O discurso de conveniência do PT e de Lula
A democracia nunca será um conceito relativo, como apregoa o presidente da República; é um valor fundamental que deve ser defendido com firmeza
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Editorial
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT venceram as eleições de 2022 com a bandeira de que eram os defensores da democracia. Diziam em alto e bom som que, caso não saíssem vitoriosos das urnas, o estado democrático brasileiro iria ruir como um castelo de cartas. No entanto, a recente nota da Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores e as declarações de Lula favoráveis à ditadura de Nicolás Maduro, nesta semana, colocam em xeque a retórica dos “guardiões da democracia”.
Dados das eleições obtidos pelo jornal americano The New York Times mostram que o candidato da oposição Edmundo González venceu Maduro por mais de 30 pontos percentuais. A estimativa é que a vitória do oposicionista tenha sido de 66% a 31%, números bem diferentes dos apresentados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), que apontou Maduro vitorioso com 51% dos votos contra 44%.
O conselho, controlado pela ditadura venezuelana, se recusa a divulgar os sufrágios totais e as atas do pleito. O Brasil, um país com instituições democráticas, deve mesmo exigir transparência no sistema de apuração.
Mas desde os tempos de Hugo Chávez, Lula e o PT mantêm uma relação de proximidade com os tiranos venezuelanos. Essa afinidade parece cegar o governo brasileiro para as realidades do regime autoritário em Caracas.
A afirmação recente de Lula, de que na Venezuela “não tem nada de grave, nada de anormal”, após a controversa vitória do ditador, é um insulto à população que luta pela democracia e que arrisca a vida por essa causa. Depois do pleito que teria sido fraudado, a ditadura de Maduro já deixou, pelo menos, 11 mortos, 123 feridos e 749 presos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem denunciado as detenções arbitrárias, inclusive, de crianças. Não podemos compactuar com essa violação dos direitos humanos.
É abominável que o PT descreva as eleições venezuelanas como uma “jornada democrática e soberana”, e ignore as inúmeras irregularidades e a repressão brutal que acontecem no país vizinho. A Venezuela, que já foi o mais rico da América do Sul, tem um povo que sofre com o empobrecimento e a privação de direitos. É profundamente vergonhoso que o Brasil, com tradição diplomática de respeito aos direitos humanos, apoie este regime.
Por que Lula e o seu partido, que classificaram como golpe de estado os ataques de 8 de janeiro, agora minimizam os arroubos autoritários de Nicolás Maduro? Não se pode ter dois pesos e duas medidas. A postura do petista, até aqui, tem sido um reflexo de uma visão estreita e equivocada da política internacional, onde o alinhamento ideológico parece sobrepor-se aos princípios democráticos.
A democracia nunca será um conceito relativo, como apregoa o presidente da República, é um valor fundamental que deve ser defendido com firmeza. Ser complacente com regimes, como o de Nicolás Maduro, é uma traição ao seu eleitorado que depositou a confiança nos seus valores democráticos.
Estamos presenciando um momento crítico da nossa política externa. Lula e o PT devem reconsiderar suas posições e alinhar-se com as democracias que condenam as violações de direitos humanos e as fraudes eleitorais. Não podemos nos tornar cúmplices de governos autoritários que desprezam esses valores.