Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Donaldson Gomes
Publicado em 20 de abril de 2023 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Porta de entrada para boa parte dos bens consumidos pelos baianos e para o escoamento das riquezas produzidas no estado, o Porto de Salvador vai entrar em uma nova fase no dia 1º de julho. Pela primeira vez, as duas áreas de atracação que recebem navios transoceânicos passaram a operar simultaneamente no Terminal de Contêineres (Tecon Salvador). Desde o início da concessão, em 2020, o equipamento do Grupo Wilson Sons já recebeu R$ 1 bilhão em investimentos, sendo R$ 443 milhões entre 2018 e 2020.
Com o início da operação simultânea, o Tecon deve colocar a capital baiana numa situação logística ímpar entre os portos brasileiros que movimentam contêineres. Salvador deverá ser o único porto com ociosidade, ou seja, com áreas de atracação livres para serem ocupadas – um enorme atrativo para a atração de novas operações, destacou Demir Lourenço Júnior, diretor-executivo do Tecon Salvador, ontem durante uma visita de jornalistas ao terminal portuário. Até 2050, o grupo pretende investir mais R$ 715 milhões na expansão.
Após as últimas intervenções, a capacidade de receber carga em pátio saiu de 430 mil TEUs para 553 mil TEUs (medida equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano. A previsão é de ampliar essa capacidade para 925 mil TEUs.
Segundo o diretor do Tecon, o investimento na Bahia demonstra uma crença da Wilson Sons no desenvolvimento do estado. “Todo investimento em infraestrutura precede a demanda, nós estamos colocando à disposição da economia baiana um terminal que tem mais capacidade do que a demanda atual de movimentação de cargas porque acreditamos no desenvolvimento do estado”, ressaltou Demir Lourenço. Demir Lourenço (de pé) destaca investimento como aposta na economia da Bahia Com os investimentos, o Tecon passará a contar com um cais contínuo de 800 metros de comprimento, área que é suficiente para receber simultaneamente dois navios de 380 metros, os maiores que navegam pela costa brasileira atualmente. Futuramente, a concessão ainda prevê o aterramento da área onde foi construída a nova área de atracação, o que deve acrescer ao porto 80 mil metros quadrados de área para o armazenamento e movimentação de cargas.
Demir Lourenço destacou os investimentos no Tecon como responsáveis pelo aumento de produtividade na movimentação de contêineres no porto. Em 1999, um ano antes da concessão, a média era de 7,5 contêineres por hora. Atualmente a média é de 76, com alguns picos, como aconteceu em janeiro, quando o terminal registrou um recorde de 110 contêineres movimentados por hora.
Liderança no Nordeste Em 2022, o Tecon liderou a movimentação de cargas envolvendo portos de países diferentes na região Nordeste. Foram 205 mil contêineres, contra 95 mil do Porto de Suape, que ficou na segunda colocação. De acordo com o diretor do Tecon, o objetivo é ampliar cada vez mais a movimentação de cargas entre portos brasileiros, com a navegação de cabotagem, onde outros portos nordestinos ainda se destacam em relação à Bahia. Em 2022, o Tecon Salvador conquistou um aumento de 41% nas exportações, comparado a 2021, chegando a ser responsável por movimentar mais de 50% de todo o volume de exportações do Nordeste. “Se no passado houve um problema de adequação aqui e em outros terminais de contêineres do Brasil, porque os navios cresceram mais rápido que os investimentos, hoje nós estamos numa situação totalmente diferente. Em termos de equipamentos, não devemos nada a nenhum outro terminal de contêineres no mundo”, desafia.Segundo Demir Lourenço, agora o desafio do Porto de Salvador é ter cada vez mais escala de movimentação. “A gente está entregando a infraestrutura, temos capacidade de movimentação. Acreditamos no potencial de desenvolvimento da Bahia”.
[[galeria]]
Ele ainda destacou as condições naturais da Baía de Todos os Santos como um diferencial competitivo sem igual que o estado possui para a movimentação de cargas portuárias. As águas abrigadas e profundas facilitam o acesso dos navios e demandam poucos investimentos em dragagem, uma vez que a movimentação embaixo da água é pequena, em comparação com portos localizados em mar aberto. Além disso, o acesso rodoviário através da Via Expressa garante um impacto pequeno na dinâmica urbana. “Não existe nenhum porto dentro de uma cidade brasileira que ofereça a nossa facilidade de acesso. Mesmo quando nós comparamos a situação com portos bem menores que o nosso, não existe uma relação tão pacífica e harmoniosa com a cidade como temos em Salvador”, destacou. Se por um lado, a existência do terminal dentro da cidade de Salvador causa tão pouco impacto à dinâmica urbana que chega a ser esquecida até mesmo por quem passa pela Avenida da França, por outro lado a relevância econômica da operação é inquestionável, aponta o diretor do Tecon. “Nós geramos 730 empregos diretos, cinco vezes mais indiretos e estamos no centro de todo um ecossistema que depende da movimentação portuária”, diz. “Um outro dado é que nós somos o segundo maior contribuinte de ISS (Imposto sobre Serviços) de Salvador”. Uma vantagem indireta de ter o porto dentro da cidade está na redução de custos logísticos para quem recebe ou envia as cargas, completou.
Outro destaque do Tecon, que pode passar despercebido por quem está do lado de fora, é tecnológico. O terminal foi o primeiro do Brasil a implantar guindastes elétricos para a movimentação de cargas. Hoje todos os equipamentos, além de serem elétricos, trabalham com regeneração de energia, ou seja, gastam eletricidade quando estão erguendo os contêineres, mas produzem quando estão sendo arriados e jogam a energia para a rede elétrica.