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Da exclusão ao protagonismo: Salvador Capital Afro será tema do Carnaval


 

Festa de 2024 terá novos palcos e espaços

  • Gil Santos

Publicado em 23/01/2024 às 16:56:34
Lançamento do Carnaval na Senzala do Barro Preto. Crédito: Betto Jr. / Secom PMS

Homens e mulheres pretos que não se sentiam representados no Carnaval de Salvador criaram, em 1974, o bloco Ilê Aiyê, um espaço para promover a cultura negra. Quis o destino que 50 anos depois a sede desse mesmo bloco, antes excluído, fosse o local escolhido para o lançamento oficial da festa. Nesta terça-feira (23), uma multidão lotou a Senzala do Barro Preto, na Liberdade, para acompanhar os detalhes do Carnaval 2024. A folia ganhou novos espaços.

A movimentação na porta da senzala deixou a Rua Direta do Curuzu congestionada. Representantes dos principais blocos afros compareceram, integrantes foram vestidos a caráter e o local ficou lotado. O prefeito Bruno Reis (União Brasil) contou que o tema da folia de Momo será Salvador Capital Afro, disse que a festa deste ano vai ampliar as ações no circuito do Centro e lembrou que o Ministério do Turismo apontou Salvador como o destino mais procurado no Brasil.

"Hoje é um dia histórico para todos nós. Estamos na Senzala do Barro Preto para lançar daqui, pela primeira vez, o Carnaval. Os Filhos de Gandhy completam 75 anos. O Olodum, o Malê Debalê e o Commanches do Pelô completam 45 anos. A Banda Didá, 30 anos, e o Ilê, 50 anos. Todos estavam reunidos e participaram do lançamento do Carnaval, uma festa que trata da valorização da nossa história e da nossa cultura", afirmou.

A abertura do Carnaval deste ano será na Praça Castro Alves, diferente do ano passado que foi na Barra, e além de Ivete Sangalo terá BaianaSystem, Carlinhos Brown e Ilê Aiyê. Serão 2,7 mil horas de música, 400 atrações em palcos temáticos e nos bairros, e mais de 700 atrações nos circuitos oficiais. O Fundador do Ilê Aiyê, Vovô do Ilê, lembrou que existem blocos afros em diversas cidades brasileiras e fora do país, e que muitos deles foram fundados ou influenciados por pessoas formadas no Ilê.

"O lançamento do Carnaval na Senzala do Barro Preto é muito gratificante, é o significado de que nossa luta está valendo a pena. A cidade está começando a se reconhecer como cidade negra, o que muitos anos atrás ninguém sequer imaginava, um evento na sede de um bloco afro com toda a negrada presente", disse.

O Ilê preparou uma apresentação para o evento e convidou as outras entidades para participar. Quando os tambores tocaram, o público entrou em alvoroço para tentar registrar, mas os blocos estavam distribuídos pela Senzala. Com um gestor, os vocalistas convidaram os colegas para subir ao palco e o show durou cerca de 20 minutos. Os cantores Denny Denan e Buja Ferreira, da Timbalada, Lincoln Sena e Oh Polêmico estiveram no lançamento.

Serão oito circuitos: Dodô (Barra-Ondina), Osmar (Campo Grande), Batatinha (Centro Histórico), Mãe Hilda (Liberdade), Orlando Tapajós (Clube Espanhol-Farol da Barra), Sérgio Bezerra (Farol da Barra-Morro do Cristo), Mestre Bimba (Nordeste de Amaralina) e Riachão (Garcia). Haverá festejos em dez bairros e nas três ilhas.

O secretário de Cultura e Turismo (Secult), Pedro Tourinho, voltou a comentar sobre a falta de patrocínio para os blocos afros. Durante o Novembro Negro, o gestor contou que o desfile foi inteiramente patrocinado pela Prefeitura. Nesta terça-feira, Tourinho disse que após esse episódio surgiram alguns patrocinadores. Ele comentou sobre a importância da tema deste ano: Salvador Capital Afro.

"O Carnaval além de trazer turistas, posicionar a cidade, ser um palco para os artistas locais e ser momento de diversão para a população daqui e de fora, o Carnaval também é mensagem, é narrativa potente de transformação. Quando uma cidade como Salvador, depois de tantos anos em que os blocos afros não tinham um protagonismo devido, diz que o Carnaval é em homenagem aos blocos afros isso causas mudanças não só financeiras e temáticas, é fazer a reparação de um paradigma histórico", disse.

