'Minhas filhas ficaram apavoradas', conta idosa que decidiu se mudar para um abrigo
Mesmo com condições físicas, mentais e financeiras, Inês quis fugir da solidão, mas manter sua individualidade
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Carolina Cerqueira
ana.cerqueira@redebahia.com.br
“Eu reuni as minhas três filhas e contei a minha decisão. Elas ficaram apavoradas, acharam um absurdo e não queriam deixar. Eu tive que bater o martelo e ser firme”, conta Inês Marques de Britto, de 85 anos.
Ela morava sozinha em um apartamento após ficar viúva e se mudou para o Lar Franciscano Santa Isabel, que fica no bairro da Saúde, em Salvador, há dois anos.
Inês tem condições físicas, mentais e financeiras de morar só, mas apenas não estava feliz com a vida que levava.
“As minhas filhas me chamaram para morar com elas, mas eu não quis e não quero. Elas têm os maridos e os filhos, e eu queria ter a minha vida e a minha independência, ao mesmo tempo que não queria viver a solidão do meu apartamento”, explica.
Com o tempo, as filhas de Inês aceitaram a decisão. “Elas vieram conhecer e gostaram, me ajudaram a escolher o quarto e a planejar como eu iria arrumá-lo”, diz Inês.
Aos finais de semana, ela costuma sair com as filhas, assim como receber visitas, mas é preciso marcar horário.
“Durante as tardes, eu frequento a Faculdade da Maturidade, onde tenho aulas de dança de salão, zumba, cidadania, etc. E aqui no Lar também acontecem diversas atividades; toda hora tem um aniversário, festival de tortas, desfile. Sempre que uma das minhas filhas quer vir me visitar, eu tenho que consultar a minha agenda”, conta, aos risos.
Como num ritual de passagem para uma outra fase, Inês vendeu o apartamento, doou os móveis que não caberiam no seu quarto no Lar e também queimou as lembranças que guardava do ex-marido já falecido.
Levou consigo o que achou que faria sentido na nova vida, incluindo sua coleção de cerca de 300 xícaras, a qual expõe em seu quarto com carinho e cuidado.
“Aqui eu sou feliz, no antigo apartamento eu não era. Eu tenho certeza de que tomei a decisão certa”, diz.
Sua certeza se dá apesar de opiniões alheias. Além de precisar convencer as filhas a aceitarem sua decisão no início, também tem que lidar até hoje com o julgamento de terceiros.
“Quando eu contei para uma amiga minha, por telefone, eu estava toda empolgada e ela achou um absurdo, disse que eu estava louca. Eu fingi que não me importei e, quando terminou a ligação, chorei muito”, finaliza Inês, pesarosa.
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