Moradores de Eunápolis narram terror em ataque à Prosegur: 'viatura fugiu'
Cerca de 40 ladrões participaram de ação; 'Me mandaram vazar', diz mototaxista
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Mario Bitencourt
mario.bitencourt@redebahia.com.br
Era para ser apenas mais uma noite de trabalho para um mototaxista que realiza entregas de remédios para a única farmácia 24h de Eunápolis. Sem saber que a cidade do Extremo Sul da Bahia estava sitiada por 40 bandidos que explodiram a empresa de transporte de valores Prosegur, o trabalhador, que prefere não ter o nome revelado, acabou passando por uma das barreiras que os criminosos fizeram para evitar aproximação da polícia.
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A empresa Prosegur fica na Rua Doutor Gravatá, no Centro da cidade, próxima à Avenida Porto Seguro, onde fica a farmácia em que ele trabalha.“Uma hora daquela, pouco mais de meia-noite, a cidade é calma. Quando vi os bandidos, fiquei assustado, mas estava em cima deles já, não dava para voltar atrás”, disse ele. “Eles me pararam e eu disse que estava entregando remédio. Mandaram tirar o capacete e depois me mandaram vazar”.Ele lembra que os bandidos estavam com armas de grosso calibre que, segundo a Polícia Militar, eram fuzis 762 e 556 e metralhadoras ponto 50, usadas em ataques antiaéreos, segundo a polícia. As armas são de uso restrito das forças armadas. Tiros para cima eram dados em todo momento como forma de impor o terror na cidade.“Eu tinha acabado de sair do banho quando começaram os disparos por volta de 0h30. De início eu achei que fosse até os pipocos de energia do poste, mas aí começou a aumentar, ir rápido, com rajadas como de metralhadora mesmo”, disse o administrador de empresas Phelipe Fadini, 35, que mora no 1º andar de um prédio a 400 metros da Prosegur.“Quando os tiros começaram a acelerar, foi quando vi que era tiro. E às 0h46 veio a explosão. Foi um barulho muito alto”, contou ele, que lembra ainda de ter visto que uma viatura fugiu da área onde ocorria o crime.
O barulho da explosão foi tão alto que o atendente da única farmácia 24 horas da cidade, Narciso Neto, ouviu do bairro Pequi, no lado oposto à BR-101, a cerca de 5 km da Prosegur. “O povo acordou e ficou doido querendo saber o que era. Aí foi chegando notícia pelo celular”, disse. Frente do escritório da Prosegur em Eunápolis; área foi isolada por conta de bomba (Foto: Divulgação) Sem acesso ao cofre A ação dos bandidos, apesar de bem orquestrada, teve o objetivo frustrado. Assim pode ser resumido o ato criminoso que deixou um rastro de destruição na cidade de 115 mil habitantes.
Apesar de matarem um vigilante da empresa e ferir outros quatro, usar bananas de dinamite para explodir a empresa Prosegur, incendiar carros em frente ao quartel da Polícia Militar e a duas companhias especializadas da PM (Caema e Rondesp), bloquear acessos nas rodovias BRs 101 e 367 e disparar tiros de fuzis e metralhadoras, os bandidos fugiram de Eunápolis sem levar quase nada. Veículo incendiado em frente a sede da CIPE (Foto: Divulgação) Segundo a Polícia Civil, os criminosos, devido à explosão que danificou os escritórios da empresa, tiveram acesso apenas à tesouraria, onde havia pouco dinheiro. O cofre, principal alvo, não foi sequer danificado. Até o início da noite desta terça, a empresa ainda não tinha prestado queixa do crime e nenhum bandido havia sido localizado.
Ação deste tipo nunca tinha ocorrido no município que é o 19º mais violento do Brasil no Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com taxa de homicídios de 53,7 por 100 mil habitantes – a Organização das Nações Unidas (ONU) tolera índice de até 10 homicídios por 100 mil. Homem do Esquadrão Antibombas em ação para neutralizar bananas de dinamite deixadas por bandidos (Foto: Divulgação/PM) Após 40 minutos de ação, os criminosos deixaram para trás, durante a fuga, cinco bananas de dinamite, recolhidas pelo esquadrão antibomba do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), única unidade da PM que pode manusear material do tipo. As dinamites foram levadas para perícia.
A vítima fatal da ação dos bandidos foi o vigilante Elivar Ferreira Nadier Sobrinho, 46. Ele estava na guarita da empresa quando os criminosos chegaram e chegou a trocar tiros, segundo a polícia. Vigilante morto no ataque, Elivar revidou tiros e acabou atingido (Foto: Acervo Pessoal) Outros quatro funcionários da empresa que estavam na tesouraria ficaram feridos pelos escombros do teto que caíram devido à explosão. Eles estão hospitalizados, mas sem correr risco de morte. Uma loja de roupas femininas teve a vidraça quebrada pelos tiros.
Investigação A Prosegur não revelou se alguma quantia foi levada da tesouraria da empresa. Sobre o cofre, declarou que “o ataque foi frustrado graças à instalação de sistemas de segurança e tecnologia de ponta, tornando o acesso ao dinheiro inviável e por isso os valores não foram levados pelos bandidos.”“Lamentamos a morte de nosso colaborador e esperamos que as autoridades estaduais e federais se mobilizem de forma conjunta, com ações preventivas e repressivas para conter esses ataques de alta magnitude que só trazem prejuízo para todos os envolvidos, incluindo a sociedade”, comunicou a empresa.A companhia informou que “está dando toda assistência aos feridos e à disposição das autoridades locais, colaborando para o andamento das investigações”, as quais indicam que os criminosos fugiram para Minas Gerais, possivelmente em um caminhão-baú, segundo apurou a Polícia Civil.
Na manhã desta terça, a PM encontrou quatro veículos usados no crime na zona rural de Belmonte, cidade também do Extremo Sul. Os veículos, dentre eles uma picape Strada preta, estavam vazios. As polícias da região estão em alerta e fazendo buscas, o que será continuado nesta quarta.
O major Florisvaldo Ribeiro, comandante da 7ª Companhia Independente de Polícia Militar em Eunápolis, ao comentar a ação dos bandidos, declarou que “foi um momento que tivemos de agir com cautela”. “Estamos com reforço na cidade e logo em breve vamos dar uma resposta à sociedade, com a prisão desses bandidos”, comentou.
Para o delegado Hermano Costa, titular da Delegacia de Furtos e Roubos, a ação dos bandidos “foi algo muito orquestrado, jamais esperado na cidade. Um crime de extrema ousadia”. “A polícia ficou encurralada, sem poder sair”, concluiu.
Pedido de reforço A Prefeitura de Eunápolis divulgou nota lamentando a morte do vigilante e o pânico vivido por moradores. O prefeito Flávio Baiôco (PSD) disse que vai solicitar do governador Rui Costa melhorias urgentes na segurança pública da cidade.
Baiôco quer a criação e instalação de um Batalhão da Polícia Militar na cidade, a exemplo de Porto Seguro, elevando a 7ª Cia Independente; a ampliação da base operacional da Caema; a construção de uma base de segurança nos bairros; e um estudo de viabilidade da instalação de um posto da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) na estrada da Colônia, rota de fuga de bandidos sempre que tem crimes na cidade.“Passei essa madrugada acordado monitorando a situação e a assistência às vítimas. Uma cidade como Eunápolis não pode ficar refém do crime organizado e viver cenas de violência sem poder de reação”, comentou o prefeito.“Os comandantes das polícias Civil e Militar se esforçam, mas precisam ter estrutura para trabalhar e condições de enfrentar a criminalidade cada vez mais organizada e bem armada”, concluiu Baiôco.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) declarou que “os efetivos das polícias Militar e Civil estão sendo ampliados em todas as regiões da Bahia com as realizações de concursos, sempre com os objetivos de reforçar o patrulhamento ostensivo e as ações investigativas.”
Lembrou que, no ano passado, “nenhum roubo a banco foi registrado na cidade de Eunápolis, resultado alcançado com muito esforço das forças de segurança e que, em todo o estado, a redução foi de 7% deste tipo de delito”. Destacou ainda que “o ataque contra a empresa de transporte de valores está sendo investigado com total prioridade.”