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Carnaval de multidões: festa leva mais de 9 milhões de foliões para circuitos


 

É como se todos os moradores do Ceará, terceiro estado mais populoso do Nordeste, descessem para 10 dias de festa em Salvador

  • Esther Morais

Publicado em 14/02/2024 às 06:04:00
Multidão no Carnaval de Salvador . Crédito: Ana Lucia Albuquerque

Pode chover, relampejar e trovejar. Faltar luz em plena avenida, trio dar ré ou empenar, camarote afundar. Pode reservatório de gás de efeitos especiais explodir e até previsões apocalípticas serem proferidas. Ninguém arredou pé e mais gente chegava. As Festas de Carnaval em Salvador, que começaram no dia 3, somaram mais de 9 milhões de foliões.

O dado, divulgado ontem pela Secretaria de Segurança Pública da Bahia, foi reunido a partir do Sistema de Reconhecimento Facial. A ferramenta contabiliza a quantidade de pessoas que passaram pelos Portais de Abordagem desde o Fuzuê até a madrugada desta terça-feira (13).

É como se todos os moradores do Ceará, terceiro estado mais populoso do Nordeste, descessem para 10 dias de festa em Salvador. Em números absolutos, 5,1 milhões de pessoas passaram pelos circuitos Dodô (Barra/Ondina), 3,1 milhões curtiram no Osmar, e 750 mil aproveitaram a festa no Batatinha Batatinha (Centro Histórico).

Segundo o levantamento da pasta, a segunda de Carnaval empatou com o sábado - em número de gente circulando pelos circuitos. Cerca de 2 milhões de pessoas curtiram nos circuitos. Foram 893 mil na Barra, 861 mil no Campo Grande e 213 mil no Centro Histórico de Salvador (CHS).

Para se ter uma ideia, apenas em um intervalo de apenas duas horas no sábado (10), 52 mil pessoas entraram na região da Barra. A lotação foi tanta que a Prefeitura precisou fechar os portais entre 18h30 e 19h15. 

Se cada evento é marcado por alguma característica, alguns foliões jã declaram que este é “o Carnaval das multidões”. Antes mesmo de entrar no circuito já era possível perceber uma movimentação nunca vista antes, com filas quilométricas para passar nos portais de acesso. Durante a agonia de milhões de pessoas num mesmo local, a cantora Ivete Sangalo chegou a parar o trio para pedir que os foliões respirassem.

Mas, para quem ama pular na folia, todo esse caos faz parte. Mais do que isso, o povo, a alegria, a "muvuca" cheia de energia é a própria festa. O "suco" do Carnaval é seguir um trio elétrico pulando e cantando sucessos, não sozinho, mas junto com uma multidão de desconhecidos que compartilham a mesma sensação.

E apesar das diferenças, do calor, do suor, das ruas lotadas, dos copos no chão, neste tempo e espaço, todos falam a mesma língua. Do Farol da Barra até perto do Cristo simplesmente não dá pra ficar parado, a multidão ganha vida própria e te leva pelo circuito.

"É uma agonia que é boa, não dá pra explicar a sensação, só o Carnaval de Salvador tem", afirmou a foliã Maria Alves, de 25 anos. Acompanhada de um grupo de amigas, as jovens pulavam no meio do Circuito Dodô (Barra-Ondina), gritando e dançando. 

Multidão acompanha trio na Barra. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

O folião Petroneo Pereira, 44, participa do festejo na Bahia pela oitava vez, e ele carimba: “É o melhor que tem, ele é mais completo, é o que mais atende e é o que tem maior público”. Desta vez, ele veio para o estado acompanhado de mais seis amigos - das mais diversas regiões do Brasil - para apresentar a festa. “É caótico, estávamos aqui no sábado e com certeza tinha mais de um milhão ali. Era uma multidão sem fim, tudo apertado”, descreve.

