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Não há o que celebrar no quesito segurança


 

Medidas paliativas e celebrações prematuras não trarão a paz e a segurança que os cidadãos merecem

  • Editorial

Salvador
Publicado em 19/07/2024 às 05:00:00

Os dados do 18º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados ontem, revelam que a epidemia de violência ainda persiste na Bahia. Pelo terceiro ano consecutivo, fomos o estado com mais mortes violentas no país. Foram registrados 6.578 assassinatos em território baiano no ano passado, 54% a mais do que no Rio de Janeiro, que ficou em segundo lugar.

O indicador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública soma os homicídios dolosos, latrocínios, lesões corporais seguidas de morte e mortes por intervenção de agentes policiais para chegar ao número de mortes violentas ocorridas em um período. Comparativamente, o estado baiano computou mais ocorrências no ano passado do que estados como São Paulo (3.481), Minas Gerais (3.044) e Rio de Janeiro (4.270), que possuem populações maiores.

Ao analisar a taxa de assassinatos por 100 mil habitantes, o estado também está em segundo lugar com 46,5, atrás apenas do Amapá, que teve uma taxa de 69,9. Outro aspecto preocupante é a letalidade policial na Bahia. Em 2023, aconteceram 1.699 mortes por intervenção de agentes de segurança, o que representa um quarto de todos os casos notificados no país. Esse índice elevado de letalidade policial evidencia uma abordagem de segurança pública que, em vez de proteger, muitas vezes intensifica o clima de medo e violência.

Diante disso tudo, é muito estranho que o governador petista Jerônimo Rodrigues tenha celebrado na semana passada a redução dos índices de violência. A queda de 1,3% nas mortes violentas, segundo o Anuário, entre os anos de 2022 e 2023, não deve ser motivo de comemoração em hipótese nenhuma, mas de atenção. Os números mostram que a violência em nosso território é aterrorizante e requer ação para reduzir. O governo precisa atuar para preservar todas as vidas.

Não é aceitável também os argumentos usados pelas administrações estaduais para questionar as metodologias dos institutos que realizam as pesquisas. Está claro que o problema da violência na Bahia não é a estatística. É de gestão. Discursos ou contabilidades criativas não serão capazes de esconder os números da criminalidade no estado.

O governo baiano precisa enfrentar a realidade com determinação. A ligeira queda nas mortes violentas não pode ser vista como um sucesso, mas como um indicador de que mudanças profundas são necessárias. A segurança pública deve ser tratada com seriedade, com investimentos em políticas que ataquem as raízes da violência, como a falta de educação, saúde e oportunidades de emprego.

A Bahia precisa de uma abordagem integrada e sustentável para combater a violência. Medidas paliativas e celebrações prematuras não trarão a paz e a segurança que os cidadãos merecem. É importante que o governo adote estratégias que promovam uma verdadeira transformação social e garanta um futuro mais seguro e justo para todos os baianos. Até que isso aconteça, qualquer comemoração será vazia e desrespeitosa com as vítimas e suas famílias.