Tudo pelo Mais Belo dos Belos: saída do Ilê Aiyê reúne multidão na Ladeira do Curuzu
Bloco comemora 50 anos de Carnaval em 2024
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Larissa Almeida
lpalmeida@redebahia.com.br
Por onde quer que os olhos se movessem, só se via gente. O aperto, o suor e o ar escasso eram indiscriminados e democráticos. Fosse na Ladeira do Curuzu ou na varanda do Terreiro Ilê Axé Jitolu, pessoas anônimas, o cantor Caetano Veloso, o governador Jerônimo Rodrigues e o secretário de Cultura do Estado, Bruno Monteiro, passavam pelo mesmo sufoco. Ainda assim, não havia a menor cogitação de arredar o pé de onde estavam. Afinal de contas, tudo aquilo valia a pena pelo propósito de ver a saída do Ilê Aiyê.
Como já é tradição há 50 anos, antes da saída, o bloco fez seu tradicional ritual religioso com a bênção da ialorixá Hildelice Benta, filha da falecida Mãe Hilda Jitolu e atual comandante do terreiro. Primeiro, uma chuva de pipoca e pó de pemba atingiu as centenas de cabeças que não abriam mão do seu lugar em frente ao local sagrado na Liberdade. Outras milhares, que não conseguiam assistir ao ritual, se esforçavam para ouvir os tambores dos músicos do Ilê e o cântico feito para Oxalá e Obaluaê, pedindo proteção para este Carnaval.
Quando as sete pombas brancas que simbolizam a paz foram soltas, o Carnaval do Mais Belo dos Belos oficialmente teve início com o tema "Vovô e Popó, com as bençãos de Mãe Hilda Jitolu. A invenção do Bloco Afro. Ah se não fosse o llê". O grupo de músicos, a Deusa do Ébano Larissa Valéria e as princesas escolhidas na 43ª Noite da Beleza Negra se posicionaram para seguir o cortejo rumo ao Campo Grande.
Da porta de casa, a ialorixá Hildelice assistia a tudo sem esconder a emoção. "Todos os eventos são emocionantes, mas, para quem está fazendo, a emoção é diferente a cada ano. Neste ano, é diferente porque são 50 anos de Ilê. Foi muita, fé, muito amor e muita luz, que eu fiquei clamando e cantando a minha mãe, que não está em vida, mas está em espírito", disse.
O Ilê subiu a Ladeira do Curuzu e arrastou seus fiéis seguidores. Entre eles, estava o ator baiano Evaldo Macarrão, conhecido por seu papel interpretando Jupará em Renascer, atual novela das nove da TV Globo. Vestido com as cores do bloco, ele declarou seu amor pelo Ilê.
"Estou emocionadíssimo. Celebrar os 50 anos do Ilê é celebrar a minha existência e a vida. Foi o Ilê que me deu consciência negra, que disse pra mim a importância de ser belo, negro, viver com orgulho de ser preto e ser bonito. É o Ilê que me dá régua e compasso para poder resistir e existir para a vida com a minha arte", destacou.
Além de Evaldo, o ator Humberto Carrão, que faz o papel de José Inocêncio em Renascer, também marcou presença entre os foliões. "Eu nunca tinha vindo e estava louco porque é uma coisa que eu queria fazer há muitos e muitos anos. Imagina, eu estou em Salvador. No dia da saída do Ilê, é uma obrigação estar aqui para ver esse espetáculo de beleza", disse.
O cantor Caetano Veloso, que chegou por volta das 21h20 no Terreiro Ilê Axé Jitolu, falou da importância de comemorar o meio século de história do Ilê Aiyê. "É de uma importância muito grande estar aqui porque faz anos que eu não vinha. Eu costumava vir todos os anos. Hoje, nos 50 anos, eu subi a ladeira", disse, sorridente.
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