Efeito Beyoncé

O eletricista Tiago Lopes, 28, veio de Feira de Santana, a 115 km de Salvador, para curtir a festa, mas ele conta que, antes mesmo de fazer a viagem, viu pelas redes sociais a lotação nos circuitos. “Pelo que tô vendo nesse Carnaval está tendo um maior fluxo. Tem o fato de Beyoncé ter vindo pra cá, isso intensificou a vinda dos turistas”, avalia. 

Nas redes sociais, o prefeito Bruno Reis já comemorava, no fim de semana, o recorde de público. “Isso é reflexo de uma cidade cada dia mais desejada e vivida por baianos e turistas, mas também faz com que a operação do Carnaval seja mais desafiadora”, escreveu.

Para o presidente da Saltur, Isaac Edington, empresa que realiza os eventos municipais, o motivo dessa popularização são as atrações apresentadas. São três circuitos principais, oito bairros e três ilhas, com mais de 600 apresentações nas localidades. "Esse Carnaval tem mais gente mesmo", confirma.

“Os circuitos estão equilibrados [...] [Trouxemos] atrações bastante diversificadas. No circuito do Campo Grande, investimos também em grandes atrações, trazendo mais dinamismo”, afirma.

por

Isaac Edington

"O Carnaval de Salvador hoje é o maior instrumento de promoção da cidade, isso também contribui para que sejamos um dos principais destinos turísticos brasileiro"

O Secretário de Cultura e Turismo de Salvador (Secult), Pedro Tourinho, ressalta que o Carnaval é consequência do trabalho de um ano inteiro e reflete a atenção que a cidade tem ganhado em frente ao mundo inteiro.

“Quem faz um bom ano, faz um bom Carnaval, e Salvador teve um excelente ano, com muitos turistas fervilhando na cidade e com cena cultural chamando atenção do mundo inteiro. No Carnaval não é diferente, e a estrutura da festa, o conteúdo ofertado, tem de acompanhar essa relevância e esse crescimento”, declara.

No domingo (11), mesmo com a chuva ao longo do dia, cerca de 910 mil pessoas curtiram a festa na região. Na quinta (8) e na sexta-feira (9), a ferramenta de reconhecimento facial contabilizou 1,5 milhão de foliões na Barra-Ondina.

Segundo dia do Bloco Coruja arrastou multidão no circuito Dodô. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A cozinheira Ana Paula Cruz, 38, vende espetinho no circuito e conta que nunca vendeu tanto como neste ano. “Vi um aumento na movimentação, é muita gente. Antes a venda era muita graça, média de 20 pessoas, no máximo 40. Agora subiu pra 60 e chega até 80”, contabiliza. “Eu vendo aqui na Barra e no Campo Grande também, os dois tão com muita movimentação”, diz.

Nos outros circuitos, também não teve outra. Basta sair o trio da pipoca do Kannário, BaianaSystem, Ivete Sangalo, Carlinhos Brown, entre outros artistas que “chamam o povo”, que a multidão se forma em poucas horas. 

A cuidadora Anny Santana, 46, curte a folia desde os 12 anos no Campo Grande e observa: “Muita coisa mudou nesses mais de 30 anos, uma delas é a aglomeração. Neste ano, muita gente veio pra cá. Nunca vi um Carnaval lotado desse jeito”.

Mudança nos circuitos para atender demanda

Com maior demanda nos circuitos, a estratégia da prefeitura é descentralizar a festa do Circuito Dodô e investir em outros trajetos, como o Osmar, no Campo Grande. “É importante o Carnaval no Centro para equilibrar a distribuição das pessoas na cidade”, propõe o prefeito Bruno Reis. Para o próximo ano, o gestor sugeriu um “super sábado” também na região.

O titular da Secult complementa que já é possível perceber um público grande e diferente na região. “É uma questão de bater na mesma tecla e todo ano fortalecer mais”, revela. Quanto à possibilidade de extensão do Barra-Ondina, o secretário informou que o foco é fortalecer o carnaval no Centro e ter dois circuitos fortes.

O Correio Folia tem apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador