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Atestado de incapacidade


 

O colapso da segurança pública na Bahia não pode mais ser tratado com desdém ou com discursos que buscam minimizar o óbvio

  • Editorial

Salvador
Publicado em 18/10/2024 às 05:00:00

Os trágicos eventos recentes em Salvador e na Região Metropolitana, com 14 mortes registradas em menos de 24 horas, trazem à tona a fragilidade da segurança pública na Bahia e a incapacidade do governo estadual de oferecer respostas à altura. O governador Jerônimo Rodrigues, ao afirmar que a violência é um problema "nacional", não apenas transfere a responsabilidade, mas também emite um atestado de incapacidade diante da crise que se agrava a cada dia.

Em vez de assumir a gravidade da situação e apresentar um plano efetivo para conter a escalada de crimes, o governador se limita a discursos que minimizam, citando regiões do estado sem registros de violência. Essa tentativa de diluir a crise ao sugerir que há partes da Bahia "tranquilas" soa insensível e desconectada da realidade de milhares de cidadãos que vivem com medo. Não é à toa que 51% do eleitorado soteropolitano consideram a segurança pública como o mais grave problema da capital baiana, de acordo com a pesquisa da Quaest. A percepção é clara: falta comando e estratégia.

A crise não é nova, mas a explosão recente de violência, com bairros inteiros sob ameaça, incêndios a ônibus e um aumento no número de homicídios, escancara a gravidade do momento que vivemos. Só no mês de outubro, houve um aumento de 31,57% nas mortes por armas de fogo em Salvador e RMS em comparação com o mesmo período do ano anterior. O episódio da última quarta-feira, que incluiu triplo homicídio em Camaçari, decapitações e mortes brutais em plena capital, reforça a urgência de uma ação firme por parte do governo estadual.

No entanto, ao insistir que a violência é uma questão nacional, Jerônimo tenta diluir a responsabilidade que é sua. A segurança pública é, antes de tudo, uma obrigação do governo estadual, e essa crise demanda mais do que apenas operações policiais reativas. O problema está na raiz da incapacidade do estado em articular políticas preventivas, no combate ineficaz às facções criminosas e na insuficiente integração das forças de segurança.

O que os baianos esperam não é a transferência de culpa para o governo federal ou comparações com outros estados. A população quer respostas concretas. Quer policiamento eficiente nas ruas, quer sentir-se segura nos ônibus e nas suas comunidades. O que vemos, porém, é um governo que se exime, que recorre a justificativas vagas e que parece incapaz de coordenar uma ação à altura da gravidade do momento.

O resultado dessa inação é claro. A Bahia, que é um dos destinos mais procurados do país, hoje convive com o medo crescente. Comunidades inteiras têm suas rotinas interrompidas, com linhas de ônibus suspensas em bairros como IAPI, Alto do Cruzeiro e São Gonçalo do Retiro. E a sensação de insegurança só se amplia.

O colapso da segurança pública na Bahia não pode mais ser tratado com desdém ou com discursos que buscam minimizar o óbvio. O governo Jerônimo Rodrigues precisa entender que governar significa assumir responsabilidades. E, até agora, essa liderança tem sido, no mínimo, insuficiente.