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Uma ameaça à saúde pública


 

Ministério da Saúde deve ser responsabilizado por desabastecimento de vacinas essenciais no país

  • Editorial

Salvador
Publicado em 20/09/2024 às 05:00:00

O Brasil, reconhecido internacionalmente por suas campanhas de vacinação bem-sucedidas, atravessa um período preocupante de desabastecimento de vacinas essenciais. De acordo com um estudo recente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), na Bahia, 66,9% das cidades relataram falta de imunizantes destinados ao público infantil. Estamos falando de vacinas contra doenças graves, como a catapora, meningite e poliomielite – enfermidades que, até pouco tempo atrás, eram consideradas sob controle.

A falha na distribuição de vacinas coloca em risco um dos pilares da saúde pública: a prevenção. O Ministério da Saúde, responsável pela aquisição e envio de imunizantes, falha ao não garantir a regularidade no abastecimento dos estados. O problema é agravado pela falta de transparência e pela incapacidade de prever ou solucionar gargalos na distribuição. Enquanto isso, os pais são obrigados a lidar com a insegurança de não conseguir imunizar seus filhos.

O caso da vacina contra catapora é emblemático. O imunizante está em falta em 97 cidades baianas, enquanto o estado lidera o número de casos confirmados da doença em 2024. Esse cenário é um reflexo de uma política ineficaz de gerenciamento de estoques e distribuição de vacinas.

A situação se agrava ainda mais com o recente dado de que milhões de doses de vacinas contra a covid-19 estão prestes a vencer, e 39 milhões de doses já foram perdidas, com um prejuízo de quase R$ 2 bilhões. Como aceitar que o Brasil, um país com capacidade de produção e compra de vacinas, enfrente essa situação enquanto crianças ficam desprotegidas?

O desperdício de imunizantes e o desabastecimento constante são um atentado ao direito à saúde, garantido pela Constituição. As consequências disso são graves. Além de comprometer a saúde imediata da população, com a possibilidade de retorno de doenças como a poliomielite, essa falha mina a confiança no sistema de saúde. As famílias, ao não conseguirem vacinas nos postos de saúde, se desmotivam, o que pode levar a uma redução ainda maior na cobertura vacinal e agrava o cenário.

Em algumas cidades baianas, a vacinação infantil contra a covid-19 precisou ser interrompida em agosto deste ano por falta de doses. A retomada só ocorreu em setembro. Outros municípios enfrentam problemas por falta de vacinas contra a varicela desde julho do ano passado.

O Brasil não pode aceitar retrocessos em saúde pública. O Ministério da Saúde deve ser responsabilizado e cobrar soluções rápidas e eficientes. Afinal, a proteção da vida dos brasileiros não pode esperar.