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Regiões metropolitanas de Salvador e Feira respondem por quase metade da economia baiana


 

Regiões são fruto de um planejamento para o desenvolver a região

  • Donaldson Gomes

Publicado em 31/10/2024 às 08:00:43
Regiões metropolitanas de Salvador e Feira respondem por quase metade da economia baiana. Crédito: Tiago Lima/COFIC

Em meados do Século XX, o cacau, produzido na região Sul da Bahia, no entorno de Ilhéus, era tão relevante economicamente para o estado que chegava a trazer preocupações. O que aconteceria com a nossa economia se a cultura quebrasse – algo que aconteceria na década de 1990 – era uma pergunta bastante recorrente.

O caminho para fugir do que chegou a ser chamado de o enigma baiano era trabalhar pela industrialização do estado – o que de fato acabou acontecendo, mas também de forma bastante concentrada na Região Metropolitana de Salvador (RMS). A Bahia trocou a produção agrícola no Sul pela indústria no entorno da capital.

Entre os anos de 1999 e 2005, a política de incentivos fiscais do estado resultaram em R$ 30,7 bilhões em investimentos no setor industrial, 80% deles direcionados para a implantação de novos empreendimentos, e 20%, destinados à reativação de indústrias já existentes, de acordo com um estudo publicado pelo economista Gustavo Pessoti.

O historiador Rafael Dantas explica que a concentração do desenvolvimento em Salvador e no seu entorno é fruto de uma política de estado e acontece graças ao planejamento estabelecido na segunda metade do Século XX. Ele lembra que a indústria baiana começou a se desenvolver de forma mais significativa entre o final do Século XIX e o início do Século XX, especialmente no Subúrbio Ferroviário e em áreas adjacentes.

“Antes disso, a indústria era algo ligado ao mundo agrário, eram os engenhos, era o açúcar, era a cana, eram os derivados desses produtos. Somente a partir da segunda metade do Século XIX temos o processo industrial mecanizado, temos a criação de uma ferrovia, a Bahia And San Francisco Railway, além de outros elementos que davam suporte a esse caminho de modernização do viés econômico do nosso estado”, conta Dantas.

Com a descoberta do petróleo e a instalação de unidades para o processamento do óleo, o processo de adensamento da indústria na RMS foi se adensando ainda mais. Além disso, planos para a industrialização da região ganham força. “Houve um processo de pensar Salvador nesse caminho industrial e econômico que, além da cidade em si, abrangeu também os municípios ao redor”, explica o historiador.

A interiorização do desenvolvimento pode se dar por duas razões, explica Danilo Peres, economista da gerência de estudos técnicos da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB). Numa delas, o interior tem uma dinâmica própria, que supera a dos centros tradicionais. No outro caso, a metrópole passa por uma situação de estagnação, ou queda. Para ele, a interiorização do desenvolvimento na Bahia se dá um pouco por cada uma das razões.

“Quando nós olhamos para os dados dos censos de 2010 e de 2022, fica evidente que existe um movimento populacional para cidades fora da RMS. Se está havendo aumento populacional, é porque está crescendo. As pessoas buscam lugares onde acreditam que podem ter melhores oportunidades”, avalia. Para ele, esta é a explicação para movimentos de altas populacionais no Oeste, Norte, na região de Feira de Santana e no Sudoeste do estado.

Com uma dinâmica muito ligada ao agronegócio, Danilo Peres explica que a indústria no interior está bastante voltada ao processamento da produção agrícola, principalmente no Oeste, no Norte e no Extremo Sul, com a produção de celulose. Ele destaca ainda produção mineral e a geração de energia renovável.

O economista ressalta a necessidade de investimentos na melhoria da infraestrutura para intensificar o processo de descentralização do desenvolvimento, além de ampliar cada vez mais o acesso a água e energia.

Ernesto Carvalho, historiador e doutor em urbanismo, explica que Salvador e o seu entorno se tornaram uma metrópole a partir de um processo de planejamento. “A metropolização inclusive não aconteceu apenas em Salvador. Havia um entendimento de que as principais capitais poderiam gerar influência em cidades vizinhas e poderiam direcionar o desenvolvimento da região”, conta.

“Este desenvolvimento foi um processo combinado”, diz Carvalho, lembrando que aproveitaram-se condições favoráveis para isso, como a existência do Centro Industrial de Aratu (CIA), conectado ao porto de mesmo nome, o que facilitava o embarque de produtos e o desembarque de matérias-primas com facilidade. Mas não apenas a industrialização da RMS, como o crescimento da capital também, a partir do plano de avenidas, entre outros aspectos.

“A gente herda uma malha ferroviária, implantada a partir de 1860 e que atendia a esta região. Mata de São João enviava carne para Salvador de trem”, exemplifica. “Houve um pacto para a metropolização da capital”, diz.

Para Ernesto Carvalho, o plano para desenvolver a RMS a partir da industrialização era bom e foi bem sucedido. O que falta agora, acrescenta, é um planejamento para desenvolver o interior do estado, utilizando para isso as suas vocações. “A Bahia é um dos maiores polos de geração de riqueza a partir da fonte eólica, mas o estado não está enriquecendo com isso. Não consegue fazer do sol e do vento o novo petróleo da economia baiana”, pondera.

Ele acredita que o planejamento para o interior precisa responder a três grandes questões: a modernização da infraestrutura de transportes; a divulgação dos potenciais de cada região; além da econômica, que passa por criar atrativos para investimentos.

O Projeto Bahia Forte é uma realização do Jornal Correio com patrocínio da Unipar, Neoenergia e Fazenda Progresso, apoio de Wilson Sons e Braskem.