Ele lembrou que o lançamento na sede do Ilê Aiyê tem um simbolismo especial. "Carnaval vai, Carnaval vem. Música do Carnaval vai, música do Carnaval vem, mas quem está há 50 anos é o Ilê, há 45 anos é o Olodum e há 75 anos é o Gandhi", afirmou Tourinho.

Valorização

O município anunciou R$ 8 milhões em investimento nos blocos afros desde o Carnaval de 2023, como Ilê Aiyê, Olodum, Gandhy, Malê Debalê, Muzenza e Cortejo Afro. E que serão incluídos em 2024 os blocos Banda Didá, Filhas de Gandhy e A Mulherada. Além do investimento direto, a Prefeitura isenta as entidades de tributos como ISS, IPTU e TFF.

A secretária municipal de Reparação, Ivete Sacramento, lembrou que 82% da população de Salvador é negra e destacou a importância do cuidado. "Fazer reparação é o ano todo. O bloco afro não existe somente no Carnaval. A gente tem que promover a sustentabilidade durante o ano todo", afirmou.

O Município afirmou que está apoiando 130 entidades de matriz africana independentes. O presidente da Liga dos Blocos Afros, Cláudio Araújo, comemorou. "O segmento afro é muito rico. O DNA do afro está em Salvador e na Senzala do Barro Preto. Com os anúncios feitos hoje vamos crescer ainda mais a nossa autoestima para continuar. Viva aos blocos afros", disse.

O investimento no Carnaval 2024 deve superar em torno de 30% do que foi realizado nos anos anteriores. A expectativa é de R$ 2 bilhões injetados na economia da cidade durante o período e mais de 1 milhão de turistas.

Programação

A festa oficial começa no dia 8 de fevereiro, com a abertura na Praça Castro Alves, mas cinco dias antes as fanfarras e bloquinhos já estarão nas ruas nos eventos pré-carnavalescos. No sábado (3), o Fuzuê vai reunir 42 atrações de fanfarras e pequenos bloquinhos na Barra, a partir das 14h. O Bike Fuzuê vai se concentrar na Praça do Sol, às 13h, e terá concurso de fantasias.

No domingo (4), o Furdunço vai reunir 52 atrações na Barra, como minitrios, a partir das 14h. No dia seguinte, Xandy Harmonia faz a Melhor Segunda-Feira do Mundo, a partir das 17h, saindo de Ondina para a Barra. Já na terça-feira (6), Léo Santana comanda o tradicional Pipoco, às 17h, de Ondina para a Barra. Todos sem corda. No dia seguinte, o circuito Sérgio Bezerra terá bloquinhos e fanfarras.

Durante a festa oficial haverá palcos com apresentações no estacionamento da Ladeira da Montanha (Donas do Som), na Praça Castro Alves (Salvador Capital Afro), Largo Dois de Julho (Colorindo Salvador), Largo da Tieta (Axé Pelô), Praça Municipal (Palco Multicultural), Largo de Santo Antônio Além do Carmo (Coreto das Orquestras), Cruz Caída/ Praça da Sé (Arena do Samba).

O Circuito Osmar estará repleto de blocos pipoca. Além da tradicional Pipoca das Cores de Saulo, Ivete Sangalo vai se apresentar de graça na Super Terça, fechando o Carnaval. Também saem em trios sem corda Psirico, Xanddy Harmonia, Léo Santana, Parangolé, Oh Polêmico, La Furia, O Poeta, Thiago Aquino, O Kannalha, Timbalada, entre outros.

O Carnaval terá palcos montados em Cajazeiras, Itapuã, Boca do Rio, Plataforma, Pau da Lima, Periperi, Liberdade e nas três ilhas. Além disso, o Espaço Mix, com atrações de diferentes estilos musicais, será a atração do Largo da Mariquita, no Rio Vermelho. Como novidade, o Parque da Cidade, no Itaigara, vai receber o palco Bailinho da Cidade, com atrações voltadas especialmente para as crianças, entre os dias 10 e 11. Já o Palco do Rock reunirá diferentes tribos no bairro de Piatã.

O Carnaval 2024 é patrocinado por Brahma, Beats, Aposta Ganha, Guaraná Antarctica, iFood, Mercado Pago, 99 Moto, Zé Delivery e apoio da Rede Bahia.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador