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Invasão de importados provoca ociosidade em empresas de Camaçari e outros polos industriais


 

Química sofre com invasão estrangeira

  • Donaldson Gomes

Publicado em 05/11/2024 às 05:00:00
Visitantes puderam conhecer um pouco de operação da ITF Chemical no Polo Industrial de Camaçari. Crédito: Divulgação

Mesmo já sendo um dos principais geradores de riquezas para a economia baiana, com expressiva participação nos resultados da indústria química nacional, o Polo Industrial de Camaçari ainda pode ampliar muito a sua contribuição para o desenvolvimento do Brasil, e da Bahia, em particular. Este foi o recado dado a parlamentares que integram a Frente Parlamentar da Química (FPQuímica), além de outros convidados que nesta segunda-feira (dia 04) visitaram unidades industriais da Braskem e da Italfarmaco Group.

Atualmente, a indústria química baiana emprega um total de 15 mil pessoas diretamente, além de outras 130 mil indiretamente e 59 mil por conta do efeito renda – que diz respeito a atividades que utilizam os produtos químicos em suas cadeias produtivas. Levando-se em conta apenas os empregos diretos, a indústria química movimenta R$ 2,5 bilhões em salários por ano na Bahia, destacou o economista Carlos Danilo Peres, da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Além disso, a produção de químicos e petroquímicos por aqui movimenta por ano R$ 2,2 bilhões em Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).

É em Camaçari que a ITF Chemical, do Italfarmaco Group, abastece parte das suas quatro plantas farmacêuticas que atendem mais de 90 países no mundo. No Brasil, a indústria é fornecedora de insumos para o Sistema Único de Saúde. Para Leôncio Cunha, diretor-superintendente da IFT, a influência da empresa poderia ser bem maior com melhores condições operacionais. “Temos condições de colocar no mercado produtos que fazem a diferença”, afirma. Em Camaçari, a empresa tem potencial para produzir insumos farmacêuticos ativos (IFAs) para medicamentos de tratamentos oncológicos, de combate à anemia, nutracêuticos e hiperfosfatemia.

Na planta Químicos 1, da Braskem, o grupo pôde ver in loco onde o polo, que nasceu voltado para a indústria química, começou. Perceberam que o local está bem diferente do que era na década de 1970. Parte das mudanças se devem aos R$ 1 bilhão investidos em melhorias e modernizações realizados pela petroquímica no ano passado. “Em Camaçari, nós atuamos na primeira e segunda geração de petroquímicos, que são chamados de básicos porque são matérias primas para praticamente tudo o que é industrializado”, destacou Carlos Alfano, que é diretor industrial da Braskem e presidente do Comitê para o Fomento Industrial de Camaçari (Cofic).

“Os produtos básicos são fundamentais para o desenvolvimento do Brasil, como são para qualquer país”, ressaltou. Alfano mostrou aos visitantes que o complexo industrial está conectado com as principais estruturas logísticas e de produção do estado, como a Refinaria de Mataripe, o Terminal Portuário de Madre de Deus (Temadre), o Porto de Aratu e até uma ligação direta com as unidades da Braskem em Maceió. Segundo ele, somando tudo, são mais de 1 mil quilômetros de dutovias.

Atualmente, a Braskem possui 8 unidades, com um número bem maior de fábricas, empregando 1,6 mil trabalhadores e uma capacidade para a produção de 5 milhões de toneladas de produtos por ano. Alfano lembrou aos presentes que a indústria química mundial enfrenta atualmente o mais severo ciclo de baixas no preço da história.

Além dos preços mais baixos, o que reduz o potencial de faturamento, o segmento enfrenta ainda o desafio da mais severa “invasão” de produtos importados jamais vista. Atualmente, os químicos fabricados no exterior já respondem por 47% do mercado nacional, enquanto as exportações brasileiras registraram uma queda de quase 11%. “Todos estes fatores nos levam a um cenário em que quase 40% da nossa capacidade instalada de produção está ociosa”, ponderou Alfano. “Estes patamares são os piores que já enfrentamos em quase 30 anos”.

A capacidade ociosa atual é um indicador de que a indústria química nacional está deixando de aproveitar quase 40% do seu potencial para a geração de desenvolvimento, avaliou o deputado federal Afonso Motta, que é o presidente da FPQuímica. Em onze anos de funcionamento, a frente parlamentar é uma das maiores no Congresso Nacional, reunindo mais de 200 deputados e senadores.

Soluções possíveis

Motta lembrou de iniciativas da frente em relação à regulação do segmento, com o apoio a projetos como o Reiq, que visa fomentar o desenvolvimento da atividade, mas destacou que o grande desafio do Brasil é o de dar mais competitividade à sua indústria. “Hoje nós não temos uma política efetiva para que tenhamos ganhos de competitividade”, avalia. “Nós trabalhamos com o Reiq, que é importantíssimo, mas não responde a todos os nossos anseios”, avaliou.

Outro parlamentar que acompanhou a visita, o deputado federal Daniel Almeida, coordenador da FPQuímica, lembrou que a indústria química é “mãe” de diversas outras atividades, por lhes fornecer matérias primas. “A pandemia mostrou com muita clareza que ter uma indústria cada vez mais forte é uma questão de soberania”, avaliou.

Segundo Paulo Engler, diretor presidente do IdQ, o instituto existe para levar ao Congresso Nacional o cotidiano e as necessidades do setor químico, com segurança e representatividade. “É por isso que trazemos deputados, senadores e membros do poder executivo para entenderem o que acontece aqui. Para verem o tamanho do esforço e, acima de tudo, reconhecerem o trabalhador, a função social, ecológica e a importância do setor. A indústria é vida. A indústria é extremamente importante. O Brasil não pode reduzir sua produção, ele precisa crescer”, defendeu Engler.

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), André Passos, acredita que um dos principais incentivos que podem ser oferecidos para a indústria está na oferta de matérias primas competitivas. “Precisamos avançar e este é um momento fundamental para isso porque, estando aqui no Polo de Camaçari podemos conhecer melhor a nossa realidade”, afirma.