Casos de covid-19 explodem na Refinaria Landulpho Alves, na Bahia
'Se for fazer teste em todo mundo, tem 60% infectados', diz diretor de sindicato sobre cerca de 2 mil terceirizados
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Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br
Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO A primeira refinaria de petróleo do Brasil e a segunda em tamanho e produção do país pertencente à Petrobras, a Landulpho Alves (Rlam), enfrenta um surto de covid-19.
Segundo os sindicatos dos empregados e dos funcionários terceirizados – que somam mais de 2,8 mil trabalhadores – a refinaria, que fica em São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano, já registrou 224 casos da doença desde o início da pandemia, em março deste ano. Até agora, um trabalhador terceirizado é o único óbtido da estatal na Bahia vitima do novo coronavírus .
Segundo o Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindpetro), nos meses de abril e maio, somente na Rlam, havia 24 casos de empregados que testaram positivo para o novo coronavírus.
Alguns apresentaram sintomas, mas outros eram assintomáticos, o que é um grande perigo, pois indica que o nível de contaminação pode ser ainda maior.
O Sindpetro disse que a refinaria vem negando o fornecimento de informações sobre o estado de saúde dos trabalhadores.
Diante do problema, a entidade traçou um mapa dos trabalhadores contaminados com base nas informações colhidas por uma área corporativa de segurança, meio ambiente e saúde, gerência executiva da Petrobras.
"Essas unidades acabam fornecendo as informações consolidadas para órgãos competentes como o Ministério de Minas e Energia", explica o diretor da entidade sindical, Deyvid Bacelar. Segundo ele, a Rlam tem 862 funcionários concursados.
Entre os funcionários terceirizados (cerca de 2 mil), o número de contaminados chegaria a 200, segundo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil, Montagem e Manutenção Industrial de Candeias, Simões Filho, São Sebastião do Passé, São Francisco do Conde e Madre de Deus (Siticcan).“Isso é o que a gente toma conhecimento, porque as informações são negadas. Se for fazer o teste em todo mundo, tem 60% infectados. Muitos estão trabalhando porque têm medo de serem demitidos”, disse um dos diretores da entidade, Antônio Loteba Silva.O sindicato conta com pouco mais de 2 mil funcionários terceirizados que atuam na área de vigilância, limpeza, informática, manutenção elétrica e mecânica, caldeiraria, entre outros. Johny perdeu a luta contra a doença (Foto: Acervo Pessoal) E foi justamente um dos terceirizados que se tornou o primeiro óbito da estatal na Bahia vítima da covid-19. No dia 11 de abril, Johnny de Carvalho Mafort, 36 anos, não resistiu e faleceu no Hospital Aeroporto.
Johnny entrou em 2018 na Halliburton onde trabalhava como operador de serviço numa sonda de perfuração na cidade de Araçás, região agreste do estado. A empresa presta serviço para a Petrobras e outras petrolíferas, aqui no Brasil e para o exterior, na área de perfuração de poços terrestres e marítimos. Resultado positivo de um dos empregados obtido pelo CORREIO (Foto: Reprodução) Procurada, a Petrobras forneceu dados nacionais. Atualmente, a empresa tem 314 empregados próprios com confirmação para covid-19, dentre os seus mais de 45.400 empregados. Deste total, 172 são assintomáticos e foram identificados no processo de triagem, antes mesmo de entrarem nas unidades, afastando, portanto, possibilidade de contágio.
Todos são orientados, segundo a empresa, a cumprir isolamento e passam a ser monitorados pelas equipes de saúde – 990 empregados da Petrobras já estão recuperados e retornaram ao trabalho.
Em relação à não divulgação dos dados de infectados pelo coronavírus de trabalhadores na Petrobras na Bahia, a companhia informou que "reporta somente dados de empregados porque somente em relação a estes a Petrobras detém acesso a todas as informações necessárias."
"Em relação aos profissionais terceirizados, a Petrobras acompanha e fiscaliza as medidas tomadas pelas empresas contratadas, papel que vem exercendo com diligência nas medidas preventivas contra a covid-19", continua a nota.
A empresa informou ainda que "desde maio, a Petrobras está realizando testes rápidos na Refinaria Landulpho Alves (RLAM)". "Os testes são feitos entre empregados, colaboradores de empresas prestadoras de serviços e contactantes de casos suspeitos", garante.
O CORREIO procurou a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), que informou que não contabiliza casos por unidades, apenas por municípios. O CORREIO procurou a Prefeitura São Francisco do Conde e aguarda resposta.
Dimensão A Refinaria Landulpho Alves (Rlam) foi a primeira refinaria nacional de petróleo. Sua criação, em setembro de 1950, foi impulsionada pela descoberta do petróleo na Bahia e pelo sonho de uma nação independente em energia. Localizada no Recôncavo, sua operação possibilitou o desenvolvimento do primeiro complexo petroquímico planejado do país e maior complexo industrial do Hemisfério Sul, o Pólo Petroquímico de Camaçari.
Na Rlam são refinados, diariamente, 31 tipos de produtos, das mais diversas formas. Além dos conhecidos GLP, gasolina, diesel e lubrificantes, a refinaria é a única produtora nacional de food grade, uma parafina de teor alimentício utilizada para fabricação de chocolates, chicletes, entre outros, e de n-parafinas, derivado utilizado como matéria-prima na produção de detergentes biodegradáveis.
Impacto O surto pode trazer sérios impactos à economia. “Ela (refinaria) é responsável por 25% do ICMS da Bahia. É a maior empresa do Nordeste e da Bahia. O surto pode trazer consequências muito sérias, refletindo na produção dos derivados de petróleo como gasolina, gás de cozinha, diesel, óleo de combustível, oleio lubrificante, parafina e outros que vão para as indústrias petroquímicas, farmacêuticas e de alimentícias”, declarou Bacelar.
O CORREIO conversou com um dos empregados que já se recuperou da covid-19 e voltou a trabalhar na refinaria. Ele atua como operador no setor de lubrificantes. "Na minha unidade de 45 pessoas, três estiveram a doença, incluindo eu. Mas lá são muitas unidades. Muito provavelmente o número é bem maior. Antes de ficar doente, já havia outros casos lá”, disse ele, que voltou ao trabalho há um mês.
Os casos de empregados e terceirizados infectados na Petrobras não estão restritos à Rlam. Outros 16 casos foram contabilizados em unidades do estado nas cidades de Araçás, São Sebastião do Passé, Candeias, Madre de Deus, Itabuna, Salvador, Camamu e Camaçari. “Na minha unidade, quatro pessoas retornaram, inclusive eu, e um outro já foi afastado e testou positivo”, disse um empregado da termo-elétrica de Arembepe, localidade de Camaçari.Ainda de acordo com a estatal, a testagem em massa pré-embarque/pré-turno é fundamental para a triagem dos profissionais antes do início das atividades, evitando o contágio nas plataformas, refinarias, UPGNs e UTEs.
Por meio dos testes rápidos, a Petrobras diz que tem identificado pessoas sem qualquer sintoma, mas com presença de anticorpos que podem indicar vírus em estágio ativo e possibilidade de contágio.
A partir do resultado, esses colaboradores não podem acessar as áreas operacionais, são orientados a cumprir isolamento e passam a ser monitorados pelas equipes de saúde, segundo a empresa.
Os dados de monitoramento da saúde dos empregados da companhia indicam uma tendência de estabilização (sem crescimento) do número de casos, o que, também segundo a companhia, indica que as ações implantadas estão surtindo efeito.