Mar destrói hotéis e restaurantes e ameaça residências na Ilha de Itaparica
Ao menos 9 imóveis já caíram em Cacha Pregos; moradores constroem barreiras
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Uma faixa de areia que chegava a 150 metros de extensão e um mar de águas calmas e mornas. Assim era Cacha Pregos, distrito de Vera Cruz, na Ilha de Itaparica, quando foi apelidada por visitantes de Caribe Baiano, por conta da semelhança com o destino mundialmente conhecido pelos turistas. Só que hoje, este mesmo mar avança com força sobre os imóveis construídos, inicialmente, a cerca de 100 metros da água. A faixa de areia e tudo que estava ao lado dela, como pousadas, bares e restaurantes – são nove imóveis até aqui –, foram destruídos ou, literalmente, arrastados pela maré.
Diante da situação, que ameaça dezenas de residências no local, técnicos da Superintendência do Patrimônio da União da Bahia (SPU) vão até o local, na próxima quarta-feira (19), para avaliar o que pode ser feito.
Segundo superintendente da SPU na Bahia, Abelardo Filho, “o assunto está sendo tratado como prioridade”. “Já designei uma equipe para fazer isso. Mas contaremos com embarcações da Capitania dos Portos ou da Polícia Federal para, na oportunidade, fazer uma vistoria, na quarta, na Baía de Todos-os-Santos”, disse ao CORREIO.
O cenário é realmente preocupante: árvores arrancadas pela raiz, postes de iluminação arrastados por quilômetros, escombros e mais escombros sobre a areia. A nova configuração da praia, que ainda tem pouco mais de 30 metros de extensão, começou a mudar em 2016, de acordo com moradores e comerciantes. E é na região de beira-mar onde os estragos são maiores.
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Prejuízos à vista Os noves imóveis destruídos foram abandonados pelos proprietários. No último domingo (9), as ondas subiram 2,5 metros, e voltaram a tomar conta das antigas estruturas e de outros estabelecimentos, que seguem ameaçados. “Acordei com um susto. O mar derrubou o cais do restaurante do hotel. A maré tinha subido 2,5 metros no sábado. Tive que fechar o restaurante”, contou Lidiane Santos Costa, 34, dona do Apart Hotel Privilege, que foi atingido parcialmente.
Ela ainda tenta pôr os estragos na ponta do lápis. “Estou com um prejuízo grande. O atrativo do hotel é o restaurante, por causa da presença da proximidade com o mar. Havia comprado R$ 5 mil de mercadorias que estão mofando porque ninguém quer vir aqui. Tive que dispensar três funcionários, uma cozinheira, um garçom e um ajudante”, declarou Lidiane.
A empresária diz que não sabe o que fazer. “Estou sem rumo. Preciso consertar logo o cais porque vem um grupo de ingleses e o hotel já está lotado para novembro. Meu receio é começar a obra e o mar vir novamente e derrubar tudo. A previsão é que em novembro a maré suba mais que 2,5 metros. Precisamos que a Prefeitura faça alguma coisa”, suplicou ela.
Estrangeiros Dos nove imóveis que foram derrubados ou engolidos pelo mar, oito são estabelecimentos comerciais (bares, restaurantes e pousadas) e uma casa. “A região da beira-mar era formada por comércios que hoje não passam de escombros”, afirma Luana Perrone, 27, moradora de um dos condomínios da região.
A maioria dos proprietários não mora no Brasil. São estrangeiros que chegaram a Cacha Pregos como turistas e que depois decidiram investir no local.
“Eles costumam vir aqui só em época de veraneio. Por exemplo, a dona de um bar mora na Itália, o dono de uma pousada mora na Suíça, a proprietária de um restaurante está na Espanha e o dono de uma casa é um paramédico suíço. Eles estão aflitos assim como nós”, declarou Luana.
Condomínios e barreiras O mar continua avançado, segundo os moradores, e já chegou a uma parte mais afastada da orla, onde ficam condomínios residenciais. Em algumas situações, muros já foram derrubados.
“Não durmo há meses com medo do mar invadir. A depender da maré, o mar bate muito forte, o barulho é assustador e não dá para dormir. A qualquer momento pode avançar mais e a gente não sabe o que pode acontecer”, contou Luana, que mora em um condomínio afetado pela força das águas. Água já chega a condomínios mais afastados da orla (Foto: Leitor CORREIO) Enquanto aguardam um posicionamento das autoridades, moradores estão fazendo, por conta própria, barreiras para evitar o avanço do mar. Mas há um custo para isso e eles pedem doações. “Pedimos doações de pedras para conter o avanço aos terrenos. Já recebemos 12 caçambas mais dinheiro para pagar as horas da máquina escavadeira, que trabalham 5 horas por dia”, disse Ana Flávia Fagundes, moradora da região.
Ainda segundo ela, a pedido de um comerciante, uma empresa de Salvador fez um estudo na região e apontou três alternativas para conter o problema. A primeira é a técnica de enroncamento de pedra que são estruturas constituídas de pedras de mão arrumada, matacões ou por pedras jogadas, que podem ser utilizados na construção de contenções. A segunda opção é um cais de pedra, que consiste num tipo de contenção de concretagem numa profundidade maior.
A terceira alternativa, a mais ecológica, é a drenagem da areia do mar, através de um navio, para ser depositada na faixa de areia que foi invadida pelo mar. “Mas tudo isso tem que ser feito pelo poder público, porque não temos autorização para tal fim e por se tratar de algo muito caro”, explicou Ana Flávia.
Inema Procurado pelo CORREIO, o diretor de Águas do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), engenheiro Eduardo Topázio, disse que o acontece em Cacha Pregos não é nenhum fenômeno e, sim, uma situação corriqueira. "É muito comum, algumas áreas costeiras, em época de marés altas e elevadas, ou maré de lua cheia e de lua nova, ou entrada de frentes frias. Quando uma massa de água vem com mais força em direção às costas, geram ondas e acontece essa sobreposição de fenômenos meteorológicos, ou seja, a relação da atmosfera com o mar”, comentou ele.
Ainda segundo Topázio, isso já aconteceu outras vezes, no passado, “e vai acontecer sempre porque é, possivelmente, uma área não edificada”.
“Não se ocupa uma praia tendo só como referência a lua cheia ou nova. É preciso um estudo. O que se aprende com isso é que não pode ocupar uma área costeira desta forma”, advertiu o diretor do Inema.
Topázio comentou as alternativas dadas por uma empresa contratada por um comerciante para solução do problema. “De todas, do ponto desejável natural, a mais indicada é a engorda de praia, por ser um processo mais natural. Vai aumentar a praia. Mas todas as opções precisam do estudo de impacto do que pode acontecer. Por exemplo, será que a retirada da areia de um determinado ponto do mar poderá afetar o ecossistema do local? Tudo isso tem que ser levado em consideração”, concluiu.
Prefeitura Em nota, a Prefeitura de Vera Cruz informou que está ciente da situação de alguns moradores da localidade de Cacha Pregos que fizeram suas construções avançadas na areia da praia, e que lamenta o ocorrido.
Apesar de ser uma área de responsabilidade da União, regulada e fiscalizada pela SPU, o Município enviou técnicos ao local e notificou os órgãos competentes.
A área também foi inspecionada pelo prefeito Marcus Vinicius. Infelizmente, segundo ele, a legislação não permite ao Município executar qualquer intervenção em área de Marinha e, por isso, a prefeitura diz aguardar a orientação e autorização da SPU para verificar em que poderá auxiliar na situação.