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Homem baleado em bar após beijo gay diz que PM é autor dos tiros


 

'Ninguém puxa a arma para assustar. Só tinha ele armado', declarou Marcelo

  • Bruno Wendel

Publicado em 29/10/2019 às 17:07:00
Atualizado em 20/04/2023 às 11:02:04
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Marcelo Macêdo mostra cicatriz de operação feita após ser baleado em ataque homofóbico (Foto: Reprodução) Foram mais de 20 pontos na barriga, após a retirada do baço perfurado por um projétil. Nas costas, os curativos cobriam o local onde antes estava um dreno -usado para evitar uma infecção após a remoção de mais uma bala. Ainda se recuperando da tentativa de homicídio, quando foi espancado e baleado quatro vezes no último domingo (20) em Camaçari, o ajudante de cozinha Marcelo Macêdo, 33 anos, não tem dúvida: foi um policial militar o autor dos tiros. 

“O objetivo dele era me matar. Ninguém puxa a arma para assustar. Só tinha ele, o PM, armado”, declarou Marcelo, na manhã desta terça-feira (29). Logo após os tiros, Marcelo foi socorrido para o Hospital Geral de Camaçari (HGC), onde passou uma semana internado. No último sábado ele teve alta e somente na manhã de hoje resolveu falar pessoalmente sobre o assunto – anteriormente as declarações dele eram dadas por telefone ou através de amigos. 

No escritório de seu advogado, Marcelo falou com o CORREIO sobre o preconceito que quase o matou. Ela tinha acabado de dar um beijo no namorado em um bar quando foi agredido por três homens que já estavam no local, um deles o policial.

“Foi covardia deles. A gente não estava fazendo demais. Era só um carinho e um deles veio já gritando ‘você não se respeita, não? Aqui tem um monte de pais de família’ e começaram a agressão. Foi a hora que caí. Depois me levantei e quando virei, o policial puxou a arma da camisa e atirou”, contou a vítima. Os três acusados se apresentaram à polícia. 

Apesar de ter conhecimento de casos de agressões ao público LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros), Marcelo disse que nunca havia sofrido um ataque homofóbico.“Nunca tinha sido vítima de uma ação homofóbica. Nunca passou pela minha cabeça que um dia pudesse acontecer comigo, porque acreditava que as pessoas estão bem mais esclarecidas de que é preciso respeitar todo mundo. Nunca andei com medo, até porque não fazia nada demais, era só carinho. Não era todo lugar que a gente se acariciava. Somos muitos reservados, principalmente em ambiente com crianças. Mas ali era um bar onde costumava frequentar, inclusive os donos e os funcionários são bastante respeitadores”, declarou. Represália O fato de o episódio envolver um policial militar fez com que Marcelo viesse a público falar sobre o assunto. O ajudante de cozinha disse que teme represália. “Até agora não fui ameaçado, mas estamos com muito medo do que ele (PM) possa fazer. Eu, meus amigos, minha família, todo mundo está apavorado pelo fato de o caso envolver um policial. Só fico trancando em casa. Minha família não quer que eu vá para lugar algum, não queria que desse nem entrevista, mas vi que é necessário falar sobre o assunto”, disse. “Meu namorado também nunca passou por isso. Ele está tão aterrorizado quanto eu”, complementou. 

Quando se deu conta, ainda hospitalizado, de que os tiros foram efetuados por um policial, Marcelo entrou em pânico. “Os primeiros dias foram de muitas dores, não passava nada na cabeça, a não ser muita dor. Só depois que veio a insegurança. Alguma vezes, tinha medo de ficar no hospital. Tinha medo de alguém invadir o hospital para me matar. Algumas pessoas me ligavam alertando para isso. Dei graças a Deus que saí de lá”, contou. 

Por conta da sensação de insegurança, ele pensa em deixar Camaçari por um tempo. “Não sei nem se vou ficar em Camaçari. Estou com muito medo. Por enquanto, aqui não dá para mim”, declarou. 

Processo  Além de Marcelo e os três responsáveis pelo ataque, entre eles o PM, a delegada Thais Siqueira, titular da 18ª Delegacia (Camaçari), só ouviu outras duas pessoas. “São funcionários do estabelecimento. Mas ela disse que outras testemunhas ainda serão interrogadas”, declarou o advogado de Marcelo, João Vinicius Queiroz. 

Queiroz também disse que o policial foi o autor dos disparos que quase matou seu cliente. “Quando se apresentou, o próprio policial confessou que atirou. Além disso, tem testemunhas e as imagens”, disse o advogado. Em um das entrevistadas dada ao CORREIO, a delegada Thais Siqueira disse que as câmeras do bar registraram toda ação com nitidez, inclusive o momento dos disparos. 

Queiroz disse que com o decorrer da ação criminal, há possiblidade de uma ação indenizatória. “Quando o processo for acolhido na área crime é que serve de subsídio para a área cível. Apesar de que o policial não estava fardado, a investigação irá apontar se arma usada era dele ou da corporação, se ele estava indo ou retornando do trabalho. Para além disso, o Estado tem o dever de guardar o cidadão de modo geral e Marcelo estava num local onde o Estado deveria protegê-lo”, declarou Queiroz.