Diamantes, café e vinhos: novas empresas abrem caminho para vida no interior da Bahia
Oportunidades abrem espaço para locais com mais qualidade de vida
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Donaldson Gomes
donaldson.gomes@redebahia.com.br
Antes que a produção agrícola e o turismo trouxessem de volta o brilho para Mucugê, a cidade com pouco mais de 12 mil habitantes na Chapada Diamantina viveu um longo hiato de desenvolvimento. Desde que a exploração de diamantes, na década de 1870, entrou em declínio, a cidade passou por alguns ciclos econômicos insuficientes para sustentar a população que, sem perspectivas, foi em busca de melhores alternativas em outros cantos. Hoje, o ritmo é outro. A possibilidade de vida numa cidade pequena, com clima agradável e qualidade de vida, atrai moradores. Entre os censos de 2010 e de 2022, a população local passou de pouco mais de 10 mil habitantes para 12 mil, o que representa uma alta de 15,1%.
Os mesmos censos apontam que entre os 10 municípios baianos que mais cresceram em população no período, apenas Lauro de Freitas faz parte da Região Metropolitana de Salvador (RMS). Todos os demais estão fora deste grande eixo urbano. Em comum, possuem oportunidades econômicas e a perspectiva de oferecer qualidade de vida para quem estiver disposto a trocar os grandes centros urbanos.
Quase 100 anos separam as histórias de um garimpeiro conhecido como Cazuza do Prado e o produtor rural Ivo Borré, mas as descobertas dos dois tiveram um impacto semelhante na região de Mucugê, com uma diferença: o segundo incluiu lá um modelo de produção sustentável. Quando Cazuza encontrou vestígios de pedras preciosas, atraiu para lá um contingente de pouco mais de 30 mil pessoas, de acordo com dados publicados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre a cidade baiana. Isso tudo em quatro anos.
Aproximadamente 30 anos depois, a produção de diamantes começou a minguar, levando consigo os sonhos de riqueza e afastando a população. Quando Ivo, já em 1985, chega à região, a população urbana de Mucugê era de aproximadamente 300 pessoas. O interesse em relação à terra era outro, de desenvolve-la e gerar riquezas a partir da produção, e não mais da extração. A Fazenda Progresso, um dos principais grupos empresariais da cidade, surge com a proposta de agregar valor à produção agrícola, de adensamento no uso da terra e de estruturação de cadeias produtivas a partir do agro.
Começam com batatas e outros legumes, passam à produção de frutas e dão um salto em relação ao tão famoso café da Chapada, ao investirem numa marca forte e relacionada com a origem do produto. Nasce o Latitude 13. Em seguida, dedicam-se à produção de uvas para vinhos e, do mesmo modo que aconteceu com o café, investem na criação de uma marca, a Uvva, que coloca a terra como protagonista.
“O enoturismo atraiu mais restaurantes, pousadas, pessoas passaram a investir para atender um novo público. Começa a ter uma diversificação e até uma segmentação muito interessantes”, explica Fabiano Borré, filho de Ivo. “Este movimento promove uma conexão entre as grandes, médias e pequenas empresas, na oferta de serviços”, acredita. Para ele, a Bahia tem um enorme potencial enorme neste sentido, o que pode ser notado também em outras regiões, como o Oeste e o Sul da Bahia, com o cacau, ressalta.
Hoje, a Fazenda Progresso emprega 1,2 mil trabalhadores na região e, segundo Fabiano Borré, os planos para o futuro passam por continuar desenvolvendo a terra na região da Chapada Diamantina para continuar gerando riqueza no local e para o local.
“O agro é muito importante para gerar um grande número de empregos, mas o turismo dissemina mais as riquezas, faz com que o restaurante da cidade e as pousadas melhorem, gera um impacto maior para além das porteiras. O que nós queremos é contribuir em todas estas frentes”, avisa.
Vocação local
Em Jacobina, a pouco menos de 350 km de Mucugê, é a mineração a principal responsável pela geração de riquezas no município com 82 mil habitantes, que responde por 0,53% do PIB baiano. Antonio Marcos Mendonça, gerente geral da Jacobina Mineração Pan American Silver, explica que a atividade mineral contribui tanto diretamente para o desenvolvimento regional, quanto indiretamente. Somente com a folha de pagamentos e a aquisição de produtos e serviços locais, a empresa injeta na economia da região R$ 70 milhões por ano.
“Nós temos a consciência de que é um dos nossos papéis o fortalecimento dos fornecedores locais”, explica. Hoje mais de 500 empresas baianas fazem parte do portfólio da Jacobina Mineração, sendo que 400 delas são do próprio município, ou de outros, adjacentes. “Quando nós preparamos as empresas locais para nos atenderem, deixamos elas aptas, na realidade, para atender a qualquer grande fornecedor no país”, completa.
Hoje, 94% da força de trabalho da empresa é jacobinense e o número salta para 97% em relação ao número de trabalhadores baianos. “Estamos falando de 300 milhões por ano em pagamentos de salários, que fortalecem a economia local”, destaca. “Quando a mineração está em evidência, ela arrasta outros projetos. Quando esteve parada, muita gente saiu para buscar outras oportunidades”, lembra.
O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Unipar, Neoenergia e Fazenda Progresso, apoio de Wilson Sons e Braskem.