A Torre de Babel na Assembleia, o secretário sincerão e a lavagem de roupa suja
Cardeais da articulação política do governador estão preocupados com a formação de blocos dentro da base; confira esta e outras notas dos bastidores da política baiana
Bancada Torre de Babel
Os últimos movimentos de deputados da base governista na Assembleia apontam para uma agitação incomum que começou a preocupar os cardeais da articulação política do governador Jerônimo. Foram criados dois blocos informais, iguais pela nomenclatura de G8, mas bem diferentes pelas ambições que nutrem por mais espaços na gestão. O bloco mais recente é composto por quatro deputados do PP, dois do PSB e dois do MDB, e já negocia votos e apoios para indicação de conselheiro ao Tribunal de Contas dos Municípios e até o desenho da próxima Mesa Diretora da Casa. Com múltiplos interesses administrados em blocos independentes, a ala governista já começou a ser chamada de bancada “Torre de Babel”.
Roupa suja
O que era para ser uma audiência pública de rotina com a participação do secretário do Planejamento do Estado, Cláudio Peixoto, na Assembleia Legislativa (AL), acabou virando uma sessão de queixas e críticas veladas ao governo. Peixoto foi à Casa para falar sobre o PPA 2024-2027 e teve que ouvir diversas reclamações da base, como a falta de investimentos em aeroportos regionais e o baixo investimento em políticas para questões de gênero e raça. Outra queixa foi em relação ao não pagamento das emendas impositivas, que ganhou coro inclusive de parlamentares governistas, como a deputada Fabíola Mansur (PSB), que, de maneira educada, diga-se de passagem, reclamou da situação.
Sincerão
Visivelmente constrangido, Peixoto respondeu às queixas e jogou a conta do não pagamento das emendas no colo da Secretaria de Relações Institucionais, hoje comandada por Luiz Caetano (PT). E ainda defendeu o pagamento das emendas, o que não vem sendo feito desde o governo de Rui Costa e segue com Jerônimo. “Eu digo assim com toda a franqueza, seja deputado A, B, C, de partido A, B ou C, a emenda é impositiva. Essa é minha opinião”, disse ele.
Promessa tamanho G
A construção da Barragem do Rio Catolé, no sudoeste baiano, virou promessa, propaganda, só não virou realidade. Ela foi anunciada em 2012 pelo então governador Jaques Wagner (PT), com a pretensão de ser o principal ativo para a segurança hídrica da região, mas acabou entrando para a galeria de promessas eleitorais do PT que se arrastam pelo tempo e em 2023 tem apenas 22,6% dos trabalhos concluídos. Para piorar, as atividades estão paralisadas por tempo indeterminado, ao passo em que o governo anuncia o cancelamento do contrato para abertura de nova licitação.
Promessa de Aceleração do Crescimento
As obras da barragem tinham recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 2) do governo Dilma e deveriam ter sido entregues em maio do ano passado. O resumo da ópera é que a coisa não saiu do lugar e agora eis que a obra surge novamente no rol do novo PAC do Lula 3. A vagareza petista é tamanha que o PAC foi ressignificado para “Promessa de Aceleração do Crescimento”.
Queda livre
O governador Jerônimo precisa descascar um abacaxi que ele mesmo ajudou a cultivar quando era secretário de Educação. Estudantes e professores das universidades estaduais estão mobilizados em greve contra a queda livre do orçamento repassado pelo governo nos últimos anos. Eles pedem que as cifras representem 7% da Receita Corrente Líquida (RCL) do Estado, bem acima dos 2,7% que Jerônimo destinou em seu último ano como secretário. Agora, para fazer valer o título de professor, inclusive da Universidade Estadual de Feira de Santana, o governador terá que usar menos o palanque e mais a tinta da caneta, sob pena de cair em contradição.
Quem fala o que quer
Jerônimo parece ainda não ter descido do palanque e mantém o ritmo de campanha. Nesta semana, ao inaugurar uma escola em Salvador, o petista disse que “se a prefeitura não faz, a gente faz”, demonstrando até certa irritação. O governador só esqueceu de dizer que o seu padrinho Rui Costa ficou sete anos sem entregar uma nova escola na Bahia - três anos com o próprio Jerônimo como secretário da Educação. Também não lembrou de informar que o prefeito Bruno Reis já entregou 16 novas unidades de ensino em seu mandato, sendo que outras 19 estão com obras em andamento e devem ser inauguradas nos próximos meses.
Desespero
Se engana quem pensa que a grave crise financeira causada pela queda nos repasses federais atinge apenas os municípios pequenos. Em Irecê, o prefeito Elmo Vaz (PSB) tem dito que a cidade está praticamente quebrada e, se não conseguir ajuda, a gestão fica inviabilizada. Segundo fontes governistas, Elmo tem batido na porta do governo do estado em busca de recursos e tem recorrido até a deputados para ajudar na tarefa.
O indeciso
Lideranças governistas andam preocupadas com a inabilidade política do governador Jerônimo Rodrigues (PT) demonstrada nas últimas reuniões com a base para discutir as eleições municipais, principalmente em Salvador. Em certos casos, a impaciência com o líder petista foi tanta que alguns dos participantes deixaram os encontros antes do fim. Eles dizem que Jerônimo não conduz nem dá sinais de decisão, nem na capital nem nas grandes cidades. “Conversa é bom, mas chega uma hora que é preciso decidir, e ele não demonstra aptidão pra decidir”, disse um parlamentar.
Amigos amigos...
Uma das grandes preocupações de caciques partidários é que o tempo está passando e o diálogo não avança. Eles dizem que, além de Salvador, a base quer buscar a unidade nas grandes cidades, mas isso está longe de acontecer em muitas delas. É o exemplo de Ilhéus e Itabuna, as duas maiores cidades do sul da Bahia. Jerônimo, inclusive, já foi alertado, segundo conta uma fonte com trânsito no Palácio de Ondina, de que dificilmente haverá unidade nos dois municípios e que, se nada for feito, a disputa será “sangrenta” para a base aliada.
Tensão no agro
O setor agrícola da Bahia anda P da vida com a inércia do governo diante de um potencial cenário caótico para agricultura com a possibilidade de fim do benefício da dupla tarifa, que concede desconto de até 90% na energia elétrica. O prazo vence em janeiro e, até agora, não há indicativo de prorrogação, embora um grupo de parlamentares esteja se movimentando para manter o benefício. Acontece que o grande culpado é o governo, pois, para ter direito ao benefício, os produtores precisam da outorga d'água, concedida pelo Inema e que tem demorado até três anos para ser liberada. E, enquanto isso, o governo não se mexe nem para ajudar os produtores a manter o benefício nem para agilizar a concessão da outorga.