Com ajuda de mafioso, polícia vai golpear facções
Autoridades brasileiras vão até a Itália recolher informações de italiano que trabalhou com PCC e CV
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Flavio Oliveira
flavio.oliveira@redebahia.com.br
As duas maiores facções criminosas do país estão nas cordas e é questão de tempo para que alguns de seus maiores segredos sejam revelados às autoridades brasileiras. Pelo menos, essa é a perspectiva desenhada desde a prisão do italiano Vincenzo Pasquino em João Pessoa (PB) em maio de 2021 e que está cada vez mais próxima de se concretizar. Nos próximos dias, um grupo criado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) vai viajar para a Itália e colher documentos relacionados à confissão do italiano.
Este novo round do combate ao PCC e ao CV tem tanto pontos a serem comemorados, quanto de preocupação, pois o desenrolar da história tem o poder de aumentar a violência da sangrenta disputa entre os dois grupos criminosos pela criação e controle de novas rotas de escoamento de drogas. A viagem foi confirmada pelo secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo em entrevista à TV Globo na segunda (5).
Extraditado para seu país de origem no último mês de fevereiro, Pasquino virou um “pentito”, jargão jurídico italiano que, mais que arrependido, indica que o mafioso decidiu romper a lei do silêncio e colaborar com a Justiça, indicando nomes, golpes, rotas e crimes do grupo ao qual pertencia. Segundo a promotoria italiana, Pasquino era o maior intermediador das cargas de cocaína que saíam da América do Sul para a Europa e trabalhou em conjunto tanto com o PCC quanto com o Comando Vermelho.
Parte do conteúdo de sua delação premiada já foi encaminhada para o Ministério da Justiça. Junto com as primeiras revelações, as autoridades do país europeu convidaram procuradores brasileiros para participarem das investigações sobre as rotas internacionais de tráficos das facções brasileiras.
Verdadeiro arquivo vivo, Pasquino tem informações que podem levar a polícia brasileira a desferir um golpe certeiro na cúpula das duas facções. Ele pertencia a ‘Ndrangheta, a máfia que domina o mercado mundial de drogas por meio de associação com outras organizações criminosas. Segundo o ofício encaminhado pelos procuradores italianos, a cocaína saía do Brasil em grande quantidade pelo mar para famílias de mafiosos na Itália.
O arrependido deu codinomes de criminosos brasileiros com quem trabalhou, mas eles foram omitidos no documento para não atrapalhar as investigações. E contou, entre outros casos, que um carregamento do PCC, de cem quilos, foi recusado pelos calabreses do grupo de Plati, que alegaram que a cocaína não era de boa qualidade. O caso levou a um racha com a facção brasileira, que passou a trabalhar com a Máfia dos Bálcãs e seus grupos de albaneses, montenegrinos e sérvios. A estimativa é que a aliança entre a ‘Ndrangheta e o PCC resultaria em um lucro de R$ 1 bilhão só para o grupo brasileiro.
Ainda segundo documento italiano, Pasquino falou sobre o funcionamento do tráfico nos portos brasileiros de Santos (SP), Paranaguá (PR) e João Pessoa. E que o mafioso promete entregar o mapa das principais rotas internacionais da droga e seus contatos com turcos e chineses ligados à lavagem de dinheiro, além de novos detalhes sobre as operações do PCC e o Comando Vermelho.
De posse dessas informações, as autoridades brasileiras podem, enfim, interromper o fluxo de drogas nessas rotas e prender importantes líderes das facções e suas ligações para além do submundo do crime, que podem incluir políticos e empresários.
Mesmo se a operação tiver sucesso, as polícias brasileiras não devem baixar a guarda. Tudo isso acontece após PCC e CV romperem uma duradoura trégua que impedia o confronto direto entre as duas organizações criminosas. Enquanto o CV parece se fortalecer, expandindo, a custa de muitas mortes, o controle territorial em cidades em todo o Brasil, o PCC resiste, mesmo enfrentando a maior crise de sua história com uma guerra aberta por antigas lideranças.
Na história das quadrilhas, quando um líder se vai, subordinados passam a se digladiar para assumir o controle. Esse conflito tende a ser violento. Outro ponto a se destacar é que a interdição de uma rota não é capaz de por si só fazer cessar o tráfico de drogas. A atividade movimenta muitos recursos e por isso os criminosos buscam caminhos alternativos. A Bahia, com o maior litoral do Brasil pode abrigar novas vias para logística do tráfico internacional.
Fake news motivam atos racistas
A série de violentos protestos racistas que tomaram conta do Reino Unido nessa semana mostra como grupos radicais conseguem manipular emoções das pessoas para desestabilizar governos e instituições, demonstrar força e impor sua agenda. E também a urgência de uma regulação que responsabilize as redes sociais pela disseminação de conteúdo de ódio.
Tudo começa com um crime chocante: o ataque a uma escola na cidade de Southport que deixou três crianças mortas e cinco gravemente feridas. Na Inglaterra, imprensa e autoridades não revelam a identidade de criminosos até que eles sejam condenados judicialmente, o que deu margens a diversas especulações que logo se transformaram numa campanha de desinformação e manipulação em massa. As mensagens utilizavam uma mentira, propagando que o episódio era fruto de um ataque terrorista cometido por um muçulmano.
No Reino Unido – como em toda a Europa – a imigração é um tema sensível. Conservadores radicais associam ataques terroristas à migração (legal e ilegal). Esses grupos ainda defendem que os imigrantes e seus dependentes nunca vão assimilar valores cristãos e colocam a “cultura ocidental” em “risco de extinção”.
Após a disseminação das fake news, lideranças da extrema direita passaram a convocar os protestos. Com gritos racistas e xenofóbicos, os manifestantes se concentravam nas proximidades de delegacias, órgãos ligados à política migratória do Reino Unido (já uma das mais restritivas da Europa) e de bairros de imigrantes, que eram ameaçados. Muitos desses atos desbancaram para a violência em cidades como Londres e Manchester.
O governo trabalhista recém-eleito teve de intervir. A identidade do autor do ataque foi revelada: Axel Rudakubana, de 17 anos. Ao contrário do propagado pela extrema direita, ele não é um refugiado que chegou em barco em 2023. Ao contrário, ele nasceu no Reino Unido. Preso à disposição da Justiça, ele é acusado de três homicídios, 10 tentativas de homicídio e de posse de arma branca. Os motivos do ataque ainda não foram divulgados, mas a polícia descarta a hipótese de terrorismo. Segundo a imprensa, vizinhos da família do jovem descreveram a família Rudakubana como muito envolvida com a igreja local. Axel tem um diagnóstico de transtorno do espectro autista.
Meme da semana
Ana Sátila não ganhou medalhas, mas ficou com o troféu bom humor. Inscrita em diversas provas da canoagem, ela monopolizou horas de transmissão. Quando sua maratona particular finalmente encerrou, ela foi confrontada com os memes. E riu de todos eles.
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