Resgatados desnutridos, lobos-guarás se recuperam e voltam à natureza na Bahia
Animais passaram por processo de reabilitação e adaptação para aprenderem a caçar e viver na natureza antes de serem soltos
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Da Redação
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Resgatados em condições precárias, desnutridos e desidratados, dois lobos-guarás foram soltos no Oeste baiano na quinta-feira (12). Apelidados de Baru e Caliandra, eles passaram por um processo trabalhoso de reabilitação e adaptação para aprenderem a caçar e viver na natureza antes de serem liberados.
Os lobos-guarás, espécie ameaçada de extinção, foram resgatados em julho de 2020 na zona rural de Luís Eduardo Magalhães, após denúncia. Além de Baru e Caliandra, foi encontrada a lobinha Seriguela, que também seria devolvida ao seu habitat natural, mas sofreu um machucado na pata e não foi aprovada para soltura até que a ferida cicatrize. Os três animais receberam os cuidados necessários no Parque Vida Cerrado, um criadouro de animais de vida silvestre, localizado em Barreiras.
Coordenadora do parque, a bióloga Gabrielle Rosa explica que os lobos-guarás são muito dóceis e chegam a ser comparados com um cachorro. Por isso, para evitar que eles continuassem mansos e não sobrevivessem na natureza, Baru e Caliandra ficaram isolados, evitando ao máximo o contato humano, no recinto em uma propriedade agrícola referência na adoção de práticas sustentáveis de Luís Eduardo Magalhães.
“Eles chegaram bem novinhos no zoológico de Brasília, com 22 dias de vida. Foram alimentados na mão e tiveram um contato humano muito intenso, por isso a gente precisou dessensibilizá-los. Então a vinda deles para o parque, inicialmente, foi um período necessário para que a gente isolasse eles o máximo possível. Mudamos toda a rotina do criadouro, fizemos um isolamento para que os tratadores e veterinários tivessem o mínimo de contato”, detalhou a coordenadora.
Antes de ir para o recinto na fazenda do Oeste baiano, os lobos precisaram atingir a curva de crescimento e de peso normal para a espécie. No parque, os animais se alimentavam de ração de cachorro super premium para que ganhassem peso e ficassem bem nutridos. Por lá, no entanto, começaram a comer frutos como caju, mangaba e lobeira, esse último sendo o principal fruto do lobo-guará e que eles vão consumir o ano todo. É nesse período que os lobinhos começam a se alimentar de presas vivas.
“A caça é um comportamento ensinado por pai e mãe e eles não tiveram isso. Então, a gente precisava pegar o instinto deles e desenvolver ao longo dos dez meses que ficaram no recinto. Começamos com presas pequenas, como ratos e codorna, e depois maiores, como o coelho. Isso tudo foi aprovado por um comitê de ética, porque a gente precisava que eles aprendessem a caçar antes da soltura”, ressaltou Gabrielle.
Além disso, o lobo-guará é uma espécie territorialista, e por isso, segundo a coordenadora do Parque Vida Cerrado, o recinto tem uma cerca elétrica ao redor para evitar brigas com outros lobos. “No início, os animais residentes estranharam os lobos, mas a gente percebeu que a frequência de conflitos diminuiu, porque os lobos de fora perceberam que Baru e Caliandra também vivem ali”, afirmou. Animal recebeu um GPS de identificação (Foto: Calan Sanderson/ Divulgação) Os dois animais também receberam um rádio-colar com GPS antes da soltura para que a equipe responsável por eles possa saber onde estão indo, se estão voltando ao recinto e, principalmente, se identificaram os pontos de recursos para água e comida. “O recinto continua disponível para eles até a gente perceber que o animal não está mais voltando e conseguiu se estabelecer no território, aí a gente pode encerrar o processo de oferta de água e alimento”.
A expectativa da bióloga é que o Parque Vida Cerrado consiga aplicar o mesmo protocolo utilizado para a readaptação de Baru e Caliandra em outros locais e instituições. “Esperamos que o protocolo funcione e que seja seguro para os animais para que a gente consiga devolver eles em menos tempo ao local de onde vieram”, finalizou Gabrielle.
O Parque Vida Cerrado O Parque Vida Cerrado, escolhido para abrigar os filhotes antes da soltura, possui 15 anos de existência, sendo o primeiro e único centro de conservação e educação socioambiental do Oeste da Bahia. O parque fica em uma área preservada de 20 hectares do bioma Cerrado, a savana mais rica em biodiversidade do mundo, possuindo ainda um criadouro científico para fins de conservação. Vale ressaltar que o local não tem visitação livre do público, apenas monitorada, o que o diferencia dos zoológicos.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo