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'Nenhuma criança deve ficar exposta a telas antes de dois anos', diz pediatra


 

Sociedade Brasileira de Pediatria participa do grupo de trabalho que debate o guia para uso de telas, que será lançado pelo governo federal

  • Thais Borges

Publicado em 03/08/2024 às 11:00:00
Governo lançará guia sobre uso de telas por crianças e adolescentes. Crédito: Shutterstock

Desde 2016, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tem promovido essa discussão entre famílias e pediatras. Por isso, um documento publicado em 2019 com orientações por idade para o uso de telas é, até hoje, uma das páginas mais acessadas do site da entidade, segundo a médica pediatra Evelyn Eisenstein, que faz parte do Grupo de Trabalho sobre Saúde Digital da SBP e também integra o GT do governo federal.

Em outubro, o governo federal pretende lançar o Guia para Uso Consciente de Telas por Crianças e Adolescentes. O documento está sendo preparado por um Grupo de Trabalho (GT) com integrantes sete ministérios e 19 representantes da sociedade civil, da academia e de entidades com atuação reconhecida na área. Entre os participantes, está a SBP.

"Existe todo esse esforço primeiro porque o mundo inteiro está regulando (o uso de telas). Segundo porque existem riscos mais frequentes quanto aos problemas do mundo digital", diz ela, citando questões de saúde que vão desde transtornos do sono, irritabilidade e isolamento até riscos de morte com desafios perigosos online, incentivados por alguns influenciadores. Há, ainda, transtornos conhecidos de visão e audição, além de problemas no desenvolvimento da fala e do processo de aprendizagem.

No documento de 2019, que deve servir como uma das bases para o guia federal, há indicações como evitar a exposição a crianças menores de dois anos até de forma passiva e limitar o tempo de telas para apenas uma hora por dia para crianças com idades entre 2 e 5 anos. Para todas as idades, inclusive adolescentes, a SBP recomenda que telas não sejam usadas durante as refeições e sejam desconectadas entre uma e duas horas antes de dormir. Esse documento deve ser atualizado em um novo manual a ser lançado este mês, no congresso da entidade.

"Somos muito assertivos com esses critérios etários. Nenhuma criança tem que ficar exposta a conteúdo de telas por tempo nenhum antes de dois anos porque prejudica a fala e a compreensão da fala. A criança não entende a diferença da Galinha Pintadinha e da galinha ciscando no quintal", explica a médica, citando a importância dos primeiros mil dias de vida para o desenvolvimento cerebral.

O guia não deve ser o fim da discussão. Pelo contrário: os planos, segundo o diretor do Departamento de Direitos na Rede e Educação Midiática da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), Fábio Meirelles, são para que ele se desdobre em outros documentos de orientação para grupos específicos. "O guia vem como uma novidade, apresentando a discussão e as questões sobre o uso de telas. Ele é um intermediário e, a partir dele, vamos tentar falar diretamente com familiares, educadores, profissionais do sistema de saúde e de justiça, por exemplo", completa.