Miliciano morto lavava dinheiro com compra de gado e terreno na Bahia
Informação foi confirmada pelo secretário da Segurança Pública da Bahia
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
O miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, ex-policial militar carioca e conhecido como Capitão Adriano, morto pela Polícia Militar baiana na cidade de Esplanada, no Litoral Norte da Bahia, lavava dinheiro com a compra de gado e terrenos no estado. Ele foi morto dentro de um sítio, pertencente ao vereador da cidade Gilson Lima (PSL), irmão do vice-presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual Alex Lima (PSB).
“Ele estava lavando dinheiro em nosso estado, comprando gado e terrenos e isso passou a ser interesse nosso”, declarou o secretário da Segurança Pública da Bahia, Maurício Teles Barbosa, em entrevista à TV Bahia, sem dar mais detalhes sobre o assunto.
Adriano da Nóbrega é citado na mesma investigação sobre uma suposta "rachadinha" no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), hoje senador. De acordo com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ), a suspeita é de que as contas de Adriano foram usadas para transferir dinheiro a Fabrício Queiroz, então assessor de Flávio.
Pelo menos duas pessoas ligadas a Adriano foram empregadas no gabinete de Flávio - as duas teriam sido contratadas através de Queiroz. Foram justamente a ex-mulher de Nóbrega, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega (2007 a 2018), e a mãe do miliciano, Raimunda Veras Magalhães (2016 a 2018).
Ex-Bope e líder de milícia Capitão Adriano, ex-Bope, é acusado de liderar uma das maiores milícias do Rio de Janeiro, o Escritório do Crime, e estava foragido desde janeiro de 2019. De acordo com informações da Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), ele começou a ser monitorado por equipes de inteligência da pasta após a informação de que havia buscado esconderijo na Bahia.
De acordo com a SSP-BA, primeiro os policiais foram até uma casa, onde encontraram um homem com três armas — um revólver e duas espingardas. O indivíduo confessou aos agentes que estava com Adriano da Nóbrega e indicou a localização do miliciano carioca. Adriano, que é ex-tenente, foi encontrado pelos policiais numa casa vizinha à primeira. O homem que delatou Adriano foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e está detido em Salvador. Por restrições da Lei de Abuso de Autoridade, a SSP não informa o presídio e nem a naturalidade do preso.
Ainda segundo a SSP-BA, Adriano resistiu à abordagem e disparou contra os policiais. Houve troca de tiros e ele acabou ferido. Levado para um hospital da região, não resistiu. O corpo dele permanece no Instituto Médico Legal (IML) de Alagoinhas à disposição da família.
Segundo os policiais baianos, ele estava com uma pistola austríaca calibre 9mm — o que a defesa nega. Ele teria, de acordo com a versão oficial da morte, trocado tiros com os agentes.
O miliciano estava numa casa no distrito de Palmeiras, na zona rural de Esplanada. O imóvel está dentro do sítio que pertence ao vereador da cidade Gilson Lima (PSL). Há uma semana Gilson e a família estão em Recife, mas por telefone falou com o CORREIO, na manhã desta segunda-feira (10).
Ele disse que tomou conhecimento do fato através da imprensa. “Soube do ocorrido por meio dos vizinhos, informando que houve uma perseguição, que houve uma troca de tiros e que entraram no sítio. Liguei para uma pessoa ir lá e já não tinha mais ninguém. A partir daí, tomei conhecimento através da imprensa, que houve uma operação, que se tratava de um bandido”, declarou.
Ele contou que ligou para polícia. “Depois liguei para o delegado da cidade e disse que o sítio pertence a mim, se ele precisava de alguma informação e ele me falou que era uma operação da polícia especializada com o apoio da Secretaria da Segurança Pública, que ele não tinha participado, que soube depois da ocorrência, que não sabia de detalhes”, declarou. (Foto: Reprodução) 'Eu não sei' Gilson não soube explicar como Adriano foi parar em sua propriedade. “Eu não sei. O que estou sabendo é pela imprensa, que havia uma perseguição, que a polícia vinha monitorando e ele foi encontrado no lugar (sítio). Eu não tenho uma precisão porque ainda não falei com ninguém da operação, entendeu?”, respondeu ele ao CORREIO.
Sem dar detalhes da propriedade, ele disse que o sítio é uma área pequena, que vez e outra vai lá para levar alguns gados, e que não há uma segurança no local. “Como é uma área pequena, lá não tem morador, quando vou lá é esporadicamente. Há 20 dias estive lá. Nunca pus segurança lá porque nunca aconteceu de alguém pegar nada lá. De vez em quando coloco um gadinho lá, coisa pouca”, explicou.
Sobre os comentários na cidade de que Adriano já estava em sua propriedade há bastante tempo, e que ele vinha participando de vaquejadas e cavalgadas na região, o vereador respondeu: “Não recebi nenhuma informação (de que ele estava há tempo lá). A única pessoa com quem falei foi com o delegado e o mesmo não tinha detalhes e não tive essa informação. Inclusive, liguei para um vizinho e perguntei se ultimamente tinha notado algo estranho e ele respondeu que não. Estou voltando para saber de fato o que aconteceu”.
Em nota, a executiva estadual do PSL na Bahia esclarece que o vereador Gilsinho da Dedé foi eleito em 2016, momento em que o PSL Bahia era administrado por outro grupo político. "O vereador Gilsinho da Dedé, assim como outros vereadores que foram eleitos antes de 2018, está aguardando a janela partidária para migrar para outra sigla. O diretório estadual do PSL Bahia nunca teve contato com o edil", finaliza.
Veja vídeo da casa onde Adriano foi baleado (imagens fortes)
O irmão do vereador, o deputado estadual Alex Lima se manifestou na manhã desta segunda-feira (10) através de uma nota e pediu "rígidas investigações a fim de sabermos o que um criminoso foragido fazia numa propriedade particular. Confiamos no trabalho da Polícia, na Justiça e acima de tudo na verdade. Tenho certeza de que os fatos serão apurados e nós estaremos sempre dispostos a contribuir com as investigações”.
O CORREIO procurou a SSP para saber, entre outras circunstâncias, há quantos anos Adriano vivia em Esplanada e o que fazia. A resposta da assessoria de comunicação é que tudo está sendo apurado. Foi perguntado se procede a informação de que uma prima de Adriano atua como veterinária na região de Esplanada e que ela também seria investigada. A assessoria respondeu que desconhece a informação.