Assine

Encontro de trios na Praça Castro Alves rememora antigos carnavais e encanta novas gerações


 

Ivete Sangalo, BaianaSystem, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê comandaram a festa no Centro Histórico

  • Maysa Polcri

Publicado em 08/02/2024 às 21:56:44
Abertura do Carnaval de Salvador relembra antigos carnavais na Praça Castro Alves. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Um encontro de astros potente na medida da grandeza do poeta. A abertura oficial do Carnaval de Salvador, na tarde desta quinta-feira (08), na Praça Castro Alves, reuniu gerações de músicos que ditaram e ditam, ao longo das décadas, o ritmo da maior festa popular do planeta. Ivete Sangalo, BaianaSystem, Carlinhos Brown e o 'mais belo dos belos' , o bloco afro Ilê Aiyê, que este ano completa 50 anos, balançaram o chão da praça e reverberaram não só no coração do poeta, mas na memória afetiva dos foliões reunidos para o show que se faz histórico no primeiro dia oficial da folia.

O sol ainda estava a pino e aquecia o Centro Histórico, quando a pipoca começou a encher no mais puro espírito de 'chame gente', sucesso icônico relembrado por Bronw e Armandinho, para alegria de quem conhece a matéria da qual são feitos os momentos marcantes do Carnaval e, por isso, não poderia perder o encontro no solo que já sacramentou os mais memoráveis duetos da festa baiana.

O contador Fabiano Brilhante, 45, estava lá para ver os medalhões e seus descendentes. Não à toa garantia as fotos da selfie ao lado do trio da BaianaSystem. Turistando pelo Brasil, ele chegou de Fortaleza nesta quinta-feira mesmo e não perdeu tempo para garantir as bençãos para o reinado de Momo. Às 15 horas, já aguardava ansioso o início da apresentação, junto com dois amigos.

“Salvador é um convite vivo para o Carnaval. Estar aqui, neste momento tão histórico, remete aos encontros da década de 1990. É história pura”, falou. Fabiano tem toda a razão, embora para ser justo com a história, ele devesse recuar um pouco mais no tempo, porque a história já era memorável nos anos 1970 e 1980.

Fazer a abertura do Carnaval na Praça Castro Alves remete e, ao mesmo tempo, inverte a lógica de um tempo em que os foliões curtiam a festa em um outro ritmo, marcado pelos encontros de trios que encerravam a folia em Salvador aos primeiros raios de sol da Quarta-Feira de Cinzas. A praça do poeta é como a mítica ave fênix: fecha ciclos para depois reiniciá-los com mais força e beleza.

Foi com a ideia de homenagear e reacender a chama da Castro Alves que a prefeitura de Salvador organizou o encontro na praça, na abertura da festa, que foi comandada por Ivete Sangalo. No ano passado, a cantora deu a largada também, com sua pipoca no Circuito Barra-Ondina. Dessa vez, dividiu o espaço com o cacique Brown, os piratas da BaianaSystem e a magestade do Ilê. Ao som de O Mundo Vai e com um figurino branco com brilhos que remetia ao seu primeiro CD como artista solo, Se Eu Não Te Amasse Tanto Assim, gravado em 1999, Ivete saudou os foliões e decretou o início da celebração da música e da alegria.

“Que nosso Carnaval seja sempre de alegria, amor e música. Que privilégio poder estar aqui, comemorando 50 anos do Ilê Aiyê na companhia desses parceiros que amo demais e nessa Praça Castro Alves, que é do povo. O Carnaval está começando", bradou.

Depois de animar a multidão, Ivete deu espaço para que Carlinhos Brown abrisse o seu show com Ashansu, ao lado de Armandinho, com quem também tocou a emblemática Chame Gente. Os trios de Brown e BaianaSystem seguiam pelo contrafluxo do Circuito Osmar, prévia do itinerário da festa, já que ambos subiram em direção a Avenida Carlos Gomes; enquanto o trio de Ivete permaneceu parado.

Russo Passapusso saudou a ancestralidade do Ilê e fez a Praça Castro Alves tremer com hits como Lucro e Forasteiro. Se no início parecia que cada multidão se aglomerava no entorno do trio do seu artista preferido, a sensação, quando o espetáculo rolava, era que a pipoca era uma só, no mesmo compasso.

Rafaela Correia, 21, é fã da BaianaSystem, mas comemorou a união sonora com os outros artistas. “É um retorno aos carnavais do passado e não teria como neste momento não contar com a banda, que mistura o samba reggae com o soundsystem”, disse a foliã, vestida com trajes vermelhos em referência à canção Saci, da sua banda preferida.

Arrepiada, a geóloga Ana Salinas, 48, relembrava os tempos de criança, quando assistia aos encontros de trios na Praça Castro Alves com o pai, já falecido. “Ele já não está mais na terra, mas sei que está presente no meu coração. Quando soube que a união de trios abriria o Carnaval, não tive dúvidas de que estaria presente”, celebrou.

A tradição que ganhou novos capítulos neste Carnaval, na verdade, teve início graças ao acaso. Em 1975, na reta final do circuito, o trio elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar se encontrou com o dos Novos Baianos, o que gerou a apresentação conjunta. A história se repetiria com outros artistas. Em 1997, por exemplo, nove trios elétricos se encontraram, com a presença das cantoras Margareth Menezes e Baby do Brasil. Na época, virou tradição saudar o Senhor do Bonfim com seu hino, no final de cada encontro.

“É muito importante trazer para a Praça Castro Alves, que é o sítio sagrado do Carnaval, a abertura do Carnaval de Salvador. São gerações distintas que celebram a nossa cultura e, assim, começamos a festa com o pé direito”, celebrou o presidente da Fundação Gregório de Matos (FGM) Fernando Guerreiro.

Dessa vez, a apresentação foi inovadora em comparação aos anos anteriores. Por volta das 18h, Carlinhos Brown se despediu dos colegas e partiu em direção ao Campo Grande, se misturando ao restante da programação do Circuito Osmar. Cerca de meia hora depois, o navio pirata da BaianaSystem guiou uma multidão fervorosa de fãs na mesma direção. Ivete Sangalo saudou a banda: “Eu quero sair nessa pipoca e ter essa experiência”, gritou a cantora para o trio da Baiana.

A essa altura, quem descia a Avenida Sete de Setembro em direção à Praça Castro Alves, dificilmente enxergava espaços livres no chão. O público era tão grande que mesmo com a saída dos dois trios, a multidão continuava colada no show de Veveta. “Minha convidada vai subir no trio já já”, disse a cantora, deixando os fãs curiosos. Ela já havia anunciado que Anitta e Gloria Groove fariam participações durante a celebração dos seus 30 anos de carreira, mas sem especificar as datas.

Pouco depois, Anitta apareceu para o público e transformou a pipoca em um de seus ensaios - como o que aconteceu em Salvador, no dia 6 de janeiro. A cantora animou o público com as canções Modo Turbo e Contatinho, que tem a participação de Léo Santana. Juntas, Anitta e Ivete, cantaram Macetando, aposta da baiana para Música do Carnaval.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.