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A crise da segurança compromete educação da Bahia


 

Quando não perfura os corpos, a violência urbana encontra outro meio de comprometer o destino de meninos e meninas da periferia de Salvador

  • Editorial

Salvador
Publicado em 07/06/2024 às 05:00:00

A violência urbana na Bahia atingiu um patamar que tem afetado diretamente a educação. A "guerra do tráfico" não tem dominado apenas ruas e vielas das cidades, mas também adentra os espaços que deveriam ser preservados por serem locais de aprendizado e desenvolvimento das nossas crianças e adolescentes: as escolas. Só este ano, 22 colégios de Salvador precisaram ficar fechados devido aos tiroteios, o que afetou mais de 7 mil alunos.

Quando não perfura os corpos, a violência urbana encontra outro meio de comprometer o destino de meninos e meninas da periferia de Salvador. Tem sido uma briga desleal: fuzis contra salas de aula. E o resultado é uma tragédia anunciada. A Escola Municipal Laura Sales de Almeida, no bairro de Vila Verde, é um triste exemplo. Desde que os confrontos se intensificaram entre as facções criminosas Bonde do Maluco e o Comando Vermelho, a escola permaneceu fechada por vários dias e deixou crianças sem acesso ao direito fundamental à educação.

As mães, desesperadas, traziam os filhos para a escola apenas para vê-los correr de volta para casa sob a chuva de balas. Os professores, temendo por suas vidas, recusam-se a voltar ao trabalho. Não se pode culpá-los. A instituição está situada em uma área de intenso confronto, onde os tiroteios são frequentes, e o medo, constante. É inaceitável que crianças e educadores sejam reféns de facções criminosas, e mais ainda que o governo petista permaneça inerte diante dessa situação.

A violência na capital baiana não se limita ao fechamento de escolas. O comércio também sofre, os ônibus deixam de entrar em bairros afetados e a sensação de insegurança domina a população. As promessas de policiamento reforçado são vazias diante da realidade. As declarações das autoridades, ao sugerir que a presença policial eventual é suficiente para retomar a normalidade, são uma afronta àqueles que vivem diariamente sob o terror dos tiroteios. Mesmo com os policiais, o medo continua a reinar, e as medidas paliativas são insuficientes para devolver a paz às comunidades atingidas.

O Instituto Fogo Cruzado revela uma realidade aterradora: em maio, sete adolescentes foram mortos a tiros na capital e na região metropolitana. Esse é o maior registro de mortes de vítimas nessa faixa etária em um mês desde julho de 2022.

O governo Jerônimo Rodrigues deve ser responsabilizado por sua inércia e falta de estratégia eficaz no combate ao crime. Os moradores de Salvador, especialmente os das áreas mais afetadas, merecem viver sem medo, e as crianças têm o direito fundamental à educação em um ambiente seguro. A omissão da gestão estadual não pode ser tolerada. É hora de exigir uma postura firme, transparente e eficaz do poder público. A violência não pode ser normalizada, e a segurança deve ser uma prioridade inegociável.