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O que é o devocional, subgênero dos livros religiosos que foi parar em reality da Netflix


 

O livro mais vendido do Brasil em 2024, Café com Deus Pai, é um dos principais exemplos do tipo

  • Thais Borges

Publicado em 28/07/2024 às 05:00:00
Café com Deus ai 2024. Crédito: Divulgação

Livro mais vendido do Brasil em 2024, o Café com Deus Pai faz parte de um subgênero dentro do segmento de livros religiosos, de acordo com Renato Fleischner, do Snel. Trata-se do devocional, um livro que incentiva a pessoa a ler determinado trecho da Bíblia. Essa leitura traz uma aplicação ou reflexão para o cotidiano da pessoa.

"Esse tipo de publicação é muito comum há muitos anos. Tem livros com mais de 60 anos de publicação que estão dentro dessa linha. Várias editoras publicam. O mérito do Café com Deus Pai foi que ele trouxe isso para outro patamar. Os números que ele alcançou são muito fora de qualquer segmento".

Um dos grandes sucessos do subgênero é o Pão Diário, atualmente em seu 27º volume. Além da versão clássica, a marca tem títulos específicos para mulheres, para universitários e até para profissionais de segurança pública. No entanto, ainda que seja tradicional, nada se compara ao alcance que o Café com Deus Pai atingiu.

Explicar o fenômeno não é algo fácil, segundo o representante do Snel. Um dos pontos que não deve ser desprezado, porém, é o trabalho de divulgação nas redes sociais. Além disso, quem compra diretamente com o autor - ou com a editora Véloz, fundada por ele - pode adquirir produtos relacionados, como caneca e versões ‘teen’ (para adolescentes) e ‘kids’ (para crianças).

"Ele conseguiu aquilo que todo editor busca, que é o buzz, o boca a boca. Na hora que acontece, é imprevisível, mas o produto se torna desejado. O livro sai do nicho religioso e avança para outros tipos de público", comenta. Isso não é algo frequente, mas Fleischner lembra de outros títulos que passaram por movimentos semelhantes. Esse foi o caso do livro As Cinco Linguagens do Amor (de Gary Chapman), que já vendeu dois milhões de exemplares apenas no Brasil e inspirou até postagem da Caixa Econômica Federal no último Dia dos Namorados.

Para a professora Suelma Moraes, da UFPB, a popularidade do livro tem a ver com aspectos como a relevância universal, que atrai leitores de fora do nicho; e a linguagem inclusiva - ou seja, sem ser técnica ou doutrinária. Além disso, testemunhos pessoais ajudam. "(São) Recomendações boca a boca, resenhas positivas e testemunhos de leitores que encontraram valor no livro e com isso impulsionaram sua popularidade. E, claro, tem um bom Marketing de destaque em livrarias, mídias sociais e eventos", acrescenta.

A empreendedora Bella Amarante, 30, faz o Café com Deus Pai desde abril, depois que ganhou o livro de presente do marido. É a primeira vez que ela faz um livro do tipo devocional, depois de ter descoberto nas redes sociais. "O diferencial é de você tomar o café com Deus. É aquele primeiro momento, quando você acorda, e sua obrigação no seu dia é o café da manhã com Deus. Depois, você vai conseguir resolver sua vida já com aquela palavra lançada no seu coração", opina ela, que é evangélica.

Mercado

O autor de Café com Deus Pai, Junior Rostirola, é pastor da Igreja Reviver, em Itajaí (SC). O primeiro livro foi lançado em 2021, com o subtítulo de Porções Diárias de Fé. Em 2022, foi a vez das Porções de Esperança e, no ano seguinte, das Porções de Renovação.

Rostirola já disse que seu intuito foi ir além dos leitores das igrejas evangélicas. "Este livro, em especial, eu vi que precisava entregar na mão do leitor algo que não falasse de religião, que não falasse de placas de igreja, que abrangesse todo o público, entende? Levando mesmo essa pessoa a ter um relacionamento com Deus Pai", contou, em entrevista à editora Vide Verso, em outubro.

Oficialmente, o segmento de livros religiosos representa 16% do mercado editorial brasileiro. A realidade, porém, pode ser muito maior - e por conta de uma particularidade específica do segmento de religião. "Os números que existem sobre livros no mercado são apurados por instituições muito competentes, mas no caso do religioso, na nossa experiência (da Mundo Cristão), apenas 40% das vendas são feitas por pontos de vendas não religiosos", diz, referindo-se às livrarias e sites tradicionais, que são computados.

Livrarias e lojas cristãs, por outro lado, não são contabilizadas por essas estatísticas. "Isso significa que os números que você vê, que são impressionantes, são apenas uma fração da realidade. Esse é um mercado em ascensão e acreditamos que, quando os números deste ano forem apurados, será ainda maior (do que os 16%). Esse setor não tem sofrido tanto quanto outros segmentos de mercado, como os didáticos e as obras gerais", acrescenta.