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Interior se torna sinônimo de oportunidades


 

Crescimento de cidades menores pode ser acelerado com melhorias em infraestrutura

  • Donaldson Gomes

Publicado em 07/11/2024 às 02:00:00
Donaldson Gomes e Carlos Danilo Peres. Crédito: Reprodução

Muita coisa tem mudado nas pequenas e médias cidades da Bahia nos últimos anos. Desde que a pandemia de covid levou muita gente para longe dos grandes centros, e fez boa parte delas perceber que é possível trabalhar fora das grandes cidades, o interior foi descoberto. Mesmo após o fim da emergência sanitária, a busca por qualidade de vida segue atraindo pessoas.

Para o economista Carlos Danilo Peres, especialista em Desenvolvimento Industrial da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb) desde 2001, as explicações para o processo de interiorização se explica por uma dinamização da atividade econômica nos pequenos e médios municípios, mas também por um processo de estagnação nas regiões metropolitanas.

"O nosso interior é muito rico, temos uma grande diversidade de potenciais e de atrativos. Estamos falando de um estado que possui a dimensão de um país, com diversidade econômica, cultural e social, mas também com grande desigualdade", avaliou durante participação no programa Redescoberta do interior, parte do projeto Bahia Forte 2024.

Para Peres, há uma dinamização nas cidades do interior em níveis acima do que se verifica na Região Metropolitana de Salvador, principalmente no Oeste, onde a agroindústria vem ganhando cada vez mais força. "Tem um movimento mais acelerado no interior e um pouco de estagnação na RMS, que a gente compreende conhecendo um pouco da história", explica.

Os processos de descentralização podem ajudar a reduzir a pressão por serviços que historicamente sempre foram ofertados nos grandes centros urbanos. Em Salvador, por exemplo, estão as principais estruturas de saúde e educação do estado, além de a capital e os municípios no seu entorno ainda concentrarem grande parte das oportunidades. "Houve uma mudança econômica visível. Se você olhar, qualquer cidade, mesmo as mais pobres, possuem uma dinâmica em seu comércio e serviços", ressalta o economista.

Para ele, quando essa dinâmica é acompanhada de um fortalecimento na oferta dos serviços básicos o processo de descentralização é bastante fortalecido. Entre os serviços, ele destaca os de saúde, mas também a infraestrutura de mobilidade. Na hora em que se faz este balanço, muita gente percebe que estes serviços ainda estão bastante concentrados na RMS. "Quando as pessoas percebem que podem contar com tudo isso em cidades médias, como Vitória da Conquista, isso atrai as pessoas", diz.

“A indústria na Bahia possui uma característica de grande concentração no refino e na atividade petroquímica, até por termos aqui a descoberta do petróleo”, lembra. “Nós desenvolvemos, a partir daí uma indústria pesada, que precisava ter uma localização específica, por conta da extração do petróleo aqui, além da cadeia de refino e petroquímica”, conta.

Segundo ele, hoje já se percebe a indústria se expandindo em outras direções, principalmente com o processamento da produção do agronegócio. “Tem grandes indústrias se voltando ao processamento da nossa produção agrícola”, diz, citando o exemplo de um projeto superior a R$ 1 bilhão para a produção de etanol.

“Nós temos também as energias renováveis, que chegam ao interior, muitas vezes no semiárido, demandando uma série de serviços e gerando empregos de qualidade”, lembra ainda o economista. “A gente tem também a produção de frutas, o processamento da celulose e a mineração, que exerce um papel super importante”, complementa, analisando que a dinâmica inicial que criou a grande indústria baiana divide espaço com outras dinâmicas.

Para Danilo Peres, a produção de biocombustíveis deve se tornar cada vez mais presente nos pequenos e médios municípios, e com isso fortalecer o processo de interiorização do desenvolvimento econômico no estado.

Por outro lado, a concentração da infraestrutura no entorno da RMS é um desafio para a aceleração do processo de desenvolvimento. “O que falta para o interior melhorar ainda mais a sua dinâmica é a oferta de boas condições de infraestrutura. Veja, nós temos o Porto de Salvador, o Porto de Aratu e o principal aeroporto está aqui. Se eu disponibilizo uma estrutura como esta no interior, obviamente haverá uma dinamização”, pondera.

“Se a Bahia conseguir tirar do papel o Porto Sul e a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), eu vou criar uma nova dinâmica. Sem isso, toda vez que uma indústria intensiva de capital pensar na Bahia, ela sempre irá olhar para a RMS”, aponta. “Para crescer de verdade, precisamos pensar em dotar o interior de infraestrutura. A Bahia precisa de ferrovias, de telecomunicações, de equipamentos de saúde e educação”, diz.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Unipar, Neoenergia e Fazenda Progresso, apoio de Wilson Sons e Braskem.