Polícia faz operação em fazendas invadidas por índios na Bahia; veja fotos
Cerca de 100 pessoas são suspeitas de realizar saques e ocupações em fazendas vizinhas às de Geddel, no Sudoeste
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Mario Bitencourt
mario.bitencourt@redebahia.com.br
A polícia intensificou o policiamento na região de Itapetinga, no Sudoeste baiano, onde um grupo formado por cerca de 100 pessoas realizou novas ocupações e saques a fazendas vizinhas à do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), e na cidade vizinha de Itaju do Colônia, no Sul baiano, neste domingo (1º). A região está sob tensão desde o dia 23 de setembro, quando a Fazenda Esmeralda, de propriedade de Geddel e familiares, foi ocupada por índios que afirmam que a área é sagrada por haver nela cemitérios indígenas, o que é negado pelos advogados dos Vieira Lima, que já pediram a reintegração de posse na Justiça.
De acordo com o Sindicato Rural das duas cidades, o grupo estava armado e levou diversos objetos de valor das propriedades, como TVs, rádios, celas, arreios, facas e facões, e fizeram de reféns alguns funcionários das propriedades.
Em nota, o comando da PM informou que em Itapetinga “o policiamento foi intensificado com guarnições da Companhia Independente de Policiamento Especializado (CIPE), da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT) e da 8ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), além de realizar reuniões com a comunidade e atuar com abordagens preventivas nas estradas e rodovias”. “O mesmo está sendo realizado em Itaju do Colônia, com a intensificação do policiamento com guarnições da CIPE, CIPT e 63ª CIPM”.
Ao todo, foram 13 fazendas ocupadas: oito em Itapetinga e cinco em Itaju do Colônia, onde, em 2012, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou como de habitação tradicional de índios da etnia Pataxó Hã-hã-hãe uma área de 54 mil hectares. A ação em Itapetinga ocorreu no povoado de Palmares, para onde a Polícia Militar enviou viaturas nesta segunda-feira (2). Para dificultar o acesso às fazendas, o grupo chegou a colocar um caminhão quebrado no meio da estrada.
O CORREIO teve acesso a fotos da operação em algumas propriedades rurais. Veja:
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Queixas sobre as ocupações foram prestadas nas delegacias da Polícia Civil de Itapetinga e Itabuna, que estão investigando o caso.
Tiros Durante a ação deste domingo, funcionários das fazendas foram mantidos sob o poder dos invasores durante todo o dia, quando ocorreu a ação. Em uma das propriedades, eles obrigaram a esposa do caseiro a preparar comida para o grupo.
Em outra, por volta das 23h, foram ouvidos diversos disparos de armas de fogo - não se sabe ainda se foram disparados para o alto, como forma de intimidação, ou se houve algum confronto. A Polícia Civil informou que não há registros de pessoas feridas.
Ainda não há a confirmação se o grupo que invadiu as propriedades é de indígenas ou sem-terra. “Estamos recebendo os fazendeiros e ouvindo as queixas ainda; só teremos um balanço geral ao final do dia”, afirmou o delegado Antonio Roberto Júnior, da delegacia de Itapetinga.
Ele ficou de informar um balanço geral das ocupações no final da tarde desta segunda, mas a reportagem não conseguiu mais contato.
O presidente do Sindicato Rural de Itapetinga Eder Rezende afirmou que a situação está tensa na região e que há a possibilidade de confronto. Ele e o prefeito de Itapetinga Rodrigo Hagge (PMDB) estarão em audiência no Ministério da Justiça nesta terça (3) para pedir auxílio na resolução do conflito.
Eles querem também apoio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que não respondeu ao pedido da reportagem para envio de nota comentando o assunto.
“Infelizmente, ocorreu o que estávamos prevendo durante a semana passada, quando dissemos que, pelas informações que tivemos, que a invasão da fazenda de Geddel não se tratava de apenas uma ação política. O que ocorreu neste final de semana foi tudo muito bem organizado. O que estamos vivendo é um estado de terror”, comentou Rezende.
“Vamos pedir apoio até da Força Nacional, se for possível, pois a situação está muito grave e não podemos nos omitir com relação ao assunto”, declarou o prefeito Rodrigo Hagge, para quem o Governo do Estado tem se mostrado omisso no combate às ocupações. “Precisamos de uma ação mais enérgica das polícias Civil e Militar”, afirmou.
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Fora da área Um dos fazendeiros que teve a propriedade ocupada neste final de semana é José Elias Júnior, dono da Fazenda Santo Antonio, de 800 hectares, na zona rural de Itaju do Colônia. Um grupo de 70 índios está nas fazendas, segundo ele.
“Os índios disseram que estão fazendo uma retomada, porém nenhuma dessas fazendas está dentro da área delimitada pelo STF em 2012. Em frente a porta da minha fazenda, por exemplo, tem uma placa indicativa da reserva, informando os limites. Nunca tinha tido problemas com índios”, afirmou o fazendeiro.
José Elias relatou ainda que os índios estavam armados com espingardas, porém não fizeram reféns os funcionários, “pediram apenas que saíssem da fazenda”. Para ele, se as ocupações forem mais intensificadas, as que ocorreram em Itaju do Colônia vão se juntar com as de Itapetinga em breve - a distância entre as fazendas ocupadas nas duas cidades está em cerca de 20 km.
“Estou prestando uma queixa coletiva na manhã desta segunda-feira em Itabuna, para que possamos dar entrada nos pedidos formais de resolução do problema. Todos achavam que na região não ia ter mais problema com índios depois da demarcação de 2012. É uma situação muito lamentável”, declarou.
Nesta segunda, o deputado estadual Eduardo Salles (PP), presidente da Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa da Bahia, divulgou nota declarando "indignação com essa situação". "Vou batalhar em várias instâncias dos governos federal e estadual para que o estado de direito dos produtores seja preservado", diz ele, que é ex-secretário estadual da Agricultura, no comunicado.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) ficou de enviar nota ao CORREIO sobre o assunto, mas isto não ocorreu. Por se tratar de ocupações que envolvem índios, o caso deverá ir para apuração da Polícia Federal, como já está ocorrendo com a fazenda da família de Geddel. Procurada, a PF em Ilhéus comunicou que não dá informações sobre inquéritos em andamento.