São Marcos, Lobato e Boca do Rio adotarão medidas de proteção à vida
Bairros apresentaram aumento de mais de 30% em casos de covid em uma semana
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Roberto Midlej
roberto.mdlej@redebahia.com.br
Dona Maria (nome fictício), 65 anos, tem um mercadinho no bairro do Lobato e, mesmo com as placas que expõe pedindo aos clientes que usem máscaras, não adianta. Enquanto a reportagem esteve ali, na manhã de sábado (15), por cerca de 15 minutos, três pessoas tentaram entrar sem proteção, mas foram atendidas do lado de fora.
Indignada, a proprietária relata o negacionismo de alguns fregueses: "Tem gente que acha que o coronavírus não existe, que é briga política. Mas aqui, se não tiver de máscara, eu barro a pessoa". Até discussão entre os clientes já aconteceu: "Uma vez, um rapaz entrou sem máscara e outro cliente pediu pra ele usar. No início, só queria comprar pão. Mas aí, quando ele viu que estava incomodando os outros, foi pior: começou a fingir que estava interessado em outras coisas, só pra ficar mais tempo aqui. O outro freguês reclamou, mas não houve jeito". Homem sem máscara no Lobato É por causa desse tipo de comportamento que, naquele bairro, a incidência de casos de covid aumentou em mais de 30% em uma semana, segundo a prefeitura de Salvador. E é por isso que a administração municipal vai implantar ali, a partir de hoje, medidas de proteção à vida. Lobato, assim como Boca do Rio e São Marcos, que também apresentaram aumento do coronavírus, serão submetidos ao programa.
Durante ao menos uma semana, a partir desta segunda, nesses locais serão realizadas testagens rápidas para detecção do novo coronavírus, além de distribuição de máscaras, higienização e desinfecção de vias e atuação da assistência social através do Cras Itinerante (Centros de Referência de Assistência Social).
Fazenda Grande do Retiro, São Caetano e Brotas continuarão submetidos às mesmas medidas, já que a ocorrência da doença continua alta. Liberdade, Paripe e Pernambués apresentaram redução no número de ocorrências. Por isso, serão substituídos pelos três novos bairros.
As testagens vão acontecer, a partir das 8h, no fim de linha da Boca do Rio; fim de linha de São Marcos; quadra poliesportiva da Praça ACM, em São Caetano; no estacionamento da Cemel, próximo à Igreja Católica São Paulo, e em Fazenda Grande do Retiro. No Lobato, o local será divulgado hoje.
"De todas essas medidas, a mais importante é, sem dúvida, o teste rápido, que permite identificar quem está com vírus. Em seguida, essa pessoa deixa de circular na rua e isso evita que passe a doença para outros", diz Fábio Mota, que coordena as medidas e é também titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult). De acordo com o secretário, 270 mil testes já foram realizados em Salvador desde o início da pandemia. Outro flagra no Lobato de moradores sem máscaraclientes Nos bairros onde há medidas de proteção, são realizados diariamente 150 testes. Em Fazenda Grande do Retiro, Brotas e São Caetano, onde a Prefeitura continuará a campanha, o índice de casos positivos nos testes realizados impressiona, especialmente no último, onde chega a 46%. Em Fazenda Grande, são 36% e Brotas, 30%.
Numa visita ao Lobato, o CORREIO constatou o descuido daquela comunidade: assim que chegou, a reportagem flagrou dois homens conversando na porta de um estabelecimento comercial sem máscara. Em menos de um minuto, pelo menos dez pessoas foram vistas sem proteção, incluindo aí alguns comerciantes atendendo os clientes.
Numa oficina mecânica, quatro homens, sem distanciamento, batiam um animado papo. Numa marcenaria, mais cinco ou seis homens trabalhavam e conversavam sem proteção. "Um deles, que tem 32 anos, já teve covid e disse que foi terrível", observa uma vizinha. Mas nem isso foi suficiente para fazê-los ter mais cuidado.
Na oficina, o repórter conversou com o motorista desempregado Sidnei Freitas. Sem máscara, ele argumentou: "Uso quando estou em um lugar muito movimentado, com aglomeração. Mas aqui não tem necessidade".
Em São Marcos, a população parece estar mais atenta à proteção que no Lobato, embora, ainda assim, a reportagem tenha visto nas ruas algumas pessoas sem máscara. Os comerciantes parecem estar mais cuidadosos que no Lobato. O CORREIO passou por cerca de 20 estabelecimentos comerciais e em todos eles os funcionários estavam protegidos, assim como os clientes. Mas o movimento na rua era muito intenso e, nem de longe, parecia tempos de pandemia.
Denise Jesus, que trabalha num pet shop no Lobato, sabe de "paredões" que são realizados todo final de semana por ali. "E isso acontece ao lado de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). O pessoal para o carro, compra uma cerveja e começa a festa. Logo, já tem um monte de carro com som ligado. É isso todo fim de semana", diz Ivanildo Carvalho, colega de Denise.
A reportagem também foi à feira que é realizada na Boca do Rio, na Rua Hélio Machado. Embora estivesse muito movimentada para um período de pandemia, ao menos, todos usavam máscara. A comerciária Dinaiane Nascimento observa, no entanto, que sempre há festa nos largos. "Tem feira todo dia, mas é no sábado que enche mais, porque vem gente de outros bairros", revela, indignada com a quantidade de gente que circula em frente à loja onde ela trabalha.
SERVIÇO
Testes rápidos gratuitos, a partir de 8h
- Boca do Rio: fim de linha
- São Marcos: fim de linha
- São Caetano: quadra poliesportiva da Praça ACM
- Fazenda Grande do Retiro: estacionamento da Cemel, próximo à Igreja Católica São Paulo
- Lobato: o local será divulgado hoje
- Brotas: local será divulgado