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Guerra pela água em Correntina se arrasta desde 2015


 

Empresa ainda faz balanço de prejuízo; Pastoral critica retirada de água

  • Raquel Saraiva

Publicado em 08/11/2017 às 03:30:00
Atualizado em 17/04/2023 às 18:05:05
. Crédito: Foto: Reprodução

A invasão às fazendas Rio Claro e Curitiba, em Correntina, Extremo-Oeste baiano, tem como pano de fundo a disputa pela água do Rio Arrojado, integrante da bacia do Rio Corrente, um afluente do São Francisco. A polêmica do uso da água se arrasta, pelo menos, desde 2015, quando o Comitê da Bacia do Rio Corrente expediu uma deliberação para que não houvesse novas concessões para uso de recursos hídricos da bacia.

Em novembro do ano passado, o Ministério Público Estadual (MP-BA) recomendou que o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão ligado à Secretaria Estadual do Meio Ambiente, não concedesse essas outorgas para grandes empreendimentos na bacia.

Ainda segundo o MP, como a recomendação não foi acatada, uma ação vinha sendo elaborada pelo órgão antes das invasões.

“Já constatamos que tem empreendimentos que, com 12 bombas de captação de água ligadas por 12 minutos, reduzem o nível de água do rio em 15 centímetros”, afirma a promotora ambiental Luciana Jhoury. Segundo ela, não há informações e estudos suficientes que garantam a disponibilidade hídrica da região, bem como sua demanda para os múltiplos usos.

“Não é possível continuar com a quantidade de captação de água na bacia do Corrente hoje”, complementou.

A Secretaria estadual de Comunicação (Secom) informou, em nota, que o Inema regularizou a captação superficial no Rio Arrojado em janeiro de 2015 e que uma vistoria foi realizada na fazenda Rio Claro no dia 28 de maio deste ano, para averiguar a implantação do projeto de irrigação. “A vistoria constatou que a captação da água do Rio Arrojado para irrigação ainda não estava sendo feita”, afirmou a Secom.

Invasão e destruição A fazenda Rio Claro foi praticamente destruída na última quinta-feira (2), quando cerca de 500 pessoas, a maioria pecuaristas e agricultores, invadiram o local em protesto contra o novo sistema de irrigação da Igaraschi, produtora de batata, cenoura, feijão, tomate, alho e cebola. Segundo a empresa, a ação renderá prejuízo de pelo menos R$ 10 milhões, com a destruição de maquinários diversos da fazenda.

Os proprietários da empresa começaram a fazer o cálculo na segunda (6), dia em que também prestaram queixa do ocorrido à Polícia Civil de Correntina. O policiamento foi reforçado na região, após determinação do governador Rui Costa, através da Secretaria da Segurança Pública (SSP).

Vídeo mostra um dos momentos do ataque

Os manifestantes residem ao longo do Rio Arrojado e nos povoados de Praia, Arrogeando e São Manoel, e cujas propriedades estão situadas, boa parte delas, às margens do rio, do qual praticamente todos dependem para sobreviver. O novo projeto de irrigação na Rio Claro inclui a construção de duas piscinas de 125 metros quadrados, com profundidade de seis metros.

Segundo a Polícia Civil, os manifestantes alegam que o nível da água do rio baixa quando as bombas do sistema de irrigação das fazendas são ligadas – além da Rio Claro, a Igarashi colocou sistema de irrigação em parte de uma propriedade vizinha, a Fazenda Curitiba, também invadida.

O sistema de irrigação nas duas fazendas possui, ao todo, 32 pivôs para captação de água do Rio Arrojado, que faz parte da Bacia do Rio Corrente, composto por quinze rios, seis riachos e cinco córregos.

O sistema de irrigação nas duas fazendas possui, ao todo, 32 pivôs para captação de água do Rio Arrojado, que faz parte da bacia do Rio Corrente, composto por 15 rios, seis riachos e cinco córregos.

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Pastoral denuncia retirada da água Nesta terça, a Comissão Pastoral da Terra - regional Bahia publicou um comunicado “em defesa das águas”. De acordo com a pastoral, o Inema concedeu à Fazenda Igarashi o direito de retirar do Rio Arrojado uma vazão de 182.203 m³/dia, durante 14 horas/dia, para a irrigação de 2.539,21 hectares.

“Este volume de água retirada equivale a mais de 106 milhões de litros diários, suficientes para abastecer por dia mais de 6,6 mil cisternas domésticas de 16 mil litros na região do semiárido. Agrava-se a situação ao se considerar a crise hídrica do Rio São Francisco, quando neste momento a barragem de Sobradinho, considerada o “coração artificial” do Rio, encontra-se com o volume útil de 2,84 %.”

A pastoral complementa que “a água consumida pela população de Correntina - aproximadamente 3 milhões de litros por dia, equivale a apenas 2,8% da vazão retirada pela referida fazenda do Rio Arrojado”.

Nenhum representante dos manifestantes foi localizado para comentar as ações da última quinta-feira.

Inquérito Um inquérito foi instaurado na Polícia Civil de Correntina para investigar a invasão e destruição de equipamentos da fazenda. “Ao que tudo indica, a motivação seria ligada à política”, afirmou o delegado titular do município, Marcelo Calçado. O inquérito da investigação deve seguir para a promotoria criminal de Correntina.

“Estamos tentando identificar essas pessoas (responsáveis pelas invasões e destruição das fazendas) pelas fotos e vídeos que circulam na internet. Não há um grupo que assumiu a autoria dos atos”, disse o delegado.