Professores da primeira escola técnica de música da América Latina denunciam despejo do Canela
Após 32 anos de história, Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes pode dividir espaço com o Colégio Central
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Carolina Cerqueira
ana.cerqueira@redebahia.com.br
Depois de 32 anos funcionando no número 30 da Avenida Araújo Pinho, no Canela, o Colégio Estadual Deputado Manoel Novaes vai mudar de lugar. É o que afirmam os professores da instituição, que elaboraram e colocaram em circulação um abaixo-assinado contra a decisão. Na terça-feira (26), às 11h, a sessão da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) discutirá o assunto.
Segundo informações passadas ao CORREIO, ao realizarem a renovação de matrícula, os cerca de 600 alunos estão sendo comunicados que a escola passará a dividir espaço com o Colégio Central da Bahia, que fica em Nazaré. Os professores afirmam terem sido informados sobre a mudança há cerca de dois meses, após a troca de diretoria, assumida atualmente por Caetano Cupolo.
Além do Nível Médio, a instituição também oferece um curso público técnico em instrumento musical, que foi o primeiro a nível médio da América Latina, segundo a Secretaria Estadual de Educação. Sérgio Teixeira, de 68 anos, é professor do curso há 26 anos e é contra a mudança. Para ele, há raízes criadas com a comunidade do entorno e uma localização estratégica no que chama de “quadrilátero das artes”.
O Manoel Novaes fica em frente à Escola de Teatro da Ufba e a 500 metros da Escola de Música da Ufba para um lado e do Teatro Castro Alves para o outro. Ainda há nas proximidades a Escola de Belas Artes da Ufba, o Teatro Vila Velha e o Teatro Gamboa.
“Nossos estudantes são convidados para as apresentações artísticas que acontecem nesses locais. São 32 anos de história e vínculo. Temos uma forte relação com a Escola de Música da Ufba, principalmente, porque muitos de nossos alunos terminam o ensino técnico aqui e vão para a graduação lá”, explica o professor Sérgio.
Ele acrescenta que a instituição tem uma estrutura pensada para o curso de música que o Colégio Central não tem. “Temos sala de evento, auditório, salas para as aulas de instrumento, toda uma distribuição espacial específica. Estão dispostos a investir em um espaço com essas mesmas condições ou seremos colocados em qualquer lugar para termos uma extinção datada? A história do Manoel Novaes merece respeito”, completa o docente.
A professora de Geografia Geciene Nunes, de 61 anos, compartilha da mesma preocupação de Sérgio. Ela ensina há cerca de 30 anos no Manoel Novaes, afirma que a instituição já chegou a ter três mil alunos matriculados e, atualmente, tem cerca de 600. “Para mim, estão deixando a escola acabar no silêncio, ela está sendo esvaziada. Uma escola não pode ser fechada, tem que ser revitalizada”, defende.
“O Colégio Central é outra escola, é outro território. O meu coração está aqui. Eu não quero que aconteça o mesmo que aconteceu com o [Colégio Estadual] Odorico Tavares, que foi fechado porque incomodava, porque a elite não queria a plebe misturada. O que estamos fazendo com os nossos colégios?”, manifesta Geciene.
Por que vai mudar de lugar?
Os professores contam que foram informados que o motivo da mudança é a origem do terreno ocupado pelo colégio. O espaço pertenceria à Universidade Federal da Bahia. Desde 2005, o terreno seria disputado com a Escola de Nutrição da Ufba, que fica ao lado. Agora, a disputa seria com o Hospital Universitário Professor Edgar Santos (Hospital das Clínicas da Ufba), que fica na rua atrás do Colégio Manoel Novaes.
A Ufba foi procurada pelo CORREIO e questionada sobre a origem do terreno e a intenção de incorporá-lo ao Hospital das Clínicas. A assessoria respondeu: “Não temos conhecimento do assunto”. A assessoria do Hospital das Clínicas, que é gerido pela Ufba e pela empresa Ebserh, respondeu que também não tem conhecimento sobre o assunto e que seguiria o posicionamento da Ufba.
A Secretaria de Educação da Bahia também foi procurada por e-mail e telefone e não se posicionou até a publicação desta matéria. O diretor do colégio não atendeu às ligações e não estava presente quando o CORREIO visitou a instituição.