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Livros que voam: projeto de pilotos leva livros para crianças em lugares do interior da Bahia


 

Com começo em dezembro, ação já contemplou 400 crianças e tem 600 livros para doação

  • Wendel de Novais

Publicado em 17/03/2021 às 06:00:00
Atualizado em 22/04/2023 às 03:16:07
. Crédito: Foto: Paula Froés/CORREIO

Quando se chega no interior baiano em lugares mais remotos de helicóptero, o roteiro é sempre o mesmo, não tem jeito. Ao redor da aeronave, se forma um amontoado de crianças e adolescentes com olhares curiosos e vidrados em cada detalhe daquela máquina voadora que só viam na televisão, nos filmes. Fascínio que não fica só no helicóptero, mas também em quem o conduz, que vira referência, praticamente uma estrela para os pequenos, que estão cheios de perguntas e dispostos a uma troca de experiências. Foi dessa abertura que surgiu o Livros Que Voam, projeto criado por pilotos da Casa Militar do Governador (CMG), que viram nesse momento de interação com os admiradores mirins do interior do estado a oportunidade perfeita para incentivar a leitura entregando livros para os que se aproximavam para ouvi-los.

Os títulos não à toa são os clássicos da literatura que parecem ter sido projetados para captar os pequenos e os encantar, assim como o painel cheio de botões da aeronave que tanto admiram. O Pequeno Príncipe e Memórias Póstumas de Brás Cubas em quadrinhos são os mais vistos entre os livros já entregues pelo projeto, que começou em dezembro de 2020 e alegra muito a molecada, segundo o comandante de aviações Eduardo Silva, 49, idealizador do Livros que Voam. "Eles vão doidos pra conhecer a aeronave e a gente fala dos livros, que também possibilitam uma viagem por um mundo ainda mais legal que o céu para eles. A reação é a melhor possível, sorrisos largos, olhares que brilham ao escolher qual livro levar. É uma coisa linda mesmo, a gente fica muito feliz", relata Eduardo, que também conta que há um apoio da Secretaria de Educação do Governo ao projeto para decidir quais livros são adequados para leitura dos pequenos.  Crianças que se amontoam para ver helicópteros recebem livros do Livros Que Voam (Foto: Reprodução) A todo vapor

Mesmo com pouco tempo de existência, o Livros Que Voam, no Instagram como @livrosquevoam_oficial, já distribuiu 400 livros e tem mais 600 em mãos, que ainda não foram entregues por conta da situação da pandemia no estado. O alcance, no entanto, já gera frutos e deixa pais muito agradecidos, que gravaram depoimentos sobre ação, mas não se identificaram. "A gente fica muito feliz, eles chegaram em casa vibrando. Não temos muito, mas sabemos a importância dos livros. A leitura é um dos caminhos para melhorar o mundo", diz uma mãe que apoia tanto a ação que doou livros já lidos por seus filhos para o projeto.

Assim como essa mãe, muitos outros responsáveis pelos pequenos vão até os pilotos para agradecer por entenderem o impacto que a leitura pode ter na vida de uma criança que vive em regiões mais remotas, em que o acesso a livros é mais complicado. Eduardo afirma que já perdeu a conta do número de pais que os procuram para dar um feedback positivo sobre a ação. "A gente tem tido cada momento bacana com os pais. Eles ficam muito contentes, agradecem. Os pais sabem a importância da ação. Uma mãe de Catu, por exemplo, viu a criança chegar em casa com um e trouxe mais 10 pra doar. O retorno é sempre muito positivo", fala. Eduardo conta que tem recebido feedback positivo dos pais das crianças contempladas pelo projeto (Foto: Paula Froés/CORREIO) De acordo com Eduardo, não são só os pais que demostram tanta alegria. As crianças e os adolescentes que ficam conversando com os pilotos também ficam empolgados com os livros e as histórias que podem decifrar mesmo dentro de casa. "Eles saem diferentes. Depois da gente contar tudo sobre o que a leitura pode fazer e compartilhar nossas vivências, eles olham para os livros de outra forma. Fico feliz demais porque a leitura me salvou. Eu também vim de bairro pobre, com pouco acesso às coisas, mas a educação transformou a minha vida", relata Eduardo, que é do bairro Alto das Pombas, de Salvador.

Movimentação solidária

Todo esse impacto só é possível graças a predisposição não só de Eduardo, mas de todos os pilotos da CMG que tiraram do próprio bolso o valor dos primeiros títulos distribuídos, da doação de muitas pessoas que já ajudam o projeto e do auxílio do Tenente Coronel Ivã Antônio dos Santos, que pensou a execução do Livros Que Voam com Eduardo e tem um papel fundamental na organização do projeto. De acordo com Dos Santos, sua participação é na logística para fazer com que a coisa ande. "Minha função é auxiliar na parte organizacional para que seja possível que isso seja realizado na prática. Operamos principalmente pelo Instagram para difundir o projeto e contar com a adesão de pessoas e empresas que acolham a nossa ideia. Tudo isso porque a ideia de Eduardo foi genial e faz um bem gigantesco não só para as crianças, como também para as famílias", declara. Ivã é fundamental para parte operacional do projeto (Foto: Paula Froés/CORREIO) A intenção dos organizadores é que, além de continuar com doações ao redor da Bahia, a prática possa se tornar comum em toda a aviação do Brasil, que viaja pelos quatro cantos do país. Já há, inclusive, a previsão de construção de um projeto para ser apresentado para as autoridades nacionais de aviação. Por enquanto, a perspectiva é que, ainda em solo baiano, mais livros possam ser arrecadados e distribuídos em toda missão do CMG. Quem quiser ajudar o Livros Que Voam, é só procurar o projeto pelo Instagram, no @livrosquevoam_oficial e entrar em contato por mensagem direta. Lá, todas informações sobre a logística para a entrega desses livros podem ser combinadas com os voluntários.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro