É para estudar ou ter medo?
É fundamental agir contra o crime, mas a estratégia atual, que leva o conflito armado a ambientes escolares, claramente precisa ser repensada
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Editorial
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O Instituto Fogo Cruzado trouxe novamente nesta semana, dados sobre a violência em Salvador. Desta vez, o foco foi nas escolas públicas: em três de cada quatro tiroteios, as balas já cruzaram as proximidades dessas instituições. E, diante disso, a pergunta que se levanta é: como uma criança pode se concentrar em aprender quando o medo de um tiroteio próximo é constante? Quando o caminho para a escola é um trajeto de risco, como esperar que a educação cresça em meio a esse ambiente de tensão e perigo?
Casos como o da Escola Municipal São Pedro Nolasco, onde um projétil atravessou a janela da cozinha durante um dia letivo, ilustram o caos. Alunos e professores, ao som dos tiros, se deitaram no chão, e as aulas foram suspensas até que a sensação de segurança fosse minimamente restaurada. Esse episódio não é isolado: dos 200 dias de um ano letivo, em média 161 registraram disparos perto de escolas.
Em bairros como Fazenda Grande do Retiro, os tiroteios se tornaram quase uma rotina, expondo a todos os que ali vivem a uma violência sem trégua. Para crianças e adolescentes, essa realidade traz prejuízos imensuráveis ao desenvolvimento. Professores enfrentam crises de ansiedade, incapazes de exercer seu trabalho plenamente. A educação, que deveria representar um caminho para um futuro seguro e digno, tem sido ofuscada pelo trauma e pela insegurança.
Diante dessa situação, a Defensoria Pública da Bahia propõe que operações policiais evitem horários de entrada e saída dos alunos. Esse é um passo importante, mas é preciso questionar os efeitos de uma política de segurança que, até agora, tem exposto crianças e adolescentes ao risco diário, com pouquíssimos resultados concretos na redução da violência. É fundamental agir contra o crime, mas a estratégia atual, que leva o conflito armado a ambientes escolares, claramente precisa ser repensada.
É imperioso uma política integrada que priorize a proteção das escolas, uma parceria entre governo do estado, sociedade e segurança pública que vá além da contenção do crime e que coloque a segurança e o bem-estar dos alunos em primeiro plano. Esse compromisso com a educação segura é urgente. Sem ele, continuamos a condenar milhares de crianças e jovens ao medo, ao estresse e à evasão escolar.