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Mais de 48 mil estrangeiros visitaram a Bahia desde dezembro


 

Turistas de 133 países passaram pelo estado; argentinos lideram a lista com folga

  • Fernanda Santana

Publicado em 08/03/2023 às 05:00:00
Atualizado em 13/04/2023 às 09:42:58
. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO

Em cada tarde de verão, no Pelourinho, há uma miniatura do mundo. Pelas roupas, sotaques e jeitos de quem circula, é possível distinguir uns dos outros. O fundo de “portunhol” nas conversas – português pretensamente espanhol e vice-versa – sugere quem são os predominantes: os argentinos, estrangeiros que, desde dezembro do ano passado até o fim da estação, serão os turistas mais frequentes no estado. 

Do fim do ano passado até fevereiro deste ano, turistas de 133 nacionalidades passaram pela Bahia, mostram dados da Polícia Federal (PF) organizados a pedido da reportagem. Ao todo, foram 44.898 estrangeiros no estado. Somente 62 países do mundo, que conta com 195 países reconhecidos pela Organização das Nações Unidas, não deixarão, de alguma forma, sua marca no verão baiano.

Uma parte (a mais expressiva) chegou pelo ar. A outra, pelo porto. Por uma confluência de fatores, os vizinhos da Argentina lideraram a lista. Durante três meses, dez mil argentinos desembarcam na Bahia. Até o fim desse mês, são esperados 6,2 milhões de turistas - 3 milhões deles só em Salvador - que devem injetar R$ 9 bilhões no estado.  

O fim da tarde do último sábado (4) se aproximava quando Fabian Biscione, 49 anos, de Buenos Aires, chegou a um hostel do Pelourinho, com o filho. As razões da visita do funcionário público à Bahia resumem o que atrai os “hermanos” ao Brasil.“O custo-benefício e as belezas, a cultura da Bahia. Queremos conhecer o Centro Histórico, as praias da Barra, o mar. Comer moqueca”, contou Fabian, depois de realizar o check-in na hospedaria. Recepcionista do Laranjeiras Hostel, onde os hóspedes podem escolher quartos compartilhados ou individuais, Jandenilson Silva vê a crise econômica da Argentina, onde a inflação ficou em 100% em 2022, como catalisadora da vinda de turistas do país. Um dos funcionários do hostel, por exemplo, é um jovem argentino. “Muitos vem com o propósito de ficar morando. Eles têm facilidade com a língua e isso ajuda”, explica. Fabian na chegada ao hostel (Foto: Arquivo Pessoal) Até o início da pandemia da covid-19, que restringiu o fluxo de turistas por dois anos, eram os franceses os principais turistas no local. Diferentemente dos argentinos, um público “mais sério, reservado, com muito interesse pela parte cultural, pela antropologia”, perfilou Jandenilson.

Os argentinos são diferentes em quase tudo dos europeus: gostam de conhecer a cultura local, sim, mas adoram a farra (leia-se, caipirinhas). Os franceses preferem os quartos privativos, os argentinos, o dormitório. “Eles querem socializar mais, mas também pela questão econômica preferem os dormitórios. Caipirinha eles amam”, continua o recepcionista. 

O perfil de turista varia a depender do país - e do bairro onde escolhem (ou podem) se hospedar. Quem é experiente no trabalho em hospedarias logo aprende a reconhecer de onde vem o visitante. Os hostels são os preferidos dos mochileiros ou amigos em grupo, já os hotéis são os favoritos de famílias e casais.

Os portugueses são a segunda nacionalidade mais frequente neste verão. Entre dezembro e fevereiro, 4.809 moradores da terrinha vieram nos visitar, mas ao contrário dos argentinos, eles são pouco frequentes em pousadas e hotéis, o que indica que fazem parte do grupo que opta por aluguéis por temporada.

A presença das nacionalidades também é sazonal. Argentinos, portugueses, italianos e espanhóis foram os únicos visitantes assíduos nos três meses do verão. Britânicos e estadunidenses, por exemplo, estiveram mais presentes em dezembro. Já os franceses, uruguaios e alemães começaram a desembarcar em janeiro.

O que um estrangeiro faz em Salvador? 

A rede de luxo é onde mais se encontram os europeus, que costumam atravessar o Oceano Atlântico para a América do Sul nesta época do ano, quando é inverno no Velho Continente. “O câmbio da moeda europeia [euro ou libra] favorece muito eles, porque é valorizado. E também porque temos uma conexão de voos melhor do que com os Estados Unidos”, justifica Luciano Lopes, presidente da Associação Brasileiras da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih).

Os hotéis, hostels e pousadas ainda são os favoritos dos estrangeiros, apesar da possibilidade de hospedagem privada, como aluguel por temporada. “Salvador é muito democrática em relação à hospedagem, mas para o cliente que vem de outro país, o hotel ainda representa segurança, a possibilidade de mais opções”. 

No Vila Galé, hotel de luxo com vista para Praia de Ondina, os sul-americanos são “mais abertos à conversa”. E identificáveis até pela roupa. “No lobby, consegui identificar uma argentina só pela vestimenta: calça de linha, com uma percatinha, blusa regata e mochila”, comenta Camila Costa, recepcionista. 

Nos bares e restaurantes, o estilo de cada nacionalidade já é conhecido. Os argentinos são os mais poupadores: amam moqueca, mas odeiam a hora de pagar 10% de comissão aos garçons. Já os russos, que adoram salmão, têm um perfil único: cada um deles, mesmo em grupo, costuma pedir uma bebida e comida própria. Diariamente, um turista gasta, em média, R$ 250 em Salvador, estima a Abih na Bahia. “Argentino é canguinha. Já o russo é o mais gastador. Chegam aqui e cada um pega uma garrafa de cerveja, cada um pega um prato que poderia servir três pessoas”, conta Iago Lima, gerente do Boteco do Caranguejo na Barra.Quanto aos europeus, “gastam bastante, mas não vem muito para o lado de cá”. “Estrangeiro vem para comer mesmo, jantar ou almoçar, não é esse negócio de sair da praia e ir para um bar não, isso é mais coisa de gente daqui”, diferencia Iago. 

Os turistas do Velho Continente preferem os barzinhos mais próximos ao Porto da Barra ou o Centro Histórico. Entre os que optam por visitar o interior, os locais escolhidos costumam ser o sul da Bahia e a Chapada Diamantina. “É uma maravilha, lindo para caramba, os guias são ótimos”, disse o publicitário francês Vicente Bronnee, 31, antes de partir para uma festa religiosa do Candomblé aberta ao público, em um terreiro de Salvador.

Confira as nacionalidades que mais visitaram a Bahia entre dezembro e fevereiro de 2023:Argentinos - 9.855 turistas Portugueses - 4.809 turistas Italianos – 2.395 turistas Espanhóis – 1.792 turistas Franceses - 1.679 turistas Alemães – 1.035 turistas Uruguaios – 950 turistas Estadunidenses – 728 turistas Britânicos - 81 turistas *Fonte: Polícia Federal

Bahia recebeu visitantes de países menos conhecidos:Albânia Azerbaijão Bulgária Cazaquistão Eslováquia Etiópia Finlândia Granada Hong Kong Indonésia Jordânia Letônia Lituânia Macau Madagascar Mongólia Namíbia Nepal Paquistão Sri Lanka *Fonte: Polícia Federal