'Quero deixar ela orgulhosa', diz filho de Gal sobre fundação em homenagem à cantora
Herdeiro falou sobre a pressão que sofre, a necessidade de deixar a "bolha" em que vivia e reaproximação com a família
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Carolina Cerqueira
ana.cerqueira@redebahia.com.br
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Fernanda Santana
fernanda.lima@redebahia.com.br
De uma hora para outra, Gabriel Penna Burgos Costa, 18 anos, se viu em uma posição que nunca imaginou. "É muita pressão, é algo novo para mim. Sempre evitamos a exposição", conta o único filho de Gal Costa, sobre a necessidade de ter que expor os detalhes das brigas judiciais que envolvem o patrimônio da artista.
Em meio aos imbróglios jurídicos, Gabriel tomou uma decisão pensando no legado da mãe: criar uma fundação cultural em homenagem a Gal, que morreu em novembro de 2022, aos 77 anos.
"Quando saí da bolha em que estava desde a morte da minha mãe, decidi tomar conta das coisas dela para deixar ela orgulhosa e fazer com que a imagem dela siga sendo espalhada pelo mundo", conta o jovem, que se define como "reservado, tranquilo e quieto".
A criação de um instituto que formasse músicos e promovesse festivais era um plano antigo de Gal. Em 1997, ela elaborou um testamento em que destinava seu patrimônio à Fundação Gal Costa de Incentivo à Música e Cultura, mas o documento foi revogado por ela mesma em 2019.
Foi só em janeiro deste ano, no entanto, que Gabriel soube dos antigos planos da mãe, por intermédio de Luci Vieira Nunes, amiga de Gal e hoje advogada dele ao lado de Mariana Athayde.
Ele decidiu fazer valer o que previa o documento, se comprometendo a criar a fundação com parte do patrimônio que receberá após o inventário e futuras parcerias público-privadas.
“Puxa! Eu quero isso! Eu vou fazer isso pela minha mãe!”, disse ele, ao saber do desejo de Gal. O jovem, então, assinou um acordo extrajudicial com duas primas de sua mãe, Verônica Silva e Priscila de Magalhães.
Em março deste ano, elas entraram na Justiça com um pedido de revalidação do testamento para que a fundação fosse criada.
O acordo entre os familiares foi firmado no dia 1º de abril e acessado com exclusividade pelo CORREIO. "O que me motiva é minha mãe, a felicidade que isso daria a ela e o orgulho que ela poderia ter de mim ao realizar esse seu desejo", conta Gabriel.
Desde o início do ano, ele está envolvido em uma briga judicial com Wilma Petrillo, ex-empresária e viúva da cantora, que alega na Justiça que teve uma união estável com Gal. "Não estou brigando por dinheiro, mas pelo respeito que a minha mãe merece', diz o herdeiro".
Na entrevista exclusiva a seguir, por e-mail, o filho de Gal compartilha os planos para a fundação, lamenta a exposição da sua privacidade e revela o processo de redescobertas com a família. "Família para mim, nos últimos anos, era mais a minha mãe. Além dela, o meu tio Guto Burgos e meu padrinho Márcio Mothe e os amigos que agora puderam se aproximar de mim" . Confira:
O que te motiva a arcar com o compromisso de criar a fundação?
Minha mãe, a felicidade que isso daria a ela e o orgulho que ela poderia ter de mim ao realizar esse seu desejo.
Qual foi a sua reação ao saber do desejo de Gal sobre a fundação?
Isso não me causou surpresa, essa atitude de minha mãe em querer ajudar os menos favorecidos. Era o jeito dela, sempre agia com compaixão. Criar uma fundação é uma coisa grande, que requer muito trabalho e esforço.
Como surge a sua iniciativa de assumir o compromisso?
Quando saí da bolha em que estava desde a morte da minha mãe, decidi tomar conta das coisas dela para deixar ela orgulhosa e fazer com que a imagem dela siga sendo espalhada pelo Brasil e pelo mundo. Para fazer a arte dela alcançar mais gente.
Gal mencionava algo sobre suas vontades depois que morresse?
Nunca comentou muito sobre isso comigo. Ela não entrava em detalhes sobre as coisas que tinha, seu patrimônio. Mas sempre me passou a tranquilidade de que eu era o seu único herdeiro.
Como você soube da existência do testamento que fala sobre a criação da fundação?
Pela minha advogada, Luci Vieira Nunes.
Gal, segundo o testamento, queria que a fundação fosse na Bahia. O acordo, no entanto, deixa você livre quanto à escolha do local. Onde será a fundação?
Isso ainda não está decidido, vai depender das possibilidades que surgirem.
Pretende gerir a fundação sozinho?
Isso tudo ainda está muito incipiente, e vamos decidir com calma. A fundação existe como projeto de minha mãe e, dentro das possibilidades financeiras, após o inventário acabar, vou buscar investimentos públicos ou da iniciativa privada. Acho que muitos apoiarão.
O acordo firmado ajuda no andamento do inventário?
O importante para mim é o desejo de minha mãe, o legado de minha mãe, a divulgação de sua arte. Não é uma decisão ligada ao processo.
Como foi a sua conversa com as primas de Gal?
Foi um reencontro muito emocionante e também de tranquilidade por esse momento de reencontro com a família. Nós pudemos juntos extravasar nossas emoções, as saudades da minha mãe. Não falava com elas fazia algum tempo.
Há quanto tempo você não via ou não tinha contato com Verônica e Priscila?
Acho que uns 4 anos.
As duas mencionaram que tentaram procurá-lo após a morte de Gal, mas não conseguiram seu contato. Você, em algum momento, soube das tentativas?
Nunca soube. Wilma barrava toda a família de minha mãe, assim como amigos. Infelizmente, só entendi isso depois da morte da minha mãe.
[Em resposta à acusação de Gabriel de que “barrava toda a família”, a defesa de Wilma Petrillo afirmou que ela “jamais barrou quem quer que fosse, jamais teve esse interesse ou poder” e que “Gal decidia por ela própria com quem conviver”. A nota diz ainda que Wilma está preocupada com Gabriel e deseja que ele volte para casa.]
Qual contato você tinha com Verônica e Priscila?
Convivi mais quando era pequeno, uma coisa de muito carinho. Eu me divertia muito com elas, a gente ria, contava piada. Essas são as minhas memórias.
Esse acordo te aproxima de Salvador?
Eu espero que sim. Desde que fui para São Paulo, aos seis anos, tive pouco contato com a cidade.
Esse acordo te reaproxima da família?
Com certeza.
Quem você enxerga como a família hoje?
Família para mim, nos últimos anos, era mais a minha mãe mesmo. Além dela, a família pra mim era o meu tio [Guto Burgos, irmão de Gal], o meu padrinho Márcio Mothe e os amigos que agora puderam se aproximar de mim e me dar apoio nessa situação ruim que estou passando.
E, sem a minha mãe, acho natural recriar vínculos com eles e minhas primas. Acho que a minha mãe ficaria feliz com isso.
Você sempre teve noção da grandiosidade de sua mãe?
Por um tempo, não. Quando era menor, eu a via mais como mãe, não como a artista Gal Costa.
Sua vida pessoal, por desejo de sua mãe, sempre foi reservada. Ela própria não dava detalhes sobre o que passava com ela. Como é, agora, se ver nessa posição de dar entrevistas e explicações sobre a sua vida?
Muito complicado e muito pesado. É muita pressão. É algo novo para mim. Eu sempre fui muito reservado, na minha. Tranquilo, quieto, parecido com minha mãe. Sempre evitamos a exposição de nossa privacidade. E quando minha mãe estava viva, o foco era sempre ela.
Você está preocupado com a sua imagem, agora que deixou o anonimato?
Acho normal que eu tenha essa preocupação agora, mas sei que vou voltar ao anonimato passada essa situação atual. Não gosto que me julguem sem saber quem sou de verdade. E quem me conhece sabe que não estou brigando por dinheiro, mas pelo respeito que a minha mãe merece.