificam possíveis intermediadores do “negócio”. Em seguida, essas pessoas fazem contato com os influenciadores para fechar contratos de publicidade “informal”. Os influenciadores recebiam valores de até R$ 300 mil por sete dias de divulgação em suas redes sociais. Mylena Verolayne, por exemplo, cobrava R$ 80 mil. Ela tinha mais de 1 milhão de seguidores no Instagram. Além do tigrinho, o contrato informal também envolvia a divulgação de outros jogos similares (do touro e do coelho). Todos eles, segundo especialistas, usam fórmulas e estratégias para viciar o usuário.
Na próxima etapa, os influenciadores recebem das plataformas um link especial para o jogo e uma conta demo, programada para sempre ganhar altas somas de dinheiro, de forma a iludir o público. “Existe até aqueles que ganham alguma vez, mas nunca nem perto do dinheiro que esses [influenciadores] mostram, é sempre a bancarrota. Não tem ninguém que ficou rico com esses jogos, só os influenciadores”, afirmou o delegado Lucimério Campos. Uma mulher relatou à polícia alagoana que todo patrimônio da família foi dilapidado por causa do jogo do tigrinho. O prejuízo foi calculado em R$ 400 mil perdido em apostas feitas pelo neto dela.
Após divulgarem os vídeos com as “vitórias” nos jogos, os influenciadores mostram saques fraudulentos. De acordo com a polícia, os influenciadores simulam sacar valores que, na verdade, são comissões de captação de usuários ou pagamento pela publicidade.
Em uma nova fase, os influencers começam a contar histórias de que viviam em dificuldades e que estão melhorando de vida graças ao que ganham nos jogos. A argumentação de todos os investigados segue o mesmo padrão, relatos pessoais e persuasivos para que a audiência acredite que é possível superar as dificuldades financeiras de forma rápida e fácil. Por fim, para tornar tudo ainda mais verossímil, os influenciadores começam a postar fotos de viagens internacionais, carros de luxo e outras ostentações.
Os investigados estão sendo indiciados por estelionato, contravenção de jogo de azar, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Na quarta (19), a Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou o projeto de lei que prevê a autorização do funcionamento de cassinos e bingos no Brasil, legaliza o jogo do bicho e permite apostas em corridas de cavalos.
As bets esportivas já são legais no país e formam um mercado que movimentou entre R$ 100 e R$ 120 bilhões em 2023 (cerca de 1% do PIB) segundo relatório da XP Investimentos. O estudo traz um capítulo sobre os apostadores que aponta que esses jogos consomem cerca de 20% do orçamento livre (o que sobra depois de pagar água, luz, telefone, comida, educação, saúde e impostos) das famílias de renda mais baixa. Não é muito, mas pode ser o início da bancarrota, no mercado formal ou não.
Brasil, que já perdeu a alegria, agora vê criatividade ir embora
O brasileiro sempre se viu como um povo alegre e criativo. Pesquisas globais, no entanto, têm desfocado essa autoimagem. O país já ocupava posições intermediárias em sucessivos rankings dos países mais felizes – é 44º no World Happiness Report (Relatório Mundial de Felicidade) da ONU. Agora, ficou entre os 15 últimos lugares na avaliação do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) sobre criatividade divulgada na terça (18) pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A liderança, assim como linguagens, matemática e ciências, ficou com Singapura. O país asiático marcou 41 pontos. Já o Brasil tirou 23 pontos, dez abaixo da média da OCDE e no mesmo patamar de países como Peru, Panamá e El Salvador. O teste foi respondido por estudantes de 15 e 16 anos.
O Pisa define o pensamento criativo como “a competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e melhoria de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação” e afirma que ele pode ser desenvolvido por meio da prática e que pode ser demonstrado em contextos cotidianos.
A maioria dos 12 países que superaram a média da OCDE em pensamento criativo também superaram a média em matemática, leitura e ciência. O teste também descobriu que as meninas são mais criativas que os meninos. Os avaliadores entendem que essa diferença se dá porque elas, em geral, tiram melhores notas e leem mais.
com agências
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