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Mãe de subtenente morto em Itajuípe já perdeu dois filhos policiais: 'Estou estraçalhada'


 

Esposa do policial precisou ser carregada quando soube do ocorrido

  • Da Redação

Publicado em 29/09/2022 às 05:30:00
Atualizado em 18/05/2023 às 02:57:38
. Crédito: Reprodução

A mãe do subtenente da Polícia Militar, identificado como Alberto Alves dos Santos, de 51 anos, morto em uma ação da PM em Itajuípe, no sul da Bahia, contou que a esposa do militar precisou ser carregada quando descobriu da morte do marido. Dona Maria do Carmo, 80, precisou conter a tristeza por conta do marido, que é doente e não pode passar por grandes emoções, mas ela admite que ficou "estraçalhada por dentro" quando soube do ocorrido, na terça-feira (27). 

Maria do Carmo tem três filhos policiais e já perdeu dois deles por conta do trabalho: "Também mataram meu outro filho policial em 1999 e agora esse, é uma tristeza. Eu tinha cinco filhos, agora só tenho três. Tenho que pedir ajuda a Deus e pedir por justiça, espero que as pessoas responsáveis precisam pagar pelo que fizeram". 

Segundo ela, o filho era uma excelente pessoa, um homem calmo e atencioso. "Na hora que eu soube da morte dele eu entrei em pânico, mas tive que me conter para ajudar meu marido, que é doente e não pode sofrer grandes emoções. Por dentro eu estou estraçalhada", desabafou dona Maria, emocionada. 

O subtenente deixa esposa e três filhos adultos. “Os filhos dele estão arrasados, choraram, gritaram. As meninas não comeram, não conseguiram fazer nada. Ele era um pai muito querido, amoroso, elas eram apaixonadas por ele. O filho dele, que é o mais novo, também ficou destruído, tentando acalmar as irmãs. A esposa dele precisou ser carregada, foi pegar o corpo no aeroporto e voltou carregada", relatou a mãe do policial. 

"Meu irmão era muito trabalhador, vivia trabalhando, era uma pessoa muito gente boa, era casado, tinha duas filhas e um filho. Estamos todos arrasados, ele era muito feliz, amava o trabalho", disse o irmão do subtenente, sargento Paulo Sérgio Alves, de 50 anos.

O enterro de Alberto dos Santos acontece nesta quinta-feira (28), às 11h30, no Cemitério Bosque da Paz, em Salvador.

Entenda o caso Um subtenente da Polícia Militar, identificado como Alberto Alves dos Santos, de 51 anos, foi morto por outros policiais militares em ação na cidade de Itajuípe, no sul da Bahia, no final da noite de terça-feira (27). O policial fazia parte da equipe de segurança de ACM Neto. Um sargento da PM também foi baleado e segue internado. 

A SSP informou que a situação se originou com a busca por um assaltante de banco. Identificado como André Marcio Jesus, conhecido como Buiu, ele tem ligação com uma facção criminosa paulista e deixou o Complexo Penitenciário de Lauro de Freitas na terça às 13h30, com benefício de saída temporária, usando tornozeleira eletrônica.

Por volta das 14h30, Buiu rompeu a tornozeleira, quando estava na BR-324, perto de Candeias. A PM deu início nas buscas e quando as equipes estavam em Uruçuca, também no sul do estado, um assaltante de banco identificado como Bismark e um comparsa foram abordados e trocaram tiros com os militares. Os dois foram mortos. Buiú segue como foragido.

Nas buscas, os policiais foram informados sobre a presença de homens armados em um hotel em Itajuípe e foram até lá. No local, dois homens foram abordados e não reagiram. A SSP informou, no entanto, que outros dois homens, armados, reagiram quando os PMs se aproximaram. Segundo a pasta, dois soldados que estavam em serviço foram baleados na ação. No tiroteio, os dois homens que estavam no hotel, posteriormente identificados como policiais, também foram feridos e um deles morreu.

Os homens, identificados como o subtenente Alberto Alves dos Santos e o sargento Adeilton Rodrigues D'Almeida, foram socorridos. O subtenente não resistiu aos ferimentos e o sargento segue internado, mas sem riscos de morte. 

Ambos estavam na cidade para compor a equipe de segurança do candidato ao governo da Bahia ACM Neto (União Brasil), em evento no município de Coaraci, cidade vizinha de Itajuípe. Nas redes sociais, Neto lamentou a morte e suspendeu a agenda. 

O comandante geral da PM diz que todo o caso será esclarecido. "Lamentamos o confronto. Estamos solidários às famílias e a determinação é que toda a ocorrência seja esclarecida. As armas foram recolhidas e o local do confronto preservado para a realização de perícia", disse o coronel Paulo Coutinho.

Sargento diz que policiais ‘entraram atirando’ O sargento Adeilton Rodrigues D'Almeida, que também faz parte da equipe de segurança do candidato ao governo da Bahia ACM Neto, relatou que estava dormindo quando foi alvejado. “Os policiais entraram quebrando as janelas e as portas, mesmo eu gritando o tempo todo 'sou polícia, sou polícia’", contou.

A vítima também informou que os PMs atiradores não prestaram socorro imediato e que ele precisou rastejar até a porta do hotel onde o grupo estava para buscar ajuda. “Eu implorei: ‘me dê socorro, por favor, me coloque na ambulância’. Ele me ajudou depois, mas de forma hostil”, disse a vítima. 

O sargento disse que os policiais pegaram a arma dele e atiraram diversas vezes no quarto para insinuar um confronto.

Policiais da operação de terça participaram de ação que matou delegado em 2019 Informações obtidas pela reportagem com um delegado graduado da Polícia Civil apontam que os policiais da operação desastrosa, que matou o subtenente Alberto Alves dos Santos, são do mesmo batalhão que os agentes que mataram o delegado da Polícia Civil José Carlos Mastique de Castro Filho, em uma ação que aconteceu em abril de 2019, em Itabuna. Não se pode informar se são os mesmos policiais ou se são da mesma companhia. A fonte confirmou apenas que um dos policiais envolvidos no caso do subtenente Alberto pertence à mesma companhia dos agentes envolvidos no caso do delegado Mastique. 

O delegado José Carlos Mastique de Castro Filho foi baleado no peito em 2019 ao tentar entregar a arma dele para os PMs, durante a abordagem. A vítima estava com uma namorada, em um posto de combustíveis da cidade, quando ocorreu a ação. O delegado estava com o carro estacionado no Posto Jequitibá, onde funciona também uma loja de conveniências. Um morador que passou no local, por volta das 4h, estranhou o carro parado, e viu que havia um homem armado no veículo.

A testemunha então entrou em contato com a PM informando que suspeitava de que um assalto iria ocorrer no posto. Uma equipe foi enviada ao local e tentou abordar o delegado que, segundo o 15º BPM, estava "alterado" e sacou a arma. Os militares atiraram, sem saber que se tratava de um delegado. Mastique foi baleado no peito. A própria equipe da PM o socorreu para o Hospital Base de Itabuna, mas o delegado não resistiu ao ferimento e morreu.

Em nota, o Sindicato dos Policiais Civis (Sindpoc) chamou a ação de "desastrosa" e afirmou que Mastique foi morto ao tentar intervir e impedir que um cabo da PM agredisse a própria namorada. Diz ainda que ele se identificou, assim como um colega que estava com ele, e foi baleado ao tentar entregar sua arma.