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Polícia prende delegado do Maranhão suspeito de ligação com Zé de Lessa, do BDM


 

SSP-MA vai pedir ajuda da PF e Interpol para prender traficante baiano no Paraguai

  • Jorge Gauthier

Publicado em 28/11/2018 às 12:32:00
Atualizado em 19/04/2023 às 04:57:04
. Crédito: Bardal foi preso pela SSP-MA - Foto: reprodução/TV Mirante

O ex-superintendente estadual de investigações criminais (Seic) do Maranhão, delegado Tiago Bardal, foi preso na manhã desta quarta-feira (28) por conta de uma investigação da Polícia Civil sobre uma quadrilha de assaltos a banco no interior do estado nordestino.  Ao CORREIO, por telefone, o secretário de Segurança maranhense Jefferson Portela afirmou que a polícia investiga se Tiago tem ligação com a quadrilha do traficante baiano Zé de Lessa, que comandou - mesmo estando foragido no Paraguai - um assalto que roubou R$ 100 milhões do Banco do Brasil, no último domingo (25) , da cidade de Bacabal (MA), a 250 km de São Luís.“Temos a suspeita que há ligações e iniciamos as investigações. Nossas suspeitas se baseiam no fato de que o delegado preso era conexão com o um bandido do Tocantins chamado Adriano Brandão, que foi preso. Como no caso de Bacabal tinha um bandido do Tocantins que morreu no confronto acreditamos que os grupos possam estar interligados”, afirmou Portela. Além do delegado, o investigador João Batista de Sousa Marques e os advogados Werther Ferraz Júnior e Ary Cortez Prado Júnior também foram presos nesta operação realizada de forma simultânea em São Luís e Imperatriz. De acordo com as investigações, que começaram este ano, a suspeita é que o grupo tinha relações com os bandos de assalto a banco no interior do Maranhão por receberem propina para evitar as prisões dos chefes, por exemplo. Bardal já havia sido preso por suspeita de corrupção. O secretário de Segurança Pública, Jefferson Portela (Foto: Divulgação/SSP-MA) Líder da facção criminosa baiana Bonde do Maluco (BDM), José Francisco Lumes, o Zé de Lessa, comandou do Paraguai a quadrilha. O secretário de segurança do Maranhão afirmou que soube da existência de Zé de Lessa através da câmara de inteligência entre as secretarias de segurança do Nordeste. “Essa é a primeira vez que temos informações da atuação desse grupo aqui no estado. Não acredito que eles estejam querendo se instalar aqui. E, se quiserem, aqui não vão ter vida fácil. Eles souberam que havia esse recurso grande dentro desse centro de distribuição do Banco do Brasil. Infelizmente, a polícia não foi informada pelo banco que havia essa quantia no local. Se tivéssemos sido avisados, teríamos reforçado a segurança na cidade. Ainda assim conseguimos derrubar três dos assaltantes”, ressaltou o secretário referindo-se aos três mortos na ação. Segundo a pasta, um dos três assaltantes mortos durante o ataque é Edielson Francisco Lumes, irmão de Zé de Lessa, atingido após sair de um veículo blindado e trocar tiros com a polícia. Edielson, segundo a polícia, tinha a função de subchefe do grupo e repassava as ordens de Zé de Lessa à quadrilha, composta por 30 a 35 homens. Os outros mortos são o paraense Warley dos Reis Souza, o Bombado, e Gean Martins Rocha, do Tocantins.

Os três morreram após reação de policiais militares do Grupo de Reação Tática, que ainda buscam o restante da quadrilha em sete cidades, junto com militares do Comando de Operações de Sobrevivência em Área Rural (Cosar).

O acesso do grupo foi feito pelo fundo do prédio da agência do Banco do Brasil e, segundo o secretário, os cerca de 30 bandidos só conseguiram escapar pois fizeram reféns durante o ataque. “Não sabemos ainda como o grupo estava se comunicando pois quando os três foram mortos, os outros integrantes conseguiram levar os rádios comunicadores e celulares. Eles começaram o ataque pela delegacia e base da PM na cidade. Muitos policiais que estavam de folga foram para a rua ajudar no combate. Infelizmente, eles fizeram reféns em todos os lugares para facilitar a fuga do grupo. Em um posto de gasolina, por exemplo, fizeram refém umas 40 pessoas que estavam na lanchonete e seguiam para uma atividade religiosa”, destacou Portela. O secretário de segurança do Maranhão afirmou que pedirá ajuda à Polícia Federal e a Interpol para prender Zé de Lessa no Paraguai. “Trocamos informações com as secretarias de segurança e vamos buscar ajuda da PF e Interpol para que seja feita a prisão de Zé de Lessa. Os outros integrantes do grupo ainda não foram presos, mas seguimos na busca”, argumentou o secretário. 

A concentração maior das buscas está sendo numa área de mata entre as cidades de Bacabal e Lago da Pedra, onde a polícia desconfia que estejam criminosos escondidos. Na região, são realizadas barreiras e revistas, e aeronaves monitoram vias e acessos.

A SSP do Maranhão informou que a quadrilha de Zé de Lessa “possui 80 integrantes e é a maior em assalto a bancos do Nordeste”, com “interligação nos nove estados da região e ramificações no Paraguai, onde vive o líder do grupo”.

Oito pessoas foram presas: os dois suspeitos de envolvimento com o bando, sendo que um estava recolhendo o dinheiro deixado no chão do local do roubo; e mais seis moradores pegando o dinheiro deixado no chão após o assalto. Um deles foi o policial militar do Piauí André dos Anjos Santos, 33 anos, que foi solto por decisão da Justiça após a prisão.  Zé de Lessa, chefão da facção Bonde do Maluco, continua foragido (Foto: Divulgação/Seap)  Zé de Lessa saiu da cadeia para tratar da saúde Líder da facção BDM, que rivaliza na Bahia com a Katiara, Zé de Lessa é o ás de ouros do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), ferramenta que reúne os principais criminosos do estado.

Preso em 2001, ele chegou a cumprir metade da pena de mais de 28 anos de prisão por tráfico de drogas e homicídios, e em 17 de abril de 2014 foi beneficiado com a prisão domiciliar para tratar da saúde – precisava operar punhos e cotovelos. Ao sair, foi morar na cidade de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, divisa com o Paraguai, de onde começou a enviar carregamentos de drogas para abastecer sua quadrilha na Bahia.

Zé de Lessa lidera um dos cinco grupos criminosos mais atuantes no estado. O BDM, considerado pela polícia como o mais violento, surgiu em 2015 no pavilhão V do Presídio Salvador, no Complexo Penitenciário da Mata Escura.

O grupo nasceu como ramificação da facção Caveira, comandada por Genilson Lima da Silva, o Perna, atualmente preso no Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná.

Zé de Lessa, que iniciou sua carreira no crime como assaltante de banco, já foi alvo de diversas operações para prendê-lo. Uma delas, a Operação Sapucaia, realizada em abril de 2016 pela Polícia Federal na Bahia e no Mato Grosso do Sul.

O bandido é apontado pela polícia como o maior distribuidor de drogas da capital e do interior da Bahia, com especialidade em assalto a bancos e a carros-fortes. O dinheiro dos assaltos é usado para capitalizar a quadrilha na compra de armas e mais drogas.

Desde que criou o BDM, o grupo tornou-se o principal rival do grupo criminoso Katiara, comandada por Roceirinho, e passou a disputar pontos de droga com o rival. Nepotista, Zé de Lessa tem os parentes como principais aliados no comando da facção